Ribeirão Preto tem redução em acidentes fatais no trânsito, mas números ainda geram apreensão

Ribeirão Preto tem redução em acidentes fatais no trânsito, mas números ainda geram apreensão

Redução no número de ocorrências, acidentes e vítimas passa pela conscientização e empatia dos atores envolvidos: condutores, ciclistas e pedestres

A Prefeitura de Ribeirão Preto divulgou, no último mês, redução de 16% nos acidentes fatais de trânsito nos dez primeiros meses deste ano. Enquanto em 2022 houve 56 óbitos, no acumulado de 2023 (janeiro a outubro) foram 47 fatalidades. Os dados são do Infosiga-SP (Sistema de Informações do Governo do Estado de São Paulo).

 

A gestão municipal, por meio da RP Mobi, credita a diminuição no número de mortes no trânsito às atividades de engenharia de tráfego, além de ações de conscientização e educação sobre as boas práticas de direção, bem como a abordagem em ruas e avenidas do município.

 

Delcides Araújo, diretor de trânsito da RP Mobi, aponta que 94% dos sinistros fatais são causados por falha humana e a redução no número de sinistros está diretamente relacionada à mudança de comportamento dos usuários das vias.

 

Ainda segunda a prefeitura, os índices de óbitos no trânsito nas vias da cidade também tiveram uma diminuição na categoria dos mais vulneráveis (pedestres, ciclistas e motociclistas), sendo que, nos primeiros dez meses de 2023, foram 35 fatalidades, enquanto no mesmo período do ano anterior foram 49 ocorrências com óbito.

 

De janeiro a outubro de 2022, a categoria de vítimas mais vulneráveis representava 87,5% do total de óbitos registrados naquele período. Já no mesmo período deste ano, as vítimas mais vulneráveis representam 74,4% dos índices gerais de mortes no trânsito.

 

Com relação aos locais com maior número de acidentes, o Infosiga-SP aponta que eles estão distribuídos em todas as regiões de Ribeirão Preto, mas verifica-se que os sinistros com fatalidade acontecem, principalmente, nas vias arteriais (avenidas que ligam duas regiões de uma mesma cidade), com uma maior predominância nas regiões norte e leste.

 

Saúde impactada

 

Levantamento do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) revela que aconteceram 4.341 acidentes em Ribeirão Preto entre janeiro e novembro de 2023. Os locais com maior número de ocorrências foram os bairros Ipiranga (392), Campos Elíseos (356), Centro (338) e Vila Virgínia (212).

 

Os acidentes nas ruas e estradas do país têm um custo direto de quase R$ 3 bilhões para o Sistema Único de Saúde (SUS) segundo dados divulgados pelo Conselho Federal de Medicina (CFM). Este valor é distribuído em internações hospitalares decorrentes, atendimento médico-hospitalar, seguros de veículos, danos a infraestruturas, auxílio-doença e outras despesas relacionadas aos sinistros.

 

Segundo a Câmara Técnica de Medicina de Tráfego do CFM, os acidentes de trânsito provocam sobrecarga nos serviços de assistência, em especial nos prontos-socorros e alas de emergência dos hospitais. A análise do CFM revela ainda que, a cada hora, em média, cerca de 20 pessoas dão entrada em um hospital da rede pública de saúde do país com ferimento grave decorrente de acidente de transporte terrestre.

 

Atores do trânsito

 

O trânsito não é feito apenas de condutores de veículos, mas também de ciclistas e pedestres. Um trânsito seguro pede a colaboração e conscientização de todos estes agentes em seus respectivos espaços.  Neste sentido, o diretor de trânsito aponta que a travessia do pedestre é o momento mais crítico, uma vez que ele é o elemento mais indefeso porque está se colocando no ambiente de veículos.

 

Na avaliação de Anderson Manzoli, engenheiro, especialista em Engenharia de Transportes e professor no Centro Universitário Estácio de Ribeirão Preto, assim como em outras cidades grandes, aqui também se privilegia o uso do transporte individual (carro e moto) em detrimento dos meios de transporte coletivo, os ônibus, o que faz com que haja um número cada vez maior de veículos disputando o mesmo espaço nas ruas e avenidas.

 

Em vez de se construir cidades para pessoas, infelizmente se pensa em construir cidades para carros. Não são os carros que fazem a maior parte de movimentação de pessoas, apesar de ocuparem a maior parte dos espaços e sim o transporte público, a pé ou de bicicleta, somam uma quantidade maior de movimentação de pessoas”, explica.

 

Segundo ele, a redução de infrações e acidentes passa não apenas pelos investimentos em transporte coletivo, mas pela conscientização da população quanto às leis de trânsito aliada à fiscalização e punições aos infratores.  “Uma população bem-educada, que respeita as leis e age de forma ética em relação a esses instrumentos, costuma ser menos violenta no trânsito”, lembra.

 

Impacto econômico

 

Os acidentes de trânsito também causam impacto em outro segmento, o das oficinas mecânicas e seguradoras de veículos, ramos de atividade econômica interligados que se desenvolvem em decorrência dos sinistros (acidentes de trânsito).

