Vidas trocadas

Vidas trocadas

Após 37 anos família descobre que filha foi trocada na maternidade em Sertãozinho, na região de Ribeirão Preto

Em abril deste ano, a corretora imobiliária Maria Regina Dias do Nascimento Fernandez recebeu uma carta da Santa Casa de Sertãozinho que a levaria a descobrir que sua filha foi trocada na maternidade há 37 anos. A carta pedia para que entrasse em contato com o hospital onde nasceu Thaisa do Nascimento Fernandez, que até então Maria acreditava ser sua filha biológica.  

 

“Recebi uma carta da Santa Casa de Sertãozinho, em abril, mas inicialmente não dei importância. Quando abri, ela dizia que deveria entrar em contato pessoalmente com o provedor do hospital sobre um assunto do meu interesse. Tentei ligar, mas me disseram que só poderiam tratar pessoalmente, mas como estava viajando marcamos uma reunião on-line e me foi dito que havia a possibilidade de ter acontecido uma troca na maternidade”, contou Maria Regina. 

 

A suspeita da troca foi levantada por Tatiane Ribeiro, a filha biológica de Maria. Tatiane estava grávida e passou por um exame em setembro de 2021, quando descobriu que não era a filha biológica da mulher que acreditava ser sua mãe. Por isso, elas passaram por um teste de DNA para descobrirem se houve, de fato a troca.O primeiro encontro delas ocorreu no laboratório. “Na minha cabeça, não havia a possibilidade de existir essa troca. Quando cheguei ao laboratório, vi que ela era muito parecida comigo. Após o exame, fomos conversar. Ela pediu para ver uma foto da Thaisa que, quando viu, começou a chorar e me disse que ela era muito parecida com seu irmão falecido. Foi um choque, senti como se meu mundo tivesse se aberto”, revela Regina. 

 

Outra incógnita que solucionada foi o estado de saúde de Thaisa. Ela foi diagnosticada com epilepsia aos quatro meses de idade, apresentar um quadro de esquizofrenia. “Todo médico me dizia que era algo hereditário, e sempre respondia que não havia ninguém na minha família, talvez um antepassado distante”, explica Maria. Alguns dias depois, foi marcado um exame de DNA entre Thaisa e sua suposta mãe biológica, que comprovou a troca acontecida em 1985. “Comecei a chorar e me culpei bastante. Sempre sonhei em ter um irmão, e quando ela me contou que ele estava falecido, comecei a chorar de raiva, sem saber o que estava sentindo na hora”, relata Thaisa Fernandez, sobre o recebimento da notícia. 

História não vivida 

 

De acordo com Victoria do Nascimento Fernandez, outra filha de Regina, receber a confirmação da troca na maternidade foi um baque. “Na hora pensei muito na minha mãe, pois sei de toda história de vida dela e fiquei muito mal. É como se você estivesse vivendo uma história que não é a sua, algo que não estava dentro do esperado”, relata Victoria. 

 

Para Maria, todo o processo tem sido muito doloroso. “É muito difícil, pois você não conhece a pessoa, é preciso aprender a conhecer e esse movimento todo é doloroso pois é totalmente diferente. É uma pessoa que já está criada, que você não educou nem criou e que tem a família dela, e de repente te dizem você é mãe dela. Estamos tendo uma relação, mas nós não nos conhecemos então é preciso ir aos poucos”. 

 

A corretora que reside em Ribeirão Preto há mais de 30 anos ressalta a necessidade de um maior respeito e consideração pelas pessoas atendidas nos hospitais. “Quando você entra em um hospital, você está vulnerável e confia sua vida na mão daquelas pessoas. É traumático depois de 36 anos mudar completamente a vida de uma pessoa. É muito complicado, difícil e doloroso, é um luto pelo que você não viveu”. As famílias devem acionar a Justiça contra hospital. A reportagem da Revide entrou em contato com a Santa Casa de Sertãozinho. O hospital in- formou que não irá comentar o caso que corre em segredo de Justiça. 


Foto: Luan Porto

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