
Histórias inspiradoras e pandemia distante: busca por tratamento de fertilidade aumenta no país
Conheça exemplos de esperança, perseverança e fé de quem buscou o tratamento em Ribeirão Preto e conseguiu realizar o sonho da maternidade
A reprodução humana assistida no Brasil tem registrado avanços significativos nos últimos anos, refletindo tanto em números expressivos quanto em histórias de vida transformadoras. De acordo com o Sistema Nacional de Produção de Embriões (SisEmbrio) da Anvisa, em 2024 foram congelados mais de 100 mil embriões no país, com São Paulo liderando com 53.076 desses procedimentos. Além disso, o número de ciclos de fertilização in vitro (FIV) tem mostrado crescimento. Em 2024, o número foi 10% superior ao do ano passado.
Segundo o médico especialista em reprodução humana Anderson Melo (foto ao lado), do Centro de Fertilização de Ribeirão Preto, três fatores ajudam a explicar o aumento. “As famílias conseguiram se planejar, quem já havia planejado antes da pandemia está mais seguro para iniciar o tratamento e, por fim, a informação sobre os tratamentos está mais acessível. Hoje há muito mais segurança tanto por parte dos pacientes quanto dos profissionais”, explica o médico.
O Ministério da Saúde prevê que o setor de medicina reprodutiva no país crescerá, em média, 23% ao ano até 2026, movimentando mais de R$ 3 bilhões ao final desse período. Desde o nascimento da primeira "bebê de proveta" brasileira, Anna Paula Bettencourt Caldeira, em 1984, o país tem avançado significativamente nas técnicas de reprodução assistida, proporcionando a realização do sonho de ser mãe para inúmeras mulheres.
E outra tendência que é vista no setor é um aumento de procura por tratamento na época das festas de fim de ano. “Vemos que, além do espírito natalino e do hábito de planejar e fazer metas para o ano seguinte, as famílias também estão aproveitando os ganhos extras nessa época do ano, como décimo terceiro salário, para dar o pontapé inicial no projeto de ter um filho ou uma filha”, acredita Anderson.
Os tratamentos ainda são considerados de alto custo e variam de caso para caso. A taxa de sucesso cresce na proporção inversa da idade da mulher que busca a gravidez. Não há uma ciência exata, como explica o médico. “Uma mulher de 35 anos tem, em média, chance de 35% a 40% de engravidar. Essa porcentagem cai pela metade para uma mulher de 40 anos, por exemplo. Mas há casos de mulheres mais velhas que tiveram sucesso na primeira tentativa, então é preciso acreditar”.
Luz especial
Quando João Pedro nasceu, no dia 19 de março de 2019, Letícia Ane segurou o pequeno em seus braços e sentiu um misto de amor e esperança. "Ele é o presente que Deus me deu para equilibrar os sentimentos", diz ela, enquanto lembra daquele dia tão especial quanto doloroso. Cinco dias antes, no dia de seu aniversário, Letícia despediu-se do pai, que faleceu enquanto ela carregava a vida no ventre. “A tristeza do luto encontrou a alegria da maternidade, e ali, naquele instante, aprendi que a vida sempre busca um jeito de florescer.”
Engenheira agrônoma e professora universitária, Letícia e o marido haviam tentado engravidar entre 2014 e 2017. "Eu só aceitava a hipótese de que o filho teria que vir naturalmente", admite. Após uma amiga espírita encorajá-la a tentar novamente, Letícia decidiu dar mais uma chance à ciência. Consultou uma prima médica, encontrou um especialista em Ribeirão Preto e, no mesmo ano, engravidou na primeira tentativa de fertilização in vitro (FIV).
A gravidez foi tranquila, mas repleta de emoções. "Contamos para poucas pessoas. Queríamos evitar expectativas, principalmente dos avós, mas, quando João Pedro nasceu, foi uma choradeira só. Ele era o primeiro neto da família e chegou em meio à dor da perda do meu pai.” Agora, ao olhar para o filho, Letícia sente que ele carrega uma luz especial. “As pessoas dizem que ele é iluminado, e eu acredito.”
Letícia tentou uma segunda gravidez, mas um diagnóstico de câncer de mama mudou seus planos. “Desistimos, mas não sem lutar. Meu conselho para quem sonha em ser mãe é: nunca desistam. Enquanto houver 1% de chance, acreditem em Deus e na tecnologia.”
Próximo Natal
Em São José do Rio Preto, Amanda Fernandes Bertoni e a esposa Marcela Pereira de Freitas (foto ao lado) passaram por um Natal diferente. Elas ainda estão no processo de estimulação ovariana, mas o sonho de serem mães já parece realidade. “Sempre quisemos formar uma família. Quando passamos a morar juntas, ficou claro que era o momento certo”, conta Amanda, que, aos 30 anos, decidiu recorrer à fertilização in vitro.
O caminho até aqui não foi fácil. Entre o trabalho como professora e analista de departamento pessoal, o casal concilia consultas e viagens frequentes de mais de 200 quilômetro para Ribeirão Preto, onde escolheram a clínica após se encantarem com a acolhida calorosa da equipe. “Cada vez que vamos lá, sentimos que nosso sonho está mais perto. Um dia, vimos um casal com seu bebê na clínica, e aquilo nos marcou profundamente. Ficamos imaginando quando seria a nossa vez”, recorda Amanda, emocionada.
O período de estimulação ovariana dura em média de 8 a 16 dias e começa nos primeiros dias do ciclo menstrual da mulher. A estimulação ovariana é um procedimento que consiste na administração de medicamentos hormonais para estimular o crescimento dos folículos ovarianos. O acompanhamento é feito por meio de ultrassonografias e exames de dosagem hormonal. A estimulação ovariana é uma etapa essencial em vários tratamentos de reprodução assistida como a FIV, a inseminação artificial e o coito programado.
Para Amanda e Marcela, o Natal sempre foi um símbolo de união e esperança. “Imaginamos o próximo Natal com nosso bebê nos braços, cercadas por nossas famílias. Esse sonho é o que nos motiva a enfrentar cada etapa”, conta Amanda.
Sonho e perseverança
Ariel Luzia viu a maternidade ser adiada por mais de uma década. “Desde jovem, sonhei em ser mãe”, diz ela, que se casou aos 15 anos. Aos 28, após anos lidando com a Síndrome dos Ovários Policísticos (SOP) e várias tentativas frustradas de engravidar, ela decidiu procurar ajuda especializada.
O caminho não foi isento de dores. Na segunda transferência de embriões, Ariel enfrentou uma gravidez heterotópica – uma gestação rara em que um embrião se implanta no útero e outro na trompa. “Passei por uma hemorragia interna e perdi a trompa. Poderia ter morrido, mas Deus não quis.” Mesmo assim, Ariel não desistiu.
Meses depois, no aniversário da mãe, Ariel fez uma nova transferência de embriões. “Pedi a Deus que aquele embriãozinho tivesse vida e fosse um presente para minha mãe. Hoje, temos a Liz.” O nascimento de Liz trouxe um novo significado ao Natal de Ariel e sua família. “Ela é nosso milagre. Depois de tantas perdas, finalmente sentimos a plenitude da vida.”