Com a palavra, mães respeitosas
Selecionamos algumas falas inéditas das mães entrevistadas para a matéria sobre Educação Respeitosa. Seguem:
MARIANA PAES LEMES FERRIANI
Médica pediatra casada com
o jornalista Eduardo Petrella e
mãe da Maria, 7, e do Diego, 3.
SEM FILTROS
“As crianças são muito generosas. Elas mostram o que realmente estão sentindo, sem filtros e com toda intensidade.”
SOBRE CONEXÃO
“Quando a criança está com um comportamento desafiador, se não é fome, não é sono, é falta de conexão. É porque eu não estou presente emocionalmente com ela. Mesmo às vezes estando ao lado dela, mas com a cabeça longe, com atenção no celular por exemplo, não estou presente.”
“Como pediatra eu atendo adulto e criança e vejo que dá para ficar no superficial, no automático, delegar cuidado, mas dificilmente se vai conseguir gerar uma conexão com os filhos assim. A Laura Gutman, uma das referências bacanas nessa área, fala que há os pais e mães que não entraram na piscina, não afundaram. O bebê nasceu, mas eles continuaram fora.”
OUTRAS VIOLÊNCIAS
“Infelizmente, a violência contra as crianças ainda está em todo lugar e vejo muito na minha prática profissional. Não só entre as famílias, mas colegas pediatras sendo violentos. Não violência física, mas de forçar situações, como de o profissional olhar a para mãe e dizer: ‘nossa, ela tem 2 anos e ainda usa chupeta? Ainda usa fralda? Ainda está com mamadeira?’”.
DESENVOLVIMENTO NATURAL
“Descobri que o desfralde é como apender a andar. Acontece na hora em que o corpo da criança, que está se desenvolvendo, aprende a controlar o esfíncter. Claro que os pais podem apresentar a privada a ela, mas não se deve forçar treinamento para isso. Tive oportunidade de ver isso com minha filha. Um dia, percebi que a fralda não estava mais ficando molhada. Ela tinha 3 anos. Meu caçula tem 3 anos e quatro meses e por enquanto dá poucos sinais de tirar a fralda. Deixa ele, na hora dele... É difícil, desafiador, mas é muito bonito de ver quando a gente consegue.”
PODER DO ADULTO
Ver em minha filha um olhar assustado, de medo de mim, me desestabiliza, me destrói. Penso: ‘olha o poder que eu tenho de fazer o mal’. Mas graças a Deus, estou tentando canalizar para o lado de empoderamento do respeito mesmo.
THAÍS SOUZA
Jornalista, casada com o
empresário Walter Lima de Souza
e mãe do Miguel, 9, e do Caetano,7.
HOMEM CHORA
“O Waltinho [marido] foi chorar de verdade depois dos 35 anos. porque ele não sabia. Não conseguia chorar por conta de ter sido tolhido na infância com aquelas frases: ‘menino não chora”, “engole esse choro’. Esse tipo de coisa que a gente ouve quando é criança.
CRIANÇA TEM QUERER
“Respeitar um bebê que você só coloca na caminha, bonitinho, depois que deu leite, trocou a fralda, é uma coisa. Mas conforme o filho vai crescendo e começa a se entender como indivíduo – porque a criança é um ser de vontade e de direito, embora a sociedade não entenda isso –, passa a questionar o que mãe e pai fazem ou a querer impor as suas vontades. Eles têm suas opiniões e os pais estão aqui para orientá-los.”
INTELIGÊNCIA EMOCIONAL
“Na hora da birra, em que a criança se joga no chão, ou quando não quer seguir a rotina da casa, jantar, fazer a tarefa [...]faz a gente brigar muito com a nossa criança interna. Porque a gente não foi respeitado, nosso primeiro pensamento é: ‘eu não tive escolha quando era pequena, então você não vai ter também’. E aí que precisa entrar a sacada da inteligência emocional.”
CAUSA E EFEITO
Eles não têm que fazer o que a gente deseja que eles façam. A gente nem trabalha com castigo aqui em casa. Estamos aqui para instruí-los, tipo: ‘olha, é bacana fazer isso, mas você tem o livre arbítrio de não fazer; porém, vai ter uma consequência lá na frente’. Tudo na vida é causa e efeito, ação e consequência.
PRINCIPAL FERRAMENTA
“O que a gente pode fazer enquanto pais é dar ferramentas para eles, sendo o respeito a principal. Porque o primeiro senso de coletividade e de sociedade que eles têm é a própria casa. É a aldeia deles. Então, para mim, é muito natural que o respeito esteja aqui dentro da casa deles.”
INEGOCIÁVEIS
“Existem coisas inegociáveis na nossa casa e a rotina precisa ser seguida. Eles precisam comer bem durante a semana e no final de semana a gente abre algumas exceções. Mas em tudo a gente envolve os meninos nas decisões.”
MESMO RUMO
“Eles não estão batalhando contra a gente. É que eles ainda não têm a noção de onde é Norte, que é a gente [pais] que deve dar. No barco da nossa família todo mundo está indo para o mesmo lugar. Só que o remo está comigo com o Waltinho. Se deixar o remo na mão deles, cada um vai querer remar para um lado.”
ATENÇÃO
“As pessoas esquecem que obedecer é ouvir com atenção. Se o seu filho te ouve com atenção é porque você o ouve com atenção e as coisas fluem. Não é aquela obediência cega.”
BARGANHA, NÃO!
“‘Ah, se você fizer isso, a mamãe vai ficar triste!’. Isso é um jogo de barganha, uma chantagem emocional que a criança vai levar para o resto sua vida depois que crescer e vai construir em suas relações no trabalho, nas relações amorosas e com os amigos. E sabemos o quanto isso é tóxico e danoso.
Foto: Luan Porto