Brasileiro está lendo e escrevendo mais, mostra estudo
Livro favorito dos brasileiros é a Bíblia, segundo pesquisa

Brasileiro está lendo e escrevendo mais, mostra estudo

Pesquisa do Instituto Pró-Livro aponta que o Brasil alcançou 104 milhões de leitores

“O livro fala das condições psicológicas de um sequestro real, para depois fazer uma ponte e trazer isso para os relacionamentos do dia a dia. No qual nós nos mudamos e nos diminuímos para ser o que a outra pessoa gostaria que fôssemos”, animada, a estudante Raffaela Salgueiro conta sobre o livro “Quem me roubou de mim?”, do padre Fábio de Melo, o que ela está devorando atualmente.

“Eu amo ler, procuro sempre ler algo diferente do dia a dia estressante, pra não enlouquecer”, continua Raffaela. A estudante é mais uma dos 56% brasileiros – equivalente a 104,7 milhões de pessoas - com mais de cinco anos de estudo, que afirmaram que leram algum livro nos últimos meses, segundo a pesquisa Retratos da Leitura 2015, do Instituto Pró-Livro, que chega à quarta edição, percentual pouco maior do que o registrado na edição anterior, feita em 2011, quando 50% dos entrevistados disseram que leram ao menos um livro no ano.

O estudo divulgado nesta quinta-feira, 19, mostra que 25% dos leitores gostam de ler porque simplesmente gostam de fazer isso, enquanto 19% conta que é porque precisa de atualização cultural e de conhecimento e 15% apenas por distração, e apenas 7% por exigência externa, seja para o trabalho, ou estudos.

O livro favorito dos brasileiros é a bíblia (42%), seguido por obras de temas religiosos, romances e contos (22% cada um). O lugar favorito para leitura é dentro de casa (81%), mas a quantidade de leitores no transporte público e avião aumentou, alcançou 11%, antes era 6%.

O jornalista, professor e escritor Igor Savenhago aponta que o aumento no número de leitores deve estar ligado ao crescimento de títulos à disposição – em 2014 aumentou em 9,3% a quantidade de livros impressos no País, de acordo com a Câmara Brasileira do Livro (CBL).

“Nunca foi tão fácil publicar. Até um tempo atrás, os escritores precisavam bater de porta em porta para emplacar uma obra. Hoje, as editoras praticamente imploram para que eles enviem suas obras. Os convites chegam por e-mail, pelas redes sociais e ainda até pelo correio”, analisa Savenhago.

Para ele, isso é bom para os autores novos, que estão começando, e também para as editoras, que não têm muito custo para publicar. “Com uma maior oferta à disposição, precisa haver um maior estímulo ao consumo, o que pode explicar o leve crescimento do número de leitores”, aponta.

Mas mesmo com aumento na quantidade de leitores, os brasileiros não estão satisfeitos com a frequência da leitura, já que 43% alega falta de tempo para leitura, como a Raffaela. “Eu lia mais no ensino médio, quando a biblioteca tinha histórias interessantes e não só conteúdo acadêmico. Era meu passatempo preferido. Hoje eu ando lendo muito pouco. Nada que não seja acadêmico. Daí, passo um ou dois meses com o mesmo livro até ler tudo”, lamenta.

Além da falta de tempo, 9% dos entrevistados pela pesquisa diz que não lê porque não tem paciência ou porque prefere outra atividade, 8% por falta de bibliotecas próximo de casa, e 5% porque não gosta.

O levantamento também revela o principal hobby dos leitores. Para 24%, ler é o passatempo preferido, mas a televisão ganha, com 73% das escolhas. O curioso, no entanto, é a quantidade de pessoas que gostam de escrever. Em 2011, apenas 18% dizia que quando não tinha nada para fazer ia escrever uma história ou artigo. Quatro anos depois, isso mais do que dobrou, chegou a 40%.

O professor de língua portuguesa Luiz Cláudio Jubilato acredita que isso se deve à internet. Jubilato aponta que a rede mundial de computadores facilitou a vida para quem gosta de escrever, com a facilidade de criação de blogs, por exemplo.

“Na internet ficou muito mais fácil de escrever, até porque os textos estão cada vez mais curtos. Além disso, ele não é mais único, é coletivo. Não fica guardado na gaveta, está lá para todo mundo ver”, diz o professor, que acredita que isso faz com que discussões sejam geradas, o que aumenta a ideia de novos textos.

“Também, antes quando a pessoa pegava um papel para escrever, tinha que recorrer a um dicionário para por a palavra que tinha dúvida. No computador tem o corretor automático que indica para pessoa o jeito certo de escrever, o que também diminui o tempo”, aponta Jubilato, que mesmo assim preza pelo uso dos dicionários.


Foto: Tomaz Silva/ Agência Brasil

Compartilhar: