Engenheiro de Ribeirão Preto transforma materiais descartados em arte
Engenheiro de Ribeirão Preto recicla materiais da rua através de histórias fictícias

Engenheiro de Ribeirão Preto transforma materiais descartados em arte

Moro, que vive no bairro Monte Alegre, faz objetos virarem verdadeiras obras primas; Confira galeria de fotos

Um morador do Bairro Monte Alegre, de Ribeirão Preto, tira do lixo histórias para criar sua arte em mosaicos. Carlos Alberto Moro nasceu com alma de artista: ganhou concursos quando criança com esculturas em pedra-sabão. Mas a vida o transformou em engenheiro e funcionário público e só agora, com os filhos adultos, conseguiu dar vazão ao dom de transformar descartes em objetos de arte e decoração.

Seu sonho é ver as praças públicas de Ribeirão Preto se tornarem galerias a céu aberto, abrigando obras de artistas locais, mas por enquanto ele se contenta em resgatar histórias do lixo. Restaura vasos e constrói mesas decorativas e tantos outros objetos. Vê potencial em materiais diversos. Há anos trabalha num grande painel que chama provisoriamente de “São Francisco no Brasil”. O painel, conta Moro, retrata o Santo cercado de animais da fauna brasileira. "Sou admirador dele”, diz.

Inspirado por impressionistas – Monet, Degas, Renoir - e motivado pelo artista plástico de Ribeirão Preto Rinart di Romano, Moro insiste que não tem talento para arte e que seu trabalho é artesanato. Mas o fato é que suas peças, todas reaproveitadas de descartes encontrados pelas ruas da cidade, estão ornamentando casas e jardins de sua família e amigos. Até a Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP já ganhou duas de suas mesas com tampo de mosaico, reproduzindo brasão da faculdade.

O artista usa material garimpado em “ferro velho” e caçambas. Combina arame de aço e argamassa, juntando pedaços de vasos, principalmente, que “ao final ficam mais resistentes que o original”. As técnicas de restauro desses objetos ficam mais fáceis para Moro, que é engenheiro civil, mas ele garante que não há nada que uma dose de boa vontade não possa concretizar.

Mas para fazer tudo isso, ele tem outro segredo: a imaginação que cria uma história para cada peça. Seu trabalho envolve reciclagem com restauro e criação. Diz que, às vezes, se pensa meio insano, pois acredita mesmo numa “forte relação entre a criação e a reciclagem”. Para Moro, tudo acontece de uma forma bem natural, sem planejamento.

A “mania de reaproveitar tudo”, como ele mesmo define, tornou-se seu hobby. “Olho um objeto e imagino no que ele pode se transformar. Já revesti vasos novos, mas é muito mais gratificante quando dou luz a um amontoado de entulho”. E, para concretizar cada projeto, usa a imaginação, criando uma anedota para cada peça.

Moro conta que o primeiro vaso que restaurou foi encontrado aos cacos perto de sua casa. É enfeitado “com bocas, orelhas e nariz e não tem nada a ver com cerâmicas brasileiras”. Como não conhecia a história dele, criou uma.

Ele ainda disse que este foi um dos primeiros matérias que reciclou e decorou.  “Eu demorei um grande período para criar coragem e pegar esse vaso ornamental. Sonho um dia encontrar o antigo dono que o descartou e mostrar como esta hoje. Sem dúvida é um dos meus trabalhos favoritos”, conta.

Moro garante que essa história para a peça ajuda no processo criativo. Hoje, por exemplo, trabalha numa que chamará “Eva”. Como tudo começou com um manequim, garimpado num ferro velho, ele imaginou que se trata de uma linda bailarina que sonhava brilhar no balé clássico, mas o destino a transformou em manequim decadente e foi parar num aterro de resíduos sólidos. Agora, resgatada pelo engenheiro, poderá ter um final mais glamoroso.

O engenheiro diz que também esculpe em pedra-sabão, coleciona objetos e até produz seu próprio licor. Sua casa está repleta de itens prontos e materiais a serem utilizados, além de todo estoque de peças e objetos encontrados na rua para as montagens.

“Para quem tem interesse em aprender sobre como é o processo de reciclagem, é só entrar em contato com vocês [o Portal Revide] e me procurar. Faço isso por hobbie, mas é um trabalho que envolve a sociedade, ficarei grato de mostrar o funcionamento para as pessoas", finaliza Moro.


Fotos: Pedro Gomes

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