Crônicas de uma viajante

Crônicas de uma viajante

A escritora Isabella Lotufo, de Ribeirão Preto, mora nos Países Baixos e compartilha algumas de suas experiências em solo europeu

Matéria publicada na edição 1099 da revista Revide.

Natural de Ribeirão Preto, a escritora Isabella Lotufo cruzou o Atlântico para ter mais contato com duas paixões: as letras e as bicicletas. Formada em Letras pela Universidade de Ribeirão Preto (USP), ela estuda literatura inglesa na Universidade de Groningen, nos Países Baixos.

As bicicletas, segundo a própria escritora, vêm de um sonho de morar em um país onde pudesse abrir mão do carro ou, pelo menos, não ser dependente de um automóvel. Tão presentes quanto as tulipas, as bicicletas são um meio de transporte quase onipresente nos Países Baixos. Na entrevista a seguir, Isabella falou sobre o dia-a-dia de uma estrangeira em solo europeu. Para quem quiser acompanha-la nessa jornada, Isabella escreve o blog “Crônicas de uma viajante”, no Portal Revide.

Qual foi o motivo que te fez se mudar para os Países Baixos?

Acho que o primeiro motivo foram as bicicletas. O país é plano e os neerlandeses amam bicicletas. Meu marido adora pedalar e queria morar em um país onde pudesse não ter carro ou, pelo menos, não ser dependente de um carro. O segundo motivo é porque os Países Baixos ficam na Europa e nós temos cidadania europeia. O terceiro motivo é que os Países Baixos são bem consciente em relação às mudanças climáticas e é um país que se preocupa com a igualdade social. São qualidades que nós apreciamos. Além de ser um país que fala inglês, tem ótima educação universitária e é aberto a receber expatriados.

A língua tem sido uma barreira para você?

Aprender holandês para mim é uma questão de respeito porque escolhi morar aqui e estou sendo bem acolhida. A gente percebe que eles preferem que a gente, como expatriados, se esforce. Mas, até hoje, não conheci um holandês que não fale inglês perfeito.

Quais traços culturais destacaria como os que você tem mais dificuldade em se adaptar com os neerlandeses?

Eles são bem egoístas e “direto ao ponto” [risos]. Mas são muito justos e honestos. A nossa bicicleta foi roubada no final do ano passado. Duas semanas depois, a Polícia achou e devolveu para a gente.

Como tem sido a sua vida acadêmica? Sentiu muita diferença em relação ao ritmo brasileiro?

A minha vida acadêmica é bem intensa. O ensino é completamente diferente do brasileiro. Eu já tinha sentido isso quando estudei em Londres. A educação é diferente desde o jardim da infância. Então, quando você chega na faculdade, isso se reflete. No meu caso, sinto dificuldade em relação ao pensamento crítico. Eu estudo em uma universidade tradicional de pesquisa. A Universidade de Groningen é de 1614 e está entre as 100 melhores universidades do mundo. Aqui todo mundo estuda sozinho. Você tem mais ou menos 10 horas de aula por semana, mas é esperado que estude 40. Você tem que sentar na biblioteca, em casa, ou em um café e estudar, não só para a prova, mas para a aula da semana. A gente estuda antes de ter a aula. Isso requer muita disciplina. Outra coisa que para mim é difícil é porque estudo Literatura Inglesa e o curso é 100% em inglês. Então, há uma dificuldade com a língua.

Quais dicas você daria para os brasileiros que pretendem se mudar para os Países Baixos ou outros países da Europa?

Os Países Baixos são bons para quem fala bem inglês e gosta das coisas certinhas. É inovador em relação à sustentabilidade. Não é um país muito criativo, mas é um exemplo de justiça e de igualdade social. O governo ajuda as pessoas e o país recebe muito bem os expatriados. As crianças são extremamente bem tratadas. Eu tenho duas filhas pequenas e elas são felizes aqui. As escolas são públicas e ótimas. Os parquinhos são lindos e muito bem cuidados. Porém, o clima holandês não é o mais bonito. Metade do ano é sol e frio, e a outra metade é frio e nublado.

Sobre a Covid-19, os Países Baixos tiveram períodos de lockdown e medidas restritivas mais sérias. Em contrapartida, foram um dos primeiros países da Europa a relaxar o uso de máscara ainda em 2021. Como você avalia a evolução da pandemia?

Eu percebo que a população respeita as autoridades. Se o teste de Covid dá positivo, você tem que avisar o GGD (um órgão de saúde). Você é obrigado a avisar o GGD. E todo mundo avisa. Então, o país tem um controle próximo do que está acontecendo com a saúde da população. Isso ajuda a balizar a pandemia dentro do país e a planejar restrições. Eu tomei as três doses da vacina e sei de muita gente que também tomou. Parece que há mais de 80% de adultos vacinados. O governo estimula a vacinação, mas fica a critério de cada um tomar ou não tomar. 


Foto Arquivo Pessoal

Compartilhar: