Mulheres relatam emoções e as expectativas da comemoração do primeiro Dia das Mães

Mulheres relatam emoções e as expectativas da comemoração do primeiro Dia das Mães

Gestantes contam como é a gravidez durante isolamento social e preocupação com o futuro por conta da pandemia do coronavírus

Para vários especialistas que atuam na área da Obstetrícia, o caminho da maternidade começa a partir do momento que surge o desejo de ter um filho, não apenas no nascimento. Tornar-se mãe é um processo individual, construído dia após dia, gradativamente. Essa nova função vai ganhando contornos de realidade durante a gestação.

Enquanto o bebê ainda se desenvolve no útero, as mudanças físicas e emocionais, temporárias ou permanentes, preparam a mulher para encarar essa transição radical. Vivenciar essa experiência, marcada por expectativas e incertezas, pela primeira vez, gera um misto de sentimentos intenso, que tem sido potencializado pela pandemia.

O novo coronavírus, que parecia estar tão distante, chegou adicionando mais preocupações — que não eram poucas — à rotina de quem vive essa doce espera, como Jana Lima, Paula Roberta Garcia Naldi, Maê Guiguet e Roberta Baldin Moisés. Confira, a seguir, o relato dessas mulheres, para quem este domingo, 10, Dia das Mães, terá um gostinho especial.

O presente mais esperado - Jana Lima, cantora

Foto: Lidia Muradás

“Fui casada e durante dois anos fiz tratamentos para engravidar. Planejei, sonhei, pedi a Deus, mas não aconteceu. Não era para ser no momento em que eu esperava. Prestes a fazer 38 anos, meu casamento chegou ao fim e, com ele, os planos maternos também. Foi um luto duplo. No meu inconsciente, me achava ‘velha demais’ para começar tudo de novo. Próximo de completar 40 anos, aquele sonho antigo da maternidade ainda estava presente, mais vivo do que nunca, porém, ainda acompanhado da triste crença de que já era tarde. Mas o universo sempre pode surpreender.

O tempo fez minha vida fluir e, em uma fase descontraída, divertida, sem pressão e ainda solteira, reencontrei um amigo que se tornou um ‘crush’ e, rapidamente, o pai de um filho meu. Foi um susto. O presente mais esperado estava chegando embrulhado de uma forma totalmente diferente da que eu esperava. Assim que a surpresa passou, tive a certeza do quanto fui abençoada. Entendi que era para acontecer assim, nesse tempo e desse jeito. O processo de me sentir mãe tem sido um caminho gostoso. No início, parecia que era mentira. Aí, ouvi o coração dele no ultrassom e foi uma emoção indescritível. Depois, vieram os primeiros chutes e a barriga foi crescendo. Agora, com 30 semanas, estou ansiosa para ver o rostinho dele e senti-lo em meus braços. A ficha vai caindo aos poucos. A felicidade e a expectativa de ter o Caetano a caminho só aumentam a cada dia.

Viver a gestação em meio a essa pandemia tem feito tudo ser mais intenso. Por não estar trabalhando, acabei me aprofundando nessa experiência. Uso o tempo para curtir e me informar sobre o cuidado com o bebê, educação e enxoval. Confesso que a ideia de ficar sem contato social, a rápida proliferação da doença e as incertezas me assustaram, mas entendi que tudo o que está a meu alcance é fazer a minha parte. Cumpro o isolamento, utilizo máscara e faço a assepsia das mãos e de objetos. Mantenho a fé de que esse caos vai passar e espero que esse período sirva para nos trazer aprendizados. Nunca ficou tão claro quão necessário é estarmos atentos aos reflexos de nossos atos, pensando no próximo”.

 

A beleza da maternidade real - Paula Roberta Garcia Naldi, psicóloga e doula

Foto: Luan Porto

“A construção da minha maternidade é um processo que já vem acontecendo muito antes do teste positivo. A jornada de um casal tentante não é nada fácil e nem romântica. Muitas vezes, é solitária e silenciosa. O fato de ser uma profissional da área materno-infantil acaba aumentando os questionamentos, as expetativas e as cobranças, internas e externas, que, posso afirmar, são bem doloridas.

Tudo isso, no entanto, ensinou-me muito sobre mim, sobre o meu feminino, sobre acolhimento e sobre poder criar um espaço para o que não é dito, apenas sentido. Temos de deixar as idealizações de lado e olhar para a maternidade real, que causa uma transformação em nossas vidas, muito além do que podemos imaginar.
Sou extremamente grata por cada família, mulher, bebê que tive o prazer, a honra de ser um canal de apoio em seus processos. Sem dúvida, as experiências que compartilhamos têm me ajudado.

Estou gestante de 28 semanas da Maya, nossa peixinha que simboliza renascimento, fertilidade e transformação. Para chegarmos até esse ponto, tive de me conectar com o meu corpo, respeitar a minha história e a do meu marido, trabalhar a minha espiritualidade. Aprendi a lidar com o aqui e o agora, com o tempo de cada um, abandonando crenças e encontrando oportunidades de crescimento. Ser mãe é assumir essa vulnerabilidade, esse amor incondicional que enfrenta as luzes e as sombras. É uma eterna revisão de si.

