Mulher de Serrana carrega o próprio neto em barriga solidária
Valdira Andrade das Neves aceitou carregar o filho de Marcelo

Mulher de Serrana carrega o próprio neto em barriga solidária

Marcelo das Neves é solteiro e escolheu a mãe para gerar seu filho por fertilização in vitro

Parece roteiro de novela, mas é vida real. O estudante Marcelo das Neves Junior escolheu a mãe, Valdira Andrade das Neves, de 44 anos, para carregar o filho por fertilização in vitro, na cidade de Serrana.

Há dois anos, a mãe de Marcelo perdeu um bebê com sete meses de gestação e entrou em depressão. Hoje, Valdira carrega o próprio neto. “Tenho em mente que o filho é dele e não meu. Estou doando uma vida para ele, gerando meu neto e fazendo um ato de amor”, explica a mãe, que mora junto com Marcelo. Uma doadora anônima doou os óvulos necessários para fertilizarem dois dos quatro embriões formados. A fertilização foi feita na última semana.

Segundo o Conselho Federal de Medicina (CFM), a expressão “barriga de aluguel” foi descartada pelo novo termo “barriga solidária”. Tal processo, permitido por lei, possibilita que um casal homossexual tenha filhos pela fertilização in vitro, desde que a mulher escolhida para gerar a criança seja um membro consanguíneo de até quarto grau da família do casal. O sêmen é providenciado por um dos parceiros e os óvulos por meio de um banco de doadoras anônimas.

Porém, essa não foi a situação com o estudante. “Tenho certo idealismo sobre relacionamentos, não acho que hoje existam muitos deles duradouros e optei pela produção independente”, explica Marcelo. Homossexual e solteiro, ele afirma ser o primeiro caso de fertilização in vitro por produção independente masculina no Brasil.

Para conseguir realizar a fertilização in vitro, os dois passaram quase três meses indo a avaliações psicológicas, duas vezes por semana, para obter laudos de um profissional atestando que eles tenham condições psicológicas para levar o processo da barriga solidária adiante. Além disso, Marcelo e Valdira tiveram o auxílio de um advogado para assinarem documentos e termos de consentimento, para os pais do estudante autorizarem a entrega do bebê ao nascer.

“Tivemos bastantes barreiras e problemas com documentação, a própria clínica não soube o que fazer. Eles vão até inovar o processo para poderem atender melhor um eventual caso desses da próxima vez, seja de um casal ou de apenas uma pessoa homossexual”, conta o estudante.

Como se trata de uma produção independente, o registro do bebê será apenas no nome de Marcelo, que será ao mesmo tempo o pai e a mãe da criança. No Brasil, a produção independente feminina já existe. O estudante conta que considera a ideia de adotar bonita, mas que seu desejo era ver suas características na criança, assim como qualquer pessoa ou casal comum.

Agora, ele e a mãe aguardam ansiosamente os primeiros meses de gestação. “Como foram transferidos dois embriões pode acontecer, mas não é uma certeza. Se ocorrer, temos a preocupação pela saúde da minha mãe, por ela ter 44 anos, mas estamos preparados”, conclui o estudante.

Leia mais sobre a história na RS - Revide Saúde deste bimestre.


Fotos: Ibraim Leão

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