Ribeirão Preto tem ato contra cultura do estupro e machismo
Ribeirão Preto tem ato contra cultura do estupro e machismo

Ribeirão Preto tem ato contra cultura do estupro e machismo

Mais de mil pessoas pretendem participar de manifestação no próximo dia 11 de junho

Enquanto manifestantes favoráveis à discussão da política de drogas do Brasil na Marcha da Maconha se preparavam para ganhar as ruas de Ribeirão Preto, no último sábado, 28, um homem, com aproximadamente 70 anos se aproximou de um rapaz que acompanhava o movimento para chamar a atenção sobre as roupas de algumas mulheres presentes no local.

“Filho, olha só para como essas meninas estão vestidas. Na bíblia diz que a mulher tem que usar vestidos abaixo dos joelhos. Com essas roupas que elas estão, deixa qualquer homem ouriçado”, disse o idoso com relação a um grupo de meninas que se vestiam com bermudas acima dos joelhos.

Para combater essa “culpalização” das mulheres e discutir o machismo e a cultura do estupro no Brasil, acontecerá uma manifestação em Ribeirão Preto no próximo dia 11 de junho, na esplanada do Theatro Pedro II. Mais de mil pessoas já confirmaram presença. A iniciativa partiu de um grupo de estudantes após o estupro coletivo que uma adolescente sofreu no Rio de Janeiro na última semana.

A estudante de pedagogia Maria Rita Mattos, uma das responsáveis por convocar as pessoas para a manifestação, aponta que a situação que chocou o País é apenas um entre diversos abusos que as mulheres sofrem diariamente, porém, serviu para se jogar uma luz sobre o tema, em razão da indignação que gerou.

Para ela, é preciso extinguir a aceitação da violência sexual contra a mulher, fazendo com que a sociedade deixe de ver isso como “normal”.

“Foi uma brutalidade uma garota contra 33 homens. Isso torna difícil tratar o estuprador como o ‘doente’. Afinal, 33 doentes no mesmo lugar e na mesma hora é possível?”, questiona Maria Rita, que acredita que com a difusão da causa das mulheres tornou-se possível que fosse percebida a importância deste movimento e da discussão.

“O caso todo é tão cruel que só gente realmente maldosa pra defender os agressores”, completa a estudante. Para ela, há muito a ser percorrido, já que ainda são notados poucos registros do crime em fontes oficiais.

Nas estatísticas mensais de boletins de ocorrência da Secretaria Estadual de Segurança Pública (SSP) de São Paulo, neste ano foram registrados 27 casos de algum tipo de abuso sexual em Ribeirão Preto, sendo quatro em abril, quantidade pequena de acordo com Maria Rita.

“Tem que se pensar no tanto que nossas delegacias estão despreparadas pra receber casos, e por isso inibem muitas vítimas, fazendo com que nem cheguem a se manifestar. Além disso, tem de se pensar naquelas que são violentadas por familiares e não conseguem falar”, aponta a estudante.

“Estupros acontecem em qualquer lugar, com qualquer mulher, e nem sempre ela vai ter essa condição de denunciar”, observa a estudante, que se diz cansada de debater o assunto com pessoas que acreditam nessa normalidade e que colocam a culpa nas vítimas. Para ela, a luta não é só das mulheres e de toda a sociedade, e por isso é importante os homens tomarem consciência da situação.

“Eu já debati muito tentando desconstruir essas ideias. Hoje em dia, depois de me desgastar, me rodeei de pessoas que são minimamente capazes de ter empatia com a vida do outro e têm total ciência de que a culpa jamais é da vítima e que não se brinca com a vida dessas pessoas”, reflete.


Foto: Roberto Parizotti/secomCUT

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