A importância dos estímulos precoces em crianças com síndrome de Down

A importância dos estímulos precoces em crianças com síndrome de Down

Segundo especialista, tratamento especializado e a participação da família podem minimizar os atrasos no desenvolvimento motor

Toda criança precisa de atenção e cuidados. No caso de crianças com síndrome de Down, que possuem um grande potencial para ser desenvolvido, não é diferente. O grande diferencial é que elas precisam de mais tempo e estímulos da família e de especialistas para adquirir e aprimorar suas habilidades o mais precoce possível.

E é esse o trabalho executado pela fisioterapeuta e especialista em Síndrome de Down Karla Cattarin Marcos, que ajuda no desenvolvimento de crianças com trissomia do 21, anomalia cromossômica que ocorre em razão de um distúrbio do cromossomo 21 a mais, resultando em 47 pares em vez de 46.

Mas, por que essas crianças precisam de mais estímulos que as outras? Segundo a especialista, crianças que nascem com a síndrome tendem a ser mais “molinhas” que as outras e, por isso, necessitam de um tratamento precoce para minimizar os atrasos no desenvolvimento motor, muito comum em quem possui a trissomia do 21.



Crianças com Síndrome de Down podem ter dificuldade de atingir alguns marcos do desenvolvimento motor típico, mas existem inúmeras variações no tempo de aquisição. Por exemplo, o andar pode ser atingido a um ano de idade ou em alguns casos só aos 4 anos. Esse fato irá depender não somente da hipotonia muscular (tônus muscular reduzido) e outras características presentes nessas crianças que dificultam sua evolução motora, mas principalmente dos estímulos oferecidos na fisioterapia”, explica a fisioterapeuta.

Na fisioterapia pediátrica, a atuação é feita de maneira lúdica por meio de técnicas para facilitar e estimular reações posturais, que geram condições musculares necessárias para aquisições motoras de crianças com síndrome de Down. A especialista afirma que as respostas sensório-motoras de crianças com Síndrome de Down podem ser deficitárias, mas é possível ampliá-las de acordo com o meio em que a criança estiver inserida e os estímulos que são oferecidos neles. “Quanto mais se oferecer um ambiente solicitador, que promova autonomia e diferentes possibilidades de descobertas de seu potencial, melhor será o desenvolvimento dessas crianças”, diz Karla.

É o caso da paciente Sofia Pasquetta de Freitas, de um ano, em que os pais, Fabricio de Freitas e Flavia Pasquetta de Freitas, descobriram a síndrome apenas em seu nascimento. A pequena realiza sessões de fisioterapia, terapia ocupacional e fonoaudióloga desde recém-nascida. “A Sofia nasceu com 37 semanas e seis dias de parto cesáreo no dia 16 de maio de 2016. A Síndrome de Down foi descoberta somente no parto. Com dois dias de vida ela realizou uma cirurgia para desobstruir o duodeno e, após 15 dias perdeu sua mãe em razão de um infarto. Aos 11 meses fez outra cirurgia no coração para corrigir três pequenas malformações e realiza as sessões de fisioterapia, terapia ocupacional e fonoaudióloga desde recém-nascida, quando ainda estava no hospital”, conta o pai.

Por conta da hipotonia muscular e da frouxidão dos ligamentos, decorrentes da trissomia 21, o pai de Sofia assegura que a fisioterapia é essencial para o seu desenvolvimento motor, pois ajuda a menina a se movimentar de maneira correta e a fortalece fisicamente. “O tratamento na fisioterapia minimizou os efeitos motores da síndrome de Down e com isso proporcionou uma melhor qualidade de vida para a Sofia. Conseguimos reduzir os efeitos negativos na função motora decorrentes da Síndrome de Down, sustentar o seu pescoço, a fazer rolar, sentar-se, arrastar-se, engatinhar, ficar em pé e agora temos o objetivo de fazê-la andar num curto espaço de tempo” explica o pai.

Fabricio afirma que é gratificante conseguir que a Sofia tenha um acompanhamento com profissionais que lhe proporcionam a oportunidade de se desenvolver a cada dia mais, mesmo com as limitações causadas pela síndrome. “Sabemos que vivemos num pais desigual e nem todas as famílias conseguem dar aos seus filhos o que eles precisam e merecem, mas é muito gratificante poder oferecer todo tratamento que ela precisa”, finaliza.

