O universo dos cafés

O universo dos cafés

Desde a tradição e a história dos grãos em Ribeirão Preto, até suas especificidades e formas de cultivo

Em Ribeirão Preto, conhecida na época da expansão cafeeira como a Capital do Café, essa bebida especial se tornou parte da rotina, apropriada para diversos momentos. Pela sua praticidade e diversidade na forma de preparo, é possível encontrar os mais atraentes sabores e aromas, tanto em casa, quanto em vários lugares. Ele está presente no trabalho, nas cafeterias, em espaços comerciais e em escritórios, só para citar alguns exemplos. Mas, antes de chegar nessa etapa final, existe um preparo, a começar pelo projeto para o cultivo da fruta, onde são analisados fatores climáticos, tipos de solo e características da região. A todo momento, são criadas, estudadas e adaptadas as mais abundantes performances para a apresentação daquela famosa xícara de café.

Um pouco da história

Durante a segunda metade do século XIX, Ribeirão Preto se tornou uma grande produtora de café. O historiador e professor formado pela Universidade Estadual Paulista (Unesp), Guilherme Freitas, conta que a cidade nasceu, basicamente, devido à expansão cafeeira. “O município nasceu com o crescimento das lavouras no interior do Estado de São Paulo e com uma ótima condição geográfica: clima propício, bons rios e uma grande oferta da ‘terra roxa’”, ressalta. O desenvolvimento foi potencializado com a chegada da estação da Ferrovia Mogiana (Companhia Mogiana de Estradas de Ferro), em 1883. “Foi a partir desse momento que o centro de Ribeirão Preto tomou forma, que o café passou a ser diretamente escoado para o porto de Santos e que uma grande quantidade de capital começou a ser investido por aqui. O efeito foi incrível: a cidade viveu um rápido e magnífico desenvolvimento e, em pouco tempo, passou a ser conhecida como a Capital do Café”, completa o historiador.

Ainda segundo o professor, os investimentos eram feitos na época por fazendeiros com mentalidade moderna e capitalista, que acabaram por desenvolver o setor urbano e industrial, além de trazer melhorias e novidades tecnológicas para a região. Dentre os grandes nomes que iniciaram essa prática, o professor cita Manoel Otaviano, José Bento Junqueira, Luís Pereira Barreto e Henrique Dumont. Já no período do auge do café, outros personagens se destacaram, como Francisco Schimdt. “Ele era um dos reis do café. Tinha as maiores fazendas e as maiores produções. Ele foi a perfeita personificação da grandiosidade da nossa cidade nas primeiras décadas do século XX”, afirma. Por conta da mentalidade moderna e capitalista dos agricultores, a base da mão de obra predominante nos cafezais do oeste paulista era de imigrantes livres e assalariados. “O trabalho era feito, principalmente, por italianos que emigram de seu país devido às guerras de unificação, conflitos políticos e extrema pobreza. Claro que sempre teve mão de obra escrava também, mas não foi a forma de trabalho predominante”, explica Freitas.

Na década de 1920, grupos sociais contestaram o poder dos cafeicultores de São Paulo e reivindicaram mudanças na política do país, gerando a crise da elite cafeeira. Somado a isso, após a quebra da Bolsa de Valores de Nova Iorque, em 1929, a crise econômica abraça o mundo e o preço e a procura pelo café brasileiro no mercado internacional caem significativamente. “A cereja do bolo vem com o golpe que Getúlio Vargas e seus apoiadores aplicam em outubro de 1930, que depõe o presidente paulista Washington Luís e inicia uma nova era no Brasil. É o fim do domínio político dos cafeicultores”, informa. O café continuou sendo um produto muito importante. Até hoje, o Brasil produz um café de qualidade e que é apreciado no mundo todo. “Mas, a ‘época de ouro’, o domínio político e econômico completo dos cafeicultores, não acontece mais”, finaliza o historiador.Guilherme Freitas e Rosimeire Lino

Do plantio à colheita

O processo do plantio até chegar à colheita do café demanda muito tempo, trabalho e atenção. O engenheiro agrônomo pós-graduado em Cafeicultura, Anderson Rodrigo da Silva, trabalha no Sítio Santa Rita, na região de Ribeirão Preto. O local é propriedade da empresária Rosimeire Lino, grande fã da bebida. “O café sempre foi minha paixão. Resolvi formar uma lavoura depois que comprei uma propriedade rural. Desde então, meu sonho se tornou realidade. Acredito que não cultivo apenas café, mas também momentos especiais”, defende Rosimeire.

De acordo com Silva, tudo começa com a definição cuidadosa da área a ser cultivada. No sítio, a escolha foi de uma área alta para diminuir os riscos com geada. A altitude também ajuda muito na qualidade da bebida. Além disso, o engenheiro explica que o tempo do cultivo varia entre café adulto e café recém-plantado. “Para café adulto, a colheita se faz anualmente, tendo início em abril e se estende até setembro, no máximo outubro. Já para café recém-plantado, a colheita somente será realizada após dois anos e meio de idade. A partir desse período, quando as plantas estiverem adultas, a colheita passa a ser anual”, detalha o profissional.

Anderson trabalha na plantação do Sítio Santa Rita, na região de Ribeirão Preto

Mais detalhes

Segundo o barista João Delgado, não basta apenas um bom cultivo para que o café se torne uma bebida de qualidade. A torra, a regulagem do moinho e as peneiras utilizadas para a colheita são fatores que influenciam no processo. “Sem um moedor regulado não vamos conseguir obter um café de qualidade, seja ele em um método coado, filtrado ou infusionado”, pontua.

Delgado. Para analisar a bebida, suas especialidades, qualidades e sabores, o barista indica tomar o café sem açúcar ou adoçá-lo com suco de laranja. “A análise do café envolve conseguir identificar na bebida notas de caramelo, textura aveludada, doçura natural da própria fruta, acidez. Já os cafés especiais são exceções e possuem uma análise mais específica. Para eles não pode faltar: fragrância, aroma, uniformidade, doçura, sabor, acidez, corpo e harmonia”, detalha. 

Para analisar a bebida, João indica tomar o café sem açúcar ou adoçá-lo com suco de laranja

Algumas formas de preparo

French Press: Também conhecida como cafeteira francesa, é famosa por promover uma fusão mais densa entre o café moído e a água, além de permitir que os óleos e os sedimentos naturais entrem em contato com a bebida

Coador: No Brasil, é o mais tradicional de todos, a partir da infusão do café em água fervente

Cafeteira Italiana ou Moka: É capaz de preparar o café em menos de quatro minutos, sem o uso de filtro de papel e sem a necessidade de verter a água sobre o pó.

Festival

No primeiro final de semana de outubro, nos dias 1, 2 e 3, acontece o Festival do Café da Fábrica, no Instituto SEB. O evento contará com diversas atrações, incluindo expositores de produtores de café, workshops, oficina gastronômica, palestra, shows, degustação de cafés e um café da manhã especial no Recafé. A entrada para a visitação é gratuita, com exceção dos workshops e do café da manhã especial. Com o intuito de garantir a segurança de todos, será limitado o número de visitantes por dia. Portanto, é recomendado que os interessados façam reservar antecipadas. O uso de máscaras é obrigatório.

Informações pelos tels.:(16) 3603.9900 e 99625.1115,
ou acesse: @afabrica.instituto.


Fotos: Acervo pessoal/ Revide/Freepik

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