Após três tentativas, avó carrega netos gêmeos em barriga solidária
Valdira das Neves aceitou carregar o neto e realizar o sonho do filho Marcelo

Após três tentativas, avó carrega netos gêmeos em barriga solidária

Marcelo das Neves é solteiro e escolheu a mãe para gerar seu filho por fertilização in vitro, no entanto, ele não esperava a chegada de duas crianças

Valdira ao lado do filho Marcelo
O sonho de ser pai sempre esteve presente na vida de Marcelo das Neves Junior. Há pouco mais de um ano, o desejo começou a tomar forma quando a mãe, Valdira das Neves, hoje com 44 anos, decidiu ser a barriga solidária para o filho e gerar o bebê tão aguardado. Foram três tentativas frustradas, mas, desta vez, o processo tem dado certo.

A história peculiar dessa família de Serrana, Região Metropolitana de Ribeirão Preto, começou há quase quatro anos, quando Valdira perdeu a pequena Helena, irmã de Junior. Com sete meses de gravidez, foi necessário fazer uma cesárea de emergência para tentar salvar a vida da menina, que infelizmente veio a falecer.

Com vontade de engravidar novamente, Valdira procurou por uma clínica de reprodução humana assistida para saber quais seriam as opções disponíveis. Ao escutar do médico que as melhores chances de a mãe conseguir gerar um bebê mais uma vez seriam se ela utilizasse o óvulo de uma doadora anônima, Junior propôs que ela o ajudasse a realizar o sonho de ser pai.

“Sugeri que, já que ela iria ter que usar o óvulo de uma pessoa desconhecida, ela poderia ser a barriga solidária para gerar meu filho”, explica ele. Junto com o pai, Marcelo das Neves, a família então amadureceu a ideia e decidiu pelo óvulo doado, fertilizado com os espermatozoides de Junior.

Depois de três tentativas frustradas, a quarta vez veio para selar o destino com mais do que sorte. Valdira enfim engravidou e hoje carrega os netos na barriga, além de celebrar a oportunidade de gerar para o filho não apenas um bebê, mas dois.

“Quando fomos fazer o ultrassom, o Junior já viu de cara que eram dois e estragou a surpresa que o médico queria fazer”, conta ela, emocionada. “Ser mãe e avó é indescritível, não há palavras para descrever o sentimento disso tudo que está acontecendo. É uma felicidade que não tem tamanho, uma sensação de ser mãe três vezes, é uma dádiva que Deus me proporcionou. Ser mãe, ser avó, carregar meus próprios netos no meu ventre, é uma coisa que só quem está passando pode sentir, pois explicação não há”, conclui.

Fiel, ela se diz grata a Deus por ter lhe proporcionado esta oportunidade. “A todos que colaboraram pra essa magia se tornar realidade. Estou muito feliz. Não vejo a hora de chegar o dia pra ver a carinha deles, ainda mais que vai ser cuidado por mim e pelo avô também”.

Os nomes dos gêmeos já foram escolhidos. Os pequenos vão chamar Maria Flor e Noah. A escolha, segundo a família, é porque ambos os nomes são bíblicos e bonitos.

“Após o nascimento dos bebês eu pretendo ficar em casa, morando com meus pais, porque minha mãe vai os amamentar. Combinamos de que apesar de ela ser a única figura materna pra eles, eles vão chamá-la de vó, e meu pai de vô. Não pretendemos esconder a forma como eles vieram ao mundo. Vamos começar a montagem do quartinho em junho, pois minha mãe já está entrando no sexto mês de gravidez, então não vamos esperar tanto. A ansiedade fala mais alto”, explica Junior.

Produção independente masculina

O caso de Junior é ainda um dos poucos de produção independente masculina no Brasil. Homossexual assumido, ele sabia que não conseguiria formar uma família sem a ajuda de uma barriga solidária.

“Nesses casos, além da barriga solidária, que pode ser de alguma parente, é necessário recorrer a um banco de óvulos de doadoras anônimas”, explica o médico Anderson Melo, especialista em reprodução humana assistida do Centro de Fertilidade de Ribeirão Preto (CEFERP).

De acordo com o médico, todos os envolvidos precisam de avaliação psicológica, e o pai biológico tem que garantir o seguimento médico durante a gravidez, o parto e após os primeiros meses do nascimento. “Essa técnica também é a mesma utilizada para casais homoafetivos masculinos terem seus bebês”, comenta.

 


Fotos: Ibraim Leão

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