Já os pais de Maria Luiza Viviani, Juliana Caseiro Viviani e Mário Moutinho Nunes Viviani, descobriram a síndrome aos três meses de gestação e continuam engajados no tratamento da pequena.  “A Maria Luiza foi muito desejada, no entanto tínhamos dificuldade para engravidar, sem motivo aparente. Fizemos uma fertilização in vitro e na primeira tentativa conseguimos nosso tão sonhado positivo. Aos três meses de gestação descobrimos que a Malu nasceria com Síndrome de Down. Inicialmente foi uma notícia difícil para lidar, mas aproveitamos o tempo da gestação para nos aprofundarmos no assunto e oferecer o melhor para nossa pequena. Hoje, lidamos com essa questão com muita tranquilidade e nos engajamos muito na reabilitação, mas com muito afeto e cuidado com ela”, conta Juliana.

Para a mãe, o tratamento é de extrema importância para o desenvolvimento da Malu, como é carinhosamente chamada. “Identificamos o desenvolvimento dela o tempo todo, em cada marco que atingimos é uma vitória e alegria. Até o momento, conseguimos atingir todos os marcos de desenvolvimento no momento esperado, graças ao empenho dela e o nosso trabalho em não deixá-la perder as sessões de fisioterapia e também com as estimulações que fazemos em casa, que são orientadas pela Karla”, explica.

A fisioterapia vem permitindo o desenvolvimento da Malu da melhor maneira possível. “É muito gratificante poder proporcionar isso a ela, essa é nossa prioridade e ter uma profissional que tenha experiência na área faz toda a diferença”, finaliza a mãe.

Para Karla, o trabalho que desenvolve com essas crianças é recompensador e emocionante. “É muito gratificante participar do processo de desenvolvimento dos meus pacientes. As crianças estão descobrindo o mundo através do seu corpo e de suas vivências, poder proporcionar a elas oportunidades e experiências capazes de enriquecer e aprimorar essas descobertas faz de mim uma profissional realizada. Acredito que todos nós temos habilidades e dificuldades, apenas precisamos conhecê-las e aprender a lidar com elas”, diz a especialista.

Estímulos Precoces  



A fisioterapeuta explica que as sessões podem ser realizadas de uma a três vezes por semana. A frequência irá depender das particularidades e necessidades de cada criança. “O médico que acompanha a criança avalia se ela esta apta para realização desses estímulos que devem ter início já nos primeiros meses de vida, período em que padrões de posturas e movimentos estão se instalando”, explica Karla.  

Segundo a especialista, os primeiros anos de vida – até os quatro anos de idade – são considerados críticos para o desenvolvimento infantil por conta da neuroplasticidade cerebral, que é a capacidade do sistema nervoso modificar sua estrutura e função em decorrência de padrões de experiência. Por isso, o estímulo precoce é fundamental para o desenvolvimento de habilidades em crianças com Síndrome de Down, oferecendo a elas maiores oportunidades para conquistas futuras.

“É um trabalho muito importante para o desenvolvimento motor e aquisições dos marcos motores dessas crianças, como por exemplo, rolar, sentar, engatinhar e andar. Tudo isso irá fazer a criança alcançar esses marcos sem ter um atraso motor significativo, que quando ocorre acaba sendo prejudicial à integração da criança com o mundo, pois ela não conseguirá explorar o local em que vive, por conta de não ter um desenvolvimento motor necessário”, diz a fisioterapeuta.

De acordo com Karla, entre quatro e cinco anos de idade, a criança já terá atingido os principais marcos do desenvolvimento motor e, desta forma, estará preparada para seguir em frente sem o tratamento fisioterapêutico. "É importante que a família insira essa criança em um esporte de sua preferência que dará a ela capacidades motoras para continuar explorando e se desenvolvendo”, conta.        

Karla explica que a família tem um papel de extrema importância neste processo e deve sempre estimular as crianças, também, no ambiente familiar. Quando a família é orientada por profissionais, é capaz de dar continuidade aos estímulos oferecidos em terapias na rotina da criança e em suas atividades de vida diárias.


Fotos: Arquivo pessoal

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