Mudança na trajetória

Mudança na trajetória

Apesar de estarmos no século XXI, as mulheres ainda precisam lutar para conseguir seus espaços, derrubar preconceitos e alcançar seus direitos

Você sabia que as mulheres só conquistaram o direito de acessar as faculdades brasileiras em 1879? Que, há 90 anos, elas não podiam votar no país? E que não podiam trabalhar fora sem autorização de seus maridos há 60 anos? Apenas na Constituição de 1988 o Brasil passa a reconhecer as mulheres como iguais aos homens. Até 2018, a importunação sexual feminina não era considerada crime. São muitas as conquistas femininas ao longo da história. Já estamos no século XXI, mas as mulheres ainda precisam lutar muito para garantir seus espaços, vencer preconceitos e conquistar mais direitos. É o que explica a presidente da Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil – seccional de Ribeirão Preto (OAB-RP), a advogada Perla Carolina Leal Silva Müller. “Embora nossa luta seja antiga, nossas conquistas são relativamente recentes em termos históricos, o que mostra o quanto temos a avançar, lutar e conquistar. Nossa representação, do ponto de vista quantitativo, ainda é tímida e minoritária, mas temos ocupado cada vez mais e melhor diversos espaços. Por isso, considero como uma importante conquista recente a promulgação da lei 14.192/21, que visa prevenir, reprimir e combater a violência política contra a mulher. É mais uma garantia no sentido de podermos, enfim, ocupar livremente espaços de poder considerados, pelo imaginário social, ‘naturalmente’ masculinos. Essa lei garante a efetiva e ampla participação feminina nos debates eleitorais e nas tomadas de decisões nos espaços políticos e de poder do país”, afirma.

Perla defende que a mulher precisa multiplicar e amplificar sua voz para conseguir cada vez mais espaçosPara os próximos anos, Perla defende que as mulheres precisam prosseguir a conquista do respeito a seus corpos, desejos, necessidades e integridade, pela garantia do exercício pleno da sua cidadania e efetiva salvaguarda de sua dignidade. “Isso significa conquistar a possibilidade de ocuparmos, por vontade livre, informadas e conscientes, os espaços públicos e privados por direito”, defende. Segundo a advogada, o que a mulher precisa fazer para conseguir mais espaço é multiplicar e amplificar sua voz. “Precisamos ocupar as salas de aulas, como alunas e como docentes; ocupar o Judiciário como jurisdicionadas, buscando a defesa de nossos direitos e, como juízas, decidindo os conflitos sociais; ocupar o Legislativo em todos os níveis, seja como cidadãs, em audiências públicas, nas cobranças das promessas políticas dos eleitos, nas denúncias de lesão à coisa pública, mas também como vereadoras, deputadas, senadoras; precisamos ocupar os governos como administradas, mas, principalmente, como administradoras, prefeitas, governadoras e presidentes da República; ocupar os sindicatos, as ruas, os teatros, a literatura, os esportes, as fábricas, a ciência, a técnica, as cidades e o campo. Precisamos estar visíveis e audíveis em todos os espaços”, ressalta.

Além disso, a presidente da Comissão de Direitos Humanos da OAB-RP defende que o feminismo é essencial e, sem esse movimento, as mulheres não teriam avançado. “Não há dúvida de que, sem ele, não estaríamos onde estamos. Os feminismos são as expressões, manifestações e a materialização das lutas das mulheres. São recortes raciais, sexuais, etários, estéticos, econômicos, geográficos. Nós não podemos permitir a deslegitimação ou a depreciação dos feminismos, pois seríamos coniventes com a estratégia de desmobilizar as mulheres e enfraquecer nossos movimentos. Penso que, para desmistificar ou desnudar a beleza dos feminismos, havemos de compreendê-los como a via de construção de uma sociedade mais justa e igualitária, de construção de novos marcos de fato civilizatórios”, argumenta Perla.

Sobre a arte da capa

Uma mulher com coragem de olhar para o mundo e sentir o que se tem para sentir e escolher o que se tem para sonhar. É assim que a artista plástica Regina Rennó descreve sua obra de arte que abrilhanta a capa desta edição especial da Revide, em homenagem ao Dia Internacional da Mulher, celebrado todo 8 de março. A imagem representa todas as mulheres inspiradoras que estampam as páginas desta revista – inclusive, a própria artista. Regina é formada em Artes Plásticas e Gráficas na Escola Guignard, da Universidade Estadual de Minas Gerais (UEMG). Realizou exposições, é autora de livros com texto e narrativas de imagens e ilustradora de livros de outros autores. Ela conta que, desde pequena, tinha interesse pelas imagens de tudo o que via ao seu redor. “Brincava de entender o que os olhos dos outros queriam me dizer e era como se eu pudesse adivinhar o que estavam sentindo. Assim, fui ampliando meu campo de visão e os meus sentidos”, revela.

Ela acredita que o caminho das artes plásticas é difícil para qualquer um. “Mas, eu me atreveria a dizer, pensando sobre minha vivência, que talvez seja um desafio maior para a mulher. Em nossa cultura, ainda recai sobre nós o cuidado com os filhos e a família, além de ser provedora de recursos financeiros para tudo isso. Ao longo da vida de uma mulher, faltam o tempo e as condições necessárias para que o processo de criação se desenvolva. É preciso uma dose boa de teimosia para não desistir”, garante. 

Para Regina, as conquistas femininas estão em curso, pois não estão consolidadas em nossa cultura, o que impõe que a luta nunca perca ritmo e força. “Porém, entre as conquistas mais recentes, estão colocar o feminismo, a misoginia, a violência contra a mulher, o assédio e o machismo na pauta política do país. Os governantes, quase todos homens, estão tendo que aprender sobre essas questões porque fica feio fazer discursos ou ter posicionamentos machistas”, ressalta. 

Sobre o projeto

Para um projeto tão especial como este, a Revide contou com o olhar sensível da fotógrafa Lídia Muradás, que conseguiu capturar, com maestria, as nuances dessas 24 mulheres, transformando as imagens em verdadeiras obras de arte. “O que mais me marcou nesse ensaio foi a parceria incrível que estabelecemos com cada uma destas lindas mulheres, que se entregaram para esse projeto. Tudo fluiu com uma energia e uma conexão maravilhosa”, revela Lídia. A parte da produção ficou por conta do talentoso Robes Britto. “Participar desse projeto me faz olhar para um universo tão particular e tão forte e cheio de tantos sentimentos e valores. Estou transbordando de alegria e de orgulho”, declara. A locação escolhida para ambientar os retratos com muita elegância e sofisticação foi a loja Lider Interiores. Além de ilustrar as páginas desta publicação, as imagens selecionadas serão expostas no RibeirãoShopping. A mostra pode ser apreciada, gratuitamente, de 8 a 31 de março, no Setor Mogiana.


Foto: Revide

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