Textos atribuídos a homem que esfaqueou idosa descrevem situações problemáticas
"Eu briguei raras vezes em 36 anos, mas estava entrando em brigas mensalmente nesta nova cidade", diz trecho assinado por Eduardo Sella
Textos postados na internet e atribuídos ao administrador de empresas Eduardo Liboni Sella, que esfaqueou uma idosa de 65 anos, na Praça da Bicicleta, zona Sul de Ribeirão Preto, relatam situações problemáticas
Todas as publicações foram feitas em inglês, no site Quora, uma plataforma em que os usuários respondem dúvidas dos internautas.
No site, Sella dizia não gostar de pessoas narcisistas, e que já foi vitima delas. Ele declarou que já sofreu em relacionamentos amorosos e em amizades com "pessoas tóxicas".
Por isso, nos textos atribuídos a Sella, há dicas de como lidar com esse tipo de pessoa. Todavia, as soluções apresentadas, na maioria dos casos, tendiam para a violência.
Em uma publicação, um usuário perguntou "o que os narcisistas não gostam?". Na resposta, publicada no dia 12 de março de 2019, o homem cita três situações.
Confira a tradução do texto na íntegra:
" 1- Eles não gostam de levar um soco na cara, outro dia eu comecei a bater em uma criança, que quase me atropelou com o carro dele. Ele começou a fugir assustado e gritando por ajuda.
2- Eles não gostam de perder uma briga, eu estava em um posto de gasolina no mês passado esperando minha carona me levar para casa, um cara começou a me encarar e eu perguntei o que estava acontecendo, depois que discutimos ele me deu um soco no rosto, mas era tão suave que eu ri e o persegui até o outro lado da rua, ele tentou me acertar duas vezes, mas eu me esquivei e comecei a gritar com ele, ele ficou assustado e eu o joguei nos bons e velhos detritos da rua.
3 - Eles não gostam de serem cuspidos, cerca de duas semanas atrás eu estava no meu exercício matinal, e durante a caminhada, novamente, surgiu um cara com olhar obsessivo. Ele era muito grande, então eu cuspi no olho esquerdo dele. Ele ficou indignado e me deu dois socos antes de eu recuperar o meu equilíbrio e fazê-lo parar, o que fez com que ele fugisse rapidamente"
Em outro texto, ele responde à pergunta "como você destrói com sucesso uma pessoa narcisista?"
"Eu uso a violência para destruir qualquer um que pareça indestrutível ao meu redor, de qualquer forma, tudo isso está descrito em uma série de posts do Quora", diz trecho de texto assinado pelo homem.
Em outro texto, o administrador conta que pessoas estariam o perseguindo nas ruas.
"Pessoas na rua vestindo roupas ou tatuagens com caveira e flores estavam constantemente me chamando de louco. [...] Toda vez que eu saía para um bar as mesmas coisas aconteciam, as pessoas que passavam usando as roupas de caveira ou tatuagens de flores colocavam as mãos nos bolsos e tocavam em seus órgãos genitais enquanto me observaram.
Sempre que eu tentava conversar com qualquer uma dessas pessoas, recebia a mesma resposta programada 'não, não não, me desculpe, tchau' ou palavras do tipo 'você é louco?'
Eu briguei raras vezes em 36 anos, mas estava entrando em brigas mensalmente nesta nova cidade, e as pessoas em bares estavam me chamando de gay do nada, o que levou a mais brigas. [...] As pessoas estavam me perseguindo com karambit (um tipo de faca) ou com soco-inglês para lutar, mas eu ganhei com as minhas próprias mãos, mas deixei a luta ferido"
No site, há dezenas de outras publicações assinadas por Sella.
Denúncia
Na última sexta-feira, 10, a Justiça aceitou a denúncia do Ministério Público e tornou réu o administrador de empresa. Segundo um laudo médico encaminhado pelo presídio, Sella sofre de "esquizofrenia paranoide", além de transtornos mentais e comportamentais, devido ao uso de maconha e álcool.
Segundo a defesa de Sella, ele trata da esquizofrenia desde os 15 anos, mas a doença se agravou nos últimos meses.
Na decisão da 2ª Vara do Júri e das Execuções Criminais, o pedido da defesa de exame pericial para que seja comprovada a esquizofrenia deve ser analisado em outro processo.
Isso porque a família de Sella entrou com uma ação em Londrina, cidade onde residem, para que ele seja internado em uma clínica psiquiátrica. O processo foi encaminhado para Ribeirão Preto.
O crime
No sábado, dia 4 de janeiro, Ana Silvia de Almeida caminhava pela Praça da Bicicleta, Zona Sul de Ribeirão Preto quando foi esfaqueada por Eduardo Liboni Sella.
Segundo apurado, a idosa teria dado "bom dia" ao homem e foi atacada em seguida. Câmeras de segurança em frente à praça registraram o crime.
A mulher foi levada para a Santa Casa de Ribeirão Preto com ferimentos graves e passou por cirurgia. Ao todo, ela levou 12 golpes do homem.
Foto: Reprodução