Passar por isso, em plena pandemia, colocou-me ainda mais nesse lugar, pois muitos caminhos conhecidos estão tendo de ser reinventados. Não sabemos como será o amanhã. Entramos em contato com sentimentos, pensamentos e ações que sequer tínhamos conhecimento sobre nós, sobre pessoas, sobre o mundo e sobre a vida. Difícil viver essa gestação tão esperada sem ter ideia de quando isso terá fim, repensando a minha atuação profissional e afastada da minha família e dos meus amigos. Eu me pego refletindo sobre como será o mundo que minha filha vai encontrar. O que espero e peço todos os dias é que eu consiga ter sensibilidade suficiente para compreender tudo o que preciso para apoiá-la nessa jornada aqui na Terra”.

 

Uma experiência única - Maê Guiguet, digital influencer e adestradora

Foto: Victoria Junqueira

“Ser mãe estava nos meus planos desde o começo de 2019, quando tive uma gestação interrompida. Passei por situações complicadas, mas que me fizeram evoluir como pessoa e, hoje, como mãe. Uma das principais lições que tirei é que não conseguimos controlar tudo e que as coisas, nem sempre, acontecem no nosso tempo. No primeiro trimestre, passei muito mal. Fiquei de cama e super apreensiva. Chegava a culpar a mim mesma por, nesse período, não considerar a gravidez como algo agradável.

Agora, com 24 semanas, a mudança é nítida. Estou me sentindo mais disposta, mas acho importante não romantizar e nem fazer comparações. Tem dias que acordo animada, querendo faxinar a casa, correr uma maratona e conversar com todo mundo. Em outros, não quero fazer nada e nem ver ninguém. Não passo na frente do espelho. As transformações do corpo também provocam sentimentos antagônicos. Às vezes me paquero, às vezes finjo que não me conheço. A única constante é o amor. Muito amor e que amor! Sempre me disseram e, hoje, endosso o coro: permita-se passar por essa experiência um dia na vida. É inexplicável.

No geral, sou uma pessoa ansiosa, mas me sinto mais calma, sensata e com os pés no chão. Tenho lido, pesquisado e sigo várias gravidinhas e mamães no Instagram. Também converso com as minhas amigas. Na dosagem certa, claro, porque cada gestação tem suas particularidades e cada mamãe suas características. Quanto ao novo coronavírus, tenho evitado o excesso de informações, que só trazem medo e incertezas. Sei dos riscos e estou me cuidando para zelar pela minha saúde e a do Benício. Sou grata pelo meu lar, pelo meu marido, pelo meu filho e pelos meus bichinhos, que são minha fonte de energia diária. Só saímos de casa para o que é estritamente necessário. Escutei de uma prima a seguinte frase: ‘essa pandemia e esse caos vão transformar o mundo em um lugar melhor para a chegada do Benício’. Acredito nisso. Que possamos olhar para esse momento com os olhos de amor. Por nós e pelo próximo”.

 

O significado do amor - Roberta Baldin Moisés, funcionária pública

Foto: Luan Porto

“Eu esperei muito por esse momento que estou vivendo agora e, por isso, tenho tentado aproveitar ao máximo todas as etapas. Desde o instante em que tive a confirmação da gravidez, tudo tem sido especial. Lembro do medo nas semanas iniciais, da expectativa na hora dos exames, da emoção ao ouvir o coração do bebê batendo e da alegria na descoberta do sexo: um menino. Escolhemos um nome forte, Teodoro, que significa presente de Deus, o que ele realmente é. Outra experiência marcante foi sentir o Teodoro se movimentando na minha barriga pela primeira vez. Essa ligação física entre mãe e filho na gestação é algo incrível. Cada manifestação da presença dele aqui em mim é motivo de celebração. Apesar de ter ouvido diversos relatos detalhados de outras mães sobre essas sensações, é diferente quando estamos vivenciando. Absolutamente tudo é novo, imprevisível a apaixonante.

No decorrer dessas 30 semanas, a palavra amor vem ganhando ainda mais sentido. Minhas prioridades e meus objetivos mudaram. O maior desafio tem sido lidar com a ansiedade. Tem dias que fica difícil administrar a mistura de sentimentos, sempre potencializada pela carga hormonal. Inevitavelmente, eu me pego pensando em como será a nossa rotina quando ele nascer. Imagino várias cenas e tento me preparar para isso. Entre as minhas preocupações, está a questão da amamentação. Também tenho sentido aflorar um enorme instinto de proteção e de cuidado. Além de mãe, desejo ser a melhor amiga do meu filho. Quero ensiná-lo sobre a importância da família e a força da fé. Quero ser uma referência, o porto seguro em qualquer situação.

A notícia de que um novo vírus estava se espalhando pelo mundo, sem dúvida, me deixou bastante apreensiva. Tenho evitado o contato com outras pessoas e só saio de casa para as consultas e os exames do pré-natal, mesmo assim, com atenção redobrada. Rezo para que essa pandemia acabe logo. Gostaria que o Teodoro nascesse em um ambiente mais seguro e que os nossos familiares pudessem acompanhar a chegada dele de perto. De toda maneira, o colinho da mamãe e do papai já estão prontos para receber e acolher o nosso bebê com muito carinho”.

 


Foto: Lidia Muradás

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