Rapaz supera as drogas, ‘foge’ de clínica e pede ajuda para rever a mãe
Voluntária conta que são frequentes pedidos de moradores de rua para contato com família

Rapaz supera as drogas, ‘foge’ de clínica e pede ajuda para rever a mãe

Em Ribeirão Preto, ele queria ajuda para reencontrar a família, em Belo Horizonte

O mineiro Bruno Souza estava internado há seis meses em uma clínica de reabilitação de dependentes químicos, em Cajuru. Após o encerramento da primeira etapa da recuperação, o desejo de rever a mãe em Belo Horizonte era grande, o que o obrigou fugir da clínica em direção a Ribeirão Preto para pedir ajuda para voltar para casa.

Ele caminhou até Santa Cruz da Esperança, no último sábado, 16, e lá conseguiu dinheiro para pagar a passagem de ônibus até Ribeirão Preto, onde pediria ajuda para voltar para casa. No domingo, 17, enquanto estava na Praça Francisco Schmidt, ao lado da Rodoviária, se deparou com um grupo de voluntários que distribuía comida, e os escolheu como emissários para ajudá-lo a voltar para casa.

A voluntária do projeto Simplesmente Amor, Renata Roque, foi surpreendida com o chamado de Bruno. “Não sabíamos o que fazer, mas ele dizia que queria ir mesmo embora, para não voltar a ter contato com as drogas”, conta a voluntária, que conseguiu conversar com a mãe do rapaz, que estava aflita com o sumiço do filho, pelo telefone.

Renata conta que o alívio da mãe de Bruno foi instantâneo com a chegada da informação de que ele estava bem. No dia seguinte, segunda-feira, 18, a irmã do rapaz, a dona de casa Luciana Souza, desembarcou em Ribeirão Preto para o reencontro com Bruno.

“Ficamos muito preocupados, e a felicidade foi muito grande em ter recebido a notícia. Agora ele está em casa e está tudo tranquilo, porque eles nos ajudaram bastante”, conta Luciana, já em casa com a companhia do irmão. Na mesma noite, Bruno e a irmã entraram novamente no ônibus, com direção a Belo Horizonte para começar a nova relação em família.

“Foi incrível essa experiência. Puxa vida, fizemos a diferença na vida de alguém”, reflete Renata após a experiência. Ela conta que a partir da abordagem de Bruno, sentiu que tinha de ajudá-lo, com o receio de que ele pudesse ter alguma recaída. Ela ainda conta que no projeto é frequente o pedido para que possam entrar em contato com familiares. “Sempre alguém indica algum comércio perto de casa ou vizinho conhecido para pedir para avisar para família que estão bem”, conta Renata, surpresa com o pedido de ajuda.

Reinserção social

O professor e coordenador do Observatório de Violência e Práticas Exemplares da USP, Sérgio Kodato, acredita que a atitudes como essa vindas de dependentes químicos significa que é um reencontro com a realidade e uma vontade para enfrentá-la, o que demonstra que a cura da dependência está próxima, senão concluída.

“Ele não coloca mais a droga no centro de importância para ele, e sim a família. Ele pede ajuda, e essa é a atitude alguém que quer se recuperar e procurar os vínculos afetivos. Esses pedidos devem ser prioritários”, explica o professor, que aponta que os passos seguintes são a reinserção na sociedade e a entrada no mercado de trabalho, para que o dependente possa se sentir útil.


Foto: Arquivo Pessoal

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