 

Segundo Feres Nahim, das Oficinas do Bem, embora sejam setores da economia distintos, uma atividade acaba necessitando da existência da outra. Oficinas do Bem é uma iniciativa de empresários do setor de reparação automotiva (funilaria e pintura) formada a partir do núcleo setorial do Programa Empreender da Associação Comercial e Industrial de Ribeirão Preto (Acirp).

 

“Sem a existência das empresas reparadoras de automóveis, a viabilidade da atividade da seguradora, ao menos nesse setor e tipo de seguros, se tornaria difícil. Considerando que a atividade de seguro nada mais é do que gerir um risco, concluímos que sua ação no mercado depende diretamente da atuação e existência das oficinas reparadoras”, diz.

 

Dados recentes divulgados pela Superintendência de Seguros Privados (Susep) apontam que a arrecadação de prêmios pagos pelos segurados a seguradoras ultrapassou R$ 41,6 bilhões em nível nacional. Já os valores pagos nos sinistros ocorridos chegaram a cerca de R$ 23,5 bilhões.

 

“Nesse cenário, parte dos valores pagos pelas seguradoras nos sinistros são voltados às oficinas reparadoras que, em uma média informal, têm um percentual de 40% a 70% como parte do seu faturamento decorrente de sinistros regulados pelas seguradoras”, observa Feres.

 

Segundo ele, os mercados de seguros e reparação automotiva normalmente são espelhados, mas nem sempre um representa a realidade do outro.

 

“O que se sabe é que o mercado de seguros teve uma alta com o segmento de danos representando 32% desse universo. Especificamente na linha de seguros automotivos, os prêmios atingiram R$ 26,99 bilhões no acumulado do primeiro semestre de 2023, valor 18,3% superior ao do mesmo período de 2022. Já o crescimento nominal no ano de 2023 foi de 12,61% e crescimento real de 7,8%”, finaliza. Os números são da Susep.

 

Plano de mobilidade

 

Em junho deste ano os vereadores aprovaram o projeto de lei complementar que institui o Plano Municipal de Mobilidade Urbana de Ribeirão Preto.

 

O documento orienta as ações do município no que se refere aos serviços e infraestrutura viária e de transporte para atender necessidades ao longo dos próximos 30 anos. Presidente da Comissão Permanente de Meio Ambiente, Sustentabilidade e Mobilidade Urbana da Câmara de Ribeirão Preto, o vereador Marcos Papa (Podemos) afirma que o Plano de Mobilidade Urbana é bom, mas aponta um equívoco da gestão municipal ao enviar o documento para o Legislativo depois de iniciadas as obras de mobilidade.

 

“O Executivo passou a carroça na frente dos bois. Temos um bom Plano de Mobilidade Urbana que não está sendo executado. Digo que o Plano é bom porque espelha com muita propriedade o Plano Diretor da cidade, que privilegia o andar, o caminhar, mas para isso precisamos de boas calçadas sombreadas. O plano prioriza o transporte coletivo, ciclovias interligadas e depois os automóveis. Mas a Prefeitura errou grosseiramente ao fazer todas essas obras e só depois aprovar um Plano de Mobilidade”, afirma.

 

Estresse e empatia

 

Na opinião da psicóloga Laura de Oliveira Marangoni, a conduta do motorista é a principal responsável pelas situações de risco no ambiente do trânsito. Ansiedade, impulsividade e raiva influenciam diretamente no comportamento dos motoristas. É inegável que engarrafamentos, atrasos, buzinas e discussões alteram o nível de estresse do condutor.

 

“Pensando que a ação de dirigir envolve mais que a aprendizagem mecânica, como também questões cognitivas - memória, atenção e tomada de decisões – e emocionais, a forma como esse motorista se comporta no trânsito, se focarmos no aspecto negativo, pode desencadear esse aumento de estresse, tanto em si próprio como nos demais, e um “efeito manada” de comportamentos onde o outro reage de forma irracional, apenas repetindo a ação de uma maioria”, explica.

 

Segundo a psicóloga, a prevenção é uma importante aliada na compreensão dos comportamentos reativos (especialmente no trânsito). Aliada à empatia, ela pode contribuir para um trânsito mais humanizado e menos violento.

 

“Ter empatia não é negar a responsabilidade do outro no evento, mas é conseguir olhá-lo de forma mais compassiva e assim permitir uma solução muito mais pacífica”, frisa.

 

Números de acidentes fatais no trânsito em Ribeirão Preto

 

Janeiro a Outubro/2023

Pedestres: 13
Ciclistas/Bicicleta: 1

Motociclistas: 21
Motoristas/carro: 9
Motoristas/caminhão:  1
Não disponíveis: 2

Total: 47 registros

 

 

Janeiro a Outubro/2022

Pedestres: 15
Ciclistas/Bicicleta: 6

Motociclistas: 28
Motoristas/carro: 7
Motoristas/caminhão: 0
Não disponíveis: 0

Total: 56 registros

 

 

Principais infrações cometidas

-Transitar em velocidade superior à máxima permitida;

- Dirigir manuseando o celular; 

- Avançar o semáforo vermelho;

- Estacionar em local proibido; 

- Não dar preferência de passagem ao pedestre


Foto: Arquivo pessoal

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