Aposentadoria nem pensar

Aposentadoria nem pensar

Com a carteira de trabalho sem espaço para novos registros, Sebastiana Falarin Emílio, de 87 anos, precisou emitir a segunda via do documento para continuar na ativa

Quando chega a hora, boa parte dos brasileiros não pensa duas vezes antes de solicitar a aposentadoria. Garantido por Lei, esse benefício é visto, por muitos, como uma oportunidade para encerrar as atividades profissionais em definitivo, um alívio após tantos anos de trabalho. Porém, para outros, parar não é uma opção. Manter-se ativo é uma necessidade de sobrevivência. Esse é o caso de Sebastiana Falarin Emílio. Aos 87 anos, ela conta, com um sorriso carismático estampado no rosto, como é gratificante a rotina de trabalho na qual está envolvida desde a juventude.

O primeiro trabalho foi aos 17 anos, como auxiliar geral em uma fazenda onde morava, na região rural da cidade. Com a chegada da filha primogênita, Célia, Sebastiana precisou ajudar o esposo, Luís Emílio (já falecido), no sustento da casa. Mas foi em 1972, quando trabalhava como ajudante de decoração de casamentos em uma floricultura no Jardim Santa Marta, que ela conseguiu o primeiro registro na carteira.

Após idas e vindas em diferentes tipos de serviço, mas sempre com o propósito de auxiliar na limpeza e na organização de eventos, Sebastiana trabalhou na prefeitura da cidade, por meio de uma parceria com uma empresa terceirizada, na qual era contratada como faxineira. “Depois desse período, voltei para a floricultura. Saí porque me mudei para Bonfim Paulista. Quando retornei para Ribeirão Preto, passei a trabalhar como auxiliar de limpeza em uma chácara”, descreve.

Ao longo dos anos, Sebastiana ficou sem trabalhar por duas vezes. A primeira, quando fez uma cirurgia nos dois joelhos. A segunda, quando foi infectada pelo novo coronavírus, no início da pandemia da Covid-19. A neta Ana Paula recorda os dias de apreensão. “Mesmo com todos os cuidados, ela acabou infectada. Fizemos o teste só por precaução, porque ela estava bem e com sintomas leves. O problema foi que ela teve que parar de trabalhar e ainda ficar isolada no quarto, para não contaminar os outros familiares que residem na casa. Com a vida inteira agitada, ela sentiu a alteração brusca na rotina e ficou depressiva”, revela.

O quadro melhorou assim que ela retomou as atividades. “Eu não gosto de ficar dentro de casa, eu gosto é de sair”, confessa Sebastiana. Aposentada por idade, ela trabalha, atualmente, na manutenção e na organização dos eventos que são realizados na Paróquia São João Batista. Começou como voluntária e, depois de um tempo, foi contratada. “Cuido das coisas do altar e da missa. Enfeito os santos para as festas, lavo a túnica do padre e as toalhas. Eu que arrumo e guardo tudo. Quando temos batizado, eu ajudo as pessoas a se organizarem na igreja”, explica. Este registro ocupou o último espaço vago na primeira carteira de trabalho. Como parar não é uma possibilidade, ela já está com a segunda via do documento em mãos.


Fotos: Luan Porto

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