Bullying afeta a vida de crianças e adolescentes nas escolas
O bullying nas escolas pode afetar as decisões de adolescentes na puberdade

Bullying afeta a vida de crianças e adolescentes nas escolas

Especialistas e testemunhas apontam as consequências de atos de violência física e psicológica nas escolas e as soluções para o problema

Definido como um conjunto de atos de violência física e psicológica, intencionais e repetidos, o bullying causa impactos significantes na vida de crianças e adolescentes. Praticadas por um indivíduo ou um grupo de indivíduos, as agressões têm uma maior influência nas escolas, por serem ambientes diversos, múltiplos e heterogêneos, capazes de provocar sérias consequências se não forem monitoradas de maneira correta.

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Alessandra Perez

Há dois anos, foi sancionada a lei 13.185/2015, que ordena as escolas do país a terem campanhas e medidas de combate ao bullying, pelo Programa de Combate à Intimidação Sistemática. “A escola precisa lançar um projeto efetivo, justamente para que aqueles que sofrem qualquer tipo de intimidação se sintam seguros em procurar por um membro da escola para conversar sobre o ocorrido”, explica a pedagoga Alessandra Perez, da Universidade de Ribeirão Preto (Unaerp).

A professora conta que, em muitas vezes, aqueles que sofrem a agressão se calam justamente por medo de sofrerem retaliação por parte do agressor. Desse modo, cabe à escola assegurar um ambiente seguro para seus alunos, certificando-se que as crianças e adolescentes encontrarão um respaldo junto ao corpo docente de cada instituição.

O bullying pode afetar os envolvidos de diversas formas e intensidades. No caso dos agredidos, podem desenvolver sentimentos de medo, apatia, dificuldades com a autoestima e de aprendizagem, inclusive chegando à depressão. Já os agressores podem desenvolver dificuldades de relacionamento em geral, conflitos no trabalho e nos relacionamentos amorosos, dificuldades com regras e limites na vida adulta, conflitos com a lei, culminando em agressões e até uso ou abuso de substâncias.

Kátia Paschoali

Recentemente, em outubro de 2017, um estudante de 14 anos que sofria bullying entrou armado em uma escola particular de Goiânia e matou dois outros estudantes e deixou quatro feridos. Segundo relatos de colegas de classe do colégio, o adolescente era constantemente chamado de “fedorento pois não usava desodorante”.

“As coisas não acontecem de uma hora para outra, sempre existem sinais para os quais nem sempre estamos atentos. Bullying é sempre algo agressivo, diferente de uma brincadeira. É repetitivo, dirigido a uma pessoa específica, praticado por pessoas específicas, sempre humilhante e amedrontador”, diz a psicóloga Kátia Paschoali. “As reações mais intensas de uma pessoa dependem da fragilidade dela, do tempo que ela foi maltratada, mas também do seu contexto e da rede de apoio e ajuda de que ela dispõe”, completa Kátia.

Talissa Silverio

A estudante Talissa Silverio revela que, por conta de as pessoas a zombarem por “ter um cabelo ruim” na escola, resolveu alisar seu cabelo cacheado, com apenas 11 anos de idade. “Faziam comparações com bombril e outras coisas, isso afetava muito minha autoestima na época. Mesmo assim, eu ficava mais de 5 horas no salão e era horrível, porque minha garganta fechava, meus olhos ardiam muito”, relata a estudante.

Por muito tempo, Talissa permaneceu alisando o cabelo por causa das agressões verbais que sofria na escola. A estudante conta que somente aos 21 anos passou a aceitar o estado natural do seu cabelo e que não deveria ter vergonha. “Quando você está na puberdade tudo começa a mudar, é bem difícil. Mas hoje vejo que não deveria ligar para isso”, conclui Talissa.

As medidas que devem ser tomadas, tanto para evitar casos pequenos como extremos, incluem disseminar o conhecimento e incentivar o debate sobre as agressões dentro do ambiente escolar, além de ensinar a crianças e adolescentes importantes valores como o respeito, a fim de impedir atitudes preconceituosas e discriminatórias.

“Nada melhor que um diálogo que se torne consciência e provoque mudança e não somente um falatório sem sentido. Com professores mediadores e uma equipe multidisciplinar com psicólogos e orientadores educacionais é possível dar o atendimento adequado aos alunos e também aos pais”, afirma a pedagoga Alessandra.

Com colaborações de Gabriela Maulim.


Fotos: Arquivo Revide/Amanda Bueno/Arquivo Pessoal

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