Ribeirão Preto teve filial da Cruz Vermelha na Segunda Guerra Mundial
O dado histórico foi revelado pela pesquisadora Adriana Saturnino Mazziero

Ribeirão Preto teve filial da Cruz Vermelha na Segunda Guerra Mundial

Na época, a instituição ofereceu curso lecionado por médicos que formou 52 enfermeiras socorristas na cidade

Na primeira metade do século XX, enquanto o mundo vivia o conflito da Segunda Guerra Mundial, em Ribeirão Preto, uma filial da Cruz Vermelha formava enfermeiras socorristas para o caso da região ser atingida pelos confrontos.

O dado histórico foi revelado pela pesquisadora Adriana Saturnino Mazziero, que se debruçou em documentos do Arquivo Municipal de Ribeirão Preto, da Cruz Vermelha Filial São Paulo e da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, durante seu mestrado na Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto (EERP) da USP, sob orientação da professora Luciana Barizon Luchesi.

Adriana constatou que a Cruz Vermelha Brasileira – Filial Ribeirão Preto (CVB-RP) foi instalada em 1942 e, durante dois anos de atividades, promoveu o Curso de Socorros Urgentes que formou 52 enfermeiras socorristas. A iniciativa, comenta, “demonstra a preocupação da população civil e médica de Ribeirão Preto da época quanto à formação de enfermeiras socorristas no contexto da segunda guerra mundial”.

O objetivo naquele momento era formar socorristas como “reflexo de uma sociedade altamente mobilizada com a entrada do país na guerra e o curso, entendido como um dever patriótico feminino”, acrescenta a pesquisadora, destacando que, ao contrário das enfermeiras socorristas, para ser voluntária no front de guerra era obrigatória a habilitação de enfermagem profissional. “As socorristas que o curso da CVB-RP Vermelha formou em Ribeirão Preto deveriam ajudar nas cidades”.

Outro detalhe observado por Adriana é que, nessa época, o Padrão Nacional de Enfermagem era dado pela Escola de Enfermagem Anna Nery que vigorou no País de 1931 a 1949. Lembra ainda que a CVB-RP não era obrigada a equiparar seu curso de Socorros Urgentes ao modelo padrão. Por isso, organizou um curso rápido de apenas três meses.

“Não se tratava de um curso de Enfermagem profissional, mas de um curso rápido, com vistas a socorros de urgência. As socorristas seriam nossa retaguarda em solo brasileiro para o caso de ataques”, conta a pesquisadora.

Curso foi considerado difícil e teve alta desistência

Mesmo sendo um curso rápido, os documentos revelam que foi ministrado por médicos e contava com atividades muito intensas e complexas, o que levou a um grande número de desistências. “Apesar do curso ter recebido 236 inscrições, apenas 52 concluíram”, diz Adriana.

Os documentos mostram, ainda, que essa não foi a primeira tentativa de formar profissionais de enfermagem no município, mas foi o primeiro vestígio de um curso que efetivamente formou turma. Pelo grau de dificuldade e exigências das disciplinas, a pesquisadora concluiu que os professores (médicos) podem ter confundido os interesses de formar socorristas para guerra com os de formar mão de obra para a Santa Casa de Misericórdia de Ribeirão Preto, “visto que a ideia partiu dessa instituição e de parte dos médicos docentes envolvidos”.

Guerras destacaram enfermeiras brilhantes

Luciana Barizon Luchesi, professora da EERP e orientadora do estudo, afirma que o papel do profissional de enfermagem é crucial em situações de calamidades, de guerra ou de paz. Mas não nega que a história da enfermagem é marcada por enfermeiros destacados em situações de guerra.

A professora lembra da britânica Florence Nightingale, que revolucionou o ensino da enfermagem no mundo após sua participação na Guerra da Crimeia (1853 a 1856), “demarcando o posicionamento feminino e a profissão em um espaço antes exclusivamente masculino (exército britânico). Atitude essa que não se deu sem conflitos”.

No Brasil, a enfermeira voluntária na Guerra do Paraguai Anna Justina Ferreira Nery é considerada heroína da pátria. Seu nome foi dado à Escola de Enfermeiras do Departamento Nacional de Saúde Pública, criada por Carlos Chagas na década de 1920, hoje pertencente à Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Do curso da Cruz Vermelha à Escola da USP

Desde sua criação em 1863, até chegar ao Brasil em 1908, com seu primeiro presidente Oswaldo Cruz, a Cruz Vermelha Internacional preocupou-se com os cuidados aos feridos de guerra. Segundo as pesquisadoras da EERP, a instituição sempre atribuiu muita importância ao trabalho do enfermeiro, tanto que foi responsável por cursos de enfermagem profissional em vários países e de enfermagem socorrista em várias cidades do Brasil.

Além de Ribeirão Preto, outras cidades da região também solicitaram filiais da Cruz Vermelha e a criação do seu curso de Socorros Urgentes. Para Adriana é a confirmação da Cruz Vermelha em território nacional no período.

 


Foto: Pixabay

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