A nova moda plus size
Ismênia Costa com as influenciadoras Gabriela Pereira, Laiara Leoni, e Beatriz Pinho

A nova moda plus size

Com bom caimento, mais elegância e peças para todos os gostos, as roupas do segmento plus size conquistam cada vez mais mulheres que não têm medo de serem felizes

*Matéria de capa da edição 1.104

Esqueça as roupas largas e com cores escuras para disfarçar as gordurinhas. A moda plus size mudou e está cada vez mais antenada e moderna. A novidade é que as mulheres que usam um manequim maior não estão mais presas a uma visão ultrapassada de que precisam se vestir para se esconder. Agora, estão disponíveis no mercado roupas com bom caimento, coloridas e que atendem às clientes de todos os gostos, desde as mais ousadas, que gostam de roupas justas e curtas, até as que preferem vestidos longos ou belos macacões. A nova moda plus size chegou não apenas para vestir, mas para empoderar as mulheres gordas. A influenciadora digital e jornalista Gabriela Pereira, conta que foi refém do efeito sanfona durante a vida toda e que, por morar em uma cidade pequena, tinha dificuldade de encontrar opções de roupas para o seu tamanho. 

“Eu dependia de lojas de departamentos e de brechós. Minha mãe é costureira e dava um jeito nas roupas que conseguia comprar. Aquela moda plus size que vestia a cortina da avó era algo que me incomodava muito. Hoje, gosto de calça jeans e de outras peças básicas que podemos dar uma estilizada. Adoro ousar nas roupas com bastante recorte, tomara que caia, destroyed e fenda. E gosto de mostrar que a mulher gorda também é sensual, podemos aproveitar que temos bastante curva, aquela cinturinha, um quadril mais largo, as coxas mais grossas e botar para jogo”, conta Gabriela. Gabriela acredita que o mercado entendeu que as mulheres cansaram de se esconder e trouxe novas modelagens e ampliou as possibilidades. “Fico feliz que cidades do interior estão fomentando essa ideia, trazendo modelos diferentes de roupas. Imagina como era antes para a gente encontrar um vestido de festa, por exemplo? Não achava uma roupa com lantejoula, paetê, plumas, e hoje em dia encontramos. Ainda não é com a mesma facilidade que se encontra todo tipo de roupa para a moda slim, mas evoluiu bastante. A moda está aí para atender ao nosso desejo, precisamos nos mostrar mais e ousar mais”, recomenda.

A influenciadora digital Laiara Leoni é mais uma que nem sempre encontrava peças do seu tamanho. Sabendo que outras mulheres também enfrentavam esse problema, resolveu levar essa realidade para as redes sociais. “Nesse meu início na internet, descobri algumas lojas online que vendiam plus size. Comecei a mostrar no meu perfil que a gente pode usar roupas maravilhosas. Tudo o que o manequim do tamanho tradicional usa a gente também pode usar. Descobri que tinha modelagens diferentes, cores que nos favoreciam e aí foi quando o mundo da moda plus entrou de vez na minha vida. Comecei a me descobrir com isso. Coloco a barriga e as pernas de fora e isso fez parte da minha autoaceitação, quando falei ‘sou plus e vou me libertar’ e encontrei as lojas que vendem as numerações que nos favorecem”, ressalta. Para Laiara, apesar dos avanços da moda, ela pondera que ainda há muito o que evoluir. “Sinto que o mercado ainda precisa crescer mais, pois faltam modelagens que entendam que os corpos são muito diferentes. Às vezes, tem pessoas com o mesmo peso, mas uma tem pernas mais grossas, a outra tem a cintura mais fina, é preciso pensar nisso, especialmente no caso de calças jeans. E os preços precisam ser mais acessíveis, entendo que vai mais tecido por ser uma roupa maior, mas o mercado pode trabalhar para termos mais possibilidades de compra”, detalha.

Já a empresária e influenciadora digital Beatriz Pinho avalia que o mercado tem se preocupado em atingir um público cada vez maior. “Falo muito aquela máxima: ‘meu corpo, minhas regras´. Eu não preciso entrar em um manequim que não foi feito para mim, eu preciso entrar em uma roupa que sirva em mim e nas minhas curvas. Acredito que o mercado plus size tem pensando mais nessa imensidão de novos corpos e novas mulheres. Tenho muito quadril e tinha dificuldade para encontrar calças que servissem, pois passavam pelo quadril e ficavam largas na cintura. Hoje eu percebo que é mais fácil para encontrar roupas que me caibam, que me deixem bonita e atraente, e é isso que procuro, me sentir poderosa. A roupa é um acessório muito importante em nossa vida e não encontrar algo que nos favoreça atrapalha a autoestima”, comenta a influencer.

