É coisa de homem: sem medo do preconceito, eles entram em áreas historicamente femininas
Psicólogo aponta que muitos dos estereótipos que criamos são construções culturais e sociais

É coisa de homem: sem medo do preconceito, eles entram em áreas historicamente femininas

Para os entrevistados, o importante é a conexão que cada um tem com a área, ser "de homem" ou "de mulher" não afeta em nada

“Isso não é coisa de homem” é o que muitos escutam ao escolherem certas profissões, atividades e hobbies. A pressão do preconceito e da não aceitação familiar pode esmagar os sonhos de um jovem com um futuro promissor, simplesmente porque alguém não aceita que um homem, ou uma mulher, realize determinada ação.

O psicólogo Felipe Areco explica que esses estereótipos são, no geral, construções culturais e sociais. São ideias passadas de gerações em gerações, dos pais para os filhos e também no contato com pessoas próximas. Mesmo na área da psicologia, há este preconceito.

"Um ponto de partida para refletirmos é como a sociedade influência nessa ideia de que uma profissão só possa ser executada por determinado gênero. Por tratar de um público majoritariamente feminino e por lidar com emoções, muitas pessoas pensam que a psicologia deve ser feita apenas por mulheres. Sendo que na verdade, este perfil também cabe ao homem", explica o psicólogo.

Vale ressaltar que para as mulheres o cenário também está mudando. Mesmo em profissões que exigiam força física – fator que no geral colocam os homens em vantagens em determinadas áreas –  o número de mulheres só vem aumentando nos últimos anos. Além de outras áreas historicamente dominadas por homens, que cada vez mais é ocupada por outros gêneros

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Pedagogia

 Segundo o Censo da Educação Superior, em 2015, 652 mil estudantes se matricularam em cursos de pedagogia no Brasil. As mulheres representavam 93% desse número, o equivalente a 606 mil matrículas. Levando em consideração que alguns homens que optam por essa área partem para o campo acadêmico, restam menos de 7% dos pedagogos atuando diretamente com crianças.

Um deles é o professor Edison de Jesus Firmino Junior, que atua em uma creche na Zona Oeste de Ribeirão Preto. Segundo Junior, a ideia inicial era cursas física, porém, como não encontrou turma em seu ano de vestibular, partiu para pedagogia e se apaixonou pela área.

O pedagogo ressalta que o que mais acrescenta ao seu ambiente de trabalho é justamente o fato de ser um homem em uma área dominada por mulheres. De acordo com ele, muitas crianças que chegam à creche carecem da figura de uma figura masculina em casa. “Muitos não tem pai, são criados por avós, mães solteiras ou o pai é presidiário. Saber disso aumenta a minha dedicação à profissão, me sinto bem vendo uma criança feliz”, revela Firmino.

Contudo, o educador ressalta que há uma diferença entre executar o papel paterno e o de pedagogo. Firmino, que tem três filhos, explica a diferença.  “O papel do pai no ambiente familiar representa para a criança quase que um super-herói. Alguém que resolve tudo e que impõe as leis. O educador infantil será um espelho para a criança e tem o papel de formá-la e transformá-la para o futuro”, finaliza.

 

Dança

Por esperar leveza nos movimentos, a dança é, geralmente, entendida como uma atividade feminina. Porém, a frase anterior está completamente equivocada. Nem só de leveza vive a dança e, apesar de ter maioria feminina, ela também é um espaço para homens. Felizmente, a família do professor de sapateado Rodrigo Lima entendeu isso desde cedo.

Ainda na creche, aos oito anos de idade, Lima fez parte de um projeto social que oferecia aulas de dança. Com o apoio de pessoas próximas, o dançarino cresceu em sua área. Porém, o preconceito o incomodou durante a adolescência. “Durante minha infância, se teve preconceito, eu nunca me importei. Senti durante a adolescência e foi algo que me incomodou por um tempo”, conta o dançarino que conseguiu superar as adversidades e seguir a carreira.

Por fim, Lima comenta que não acredita no argumento de que a dança seja “coisa de mulher”. “Eu não acredito nisso de ‘coisa de homem’ ou ‘coisa de mulher’. Se mexe com você e te faz bem, vá fundo. A sociedade criou essas molduras no passado e não precisamos ser uma pessoa limitada por conta disso. E se um dia eu precisar tentar explicar isso pra alguém, vou contar sobre grandes homens que transformaram e transformam a dança. Principalmente aqui no Brasil”.

 

Pole Dance

Quase instantaneamente relacionado à sensualidade e striptease, o pole dance é uma área de maioria feminina. Contudo, vai muito além.  Com diversas modalidades e até competições internacionais, a prática vem vencendo o preconceito e se consolidando como uma atividade física que exige muito preparo físico e treino.

Em Ribeirão Preto, um dos únicos homens que praticam esta atividade e está na ativa é o estudante de educação física Rafael Carlet. O jovem relata que era muito sedentário e não tinha o mínimo de interesse em praticar atividades físicas. Começou a vida acadêmica cursando Direito, mas não se encontrou. Foi após ver um vídeo no Facebook de um homem praticando o pole dance que a vida de Rafael mudou completamente.

"Quando eu vi o vídeo pensei ‘isso é muito bacana, quero isso para a minha vida’. Conheci um lado do pole que não conhecia, me interessei pelas diferentes vertentes e técnicas", conta o estudante. Após esse episódio, Rafael fez uma aula experimental em um estúdio de Ribeirão Preto, na qual teve certeza que essa era a sua praia. “Nunca tinha me encontrado em algo tanto quanto no pole dance", admite.

Ele também relembra que no início enfrentou resistência da mãe, mas depois de desmistificá-lo, mostrando todas as vertentes e explicando que o esporte não se resumia somente à sensualidade, os pais entenderam o desejo do filho.

O então estudante de Direito largou o vade mecum e partiu para a Educação Física. Depois de se destacar no pole dance e fazer diversos cursos, Rafael atualmente dá aulas na área e convida a todos para experimentarem a atividade. “Além de ser uma atividade física maravilhosa, o pole faz muito bem para a autoestima, é empoderador”.

Confira no vídeo abaixo uma exibição de Rafael no pole dance.

 

 

 


Fotos: Arquivo pessoal

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