Uma das pioneiras na venda de moda plus size em Ribeirão Preto, a empresária Ismênia Costa, diz que hoje tem muitas opções de roupas para esse público. Porém, é preciso conhecer bem cada fábrica, pois a peça precisa ter as modelagens, os cortes e os tecidos mais apropriados para vestir bem. “Anos atrás, eu andava por horas para encontrar duas ou três peças de roupa para fazer uma composição para agradar uma cliente. Agora, tem muita empresa trabalhando com o mundo plus. A partir da numeração 42, já é considerado plus size e sem limite máximo de tamanho. Antes, as roupas eram com mangas e até golas, escondendo o corpo. Mas as mulheres plus não querem mais isso, elas querem se sentir bonitas e ficar bem vestidas, não importando o estilo”, garante. 

SEM PADRÕES

A nutricionista clínica com abordagem comportamental Ana Carolina Port explica que o mundo mudou e as pessoas começaram a perceber que não tem como fazer moda para uma minoria. “Se formos ver, a maior parte da população está fora dos padrões que a moda constrói. A gente começou a ver um movimento de mulheres que se empoderaram e as redes sociais e a mídia começaram a contribuir para vermos mulheres parecidas com a gente, como as modelos e as influenciadoras plus size. Hoje, a indústria entendeu que precisa olhar mais para esse público e que todos podem ser livres e mostrar seus corpos como quiserem, apesar de ainda ter quem aponte o dedo. Temos diferentes padrões de corpos, a moda precisa ser ainda mais abrangente para atender a todos os tamanhos de roupas”, comenta. Ela ainda argumenta que o peso não é um fator decisivo de saúde ou de doença. “A gente vê que há pessoas magras que estão com exames e fatores de saúde ruins, não praticam atividade física, comem poucos nutrientes, abusam de álcool. Enquanto há pessoas que são gordas e fazem atividade física frequentemente, se alimentam de forma variada e estão com marcadores de saúde muito melhores”, destaca Ana Carolina. 
A nutricionista e docente da Estácio Ana Carolina Port recomenda seguir nas redes sociais pessoas que sejam mais próximas da nossa realidade
A nutricionista também critica modelos defasados para “medir a saúde” das pessoas. “O Índice de Massa Corporal (IMC), que usamos para determinar se uma paciente está ou não saudável, precisa ser atualizado, pois é uma ferramenta que existe há 100 anos. Além disso, diversos estudos demonstram que é muito mais importante manter bons hábitos do que perder ou ganhar peso”. Para se empoderar cada vez mais e aceitar o próprio corpo, a nutricionista recomenda um “detox digital”, procurando seguir pessoas que sejam mais próximas da nossa realidade. “Tem estudos que relatam que quanto mais longe o seu ídolo está do que você parece fisicamente, pior você fica em termos de saúde mental, mais frustrado se torna por não se identificar com aquela pessoa. Sempre pergunto para meus pacientes quem eles seguem nas redes sociais e pergunto se aquelas pessoas estão inspirando ou deixando frustrado, e aí sugiro seguir quem está mais próximo do que a pessoa é, para trazer uma inspiração verdadeira. Indico seguir quem mostra que os corpos reais são bonitos, que somos mais que um corpo e quem valoriza nossas qualidades além do físico”, aconselha. 

ORIGEM 

A ideia de roupas plus size foi posta em prática pela primeira vez no início do século XX, pela americana Lane Bryant para se referir à moda para gestantes. Lane colocou à venda vestidos e roupas mais largas e confortáveis para as grávidas. Com o sucesso, ela percebeu que o mercado não contemplava as mulheres com corpos mais robustos, fora do padrão de magreza imposto já naquela época. A lojista então iniciou uma pesquisa com as clientes para encontrar as medidas ideais para elaborar novas peças de vestuário. Atualmente, a Lane Bryant é uma das mais conhecidas redes de lojas de roupas plus size do mundo. Nessa época, contudo, o termo plus size era utilizado para se referir a roupas e não a pessoas. Na época, as mulheres eram descritas como "robustas" e em raras ocasiões "gordas". A expressão "mulheres plus size" foi utilizado pela primeira vez nos anos 1950, em um anúncio da extinta marca Korrel. A partir de então, o termo passou a designar um padrão de corpos e não mais um tipo de vestimenta.


Foto: Revide

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