Para bancar casamento, casal vende água no Parque Raya
Para bancar casamento, casal vende água no Parque Raya

Para bancar casamento, casal vende água no Parque Raya

Fonte de recursos para o evento tem sido também fonte de inspiração

Vender garrafinhas de água, aos domingos, no Parque Luiz Carlos Raya, no Jardim Botânico, vem sendo a fonte de renda alternativa responsável por manter vivo o sonho de matrimônio do casal Ana e Francisco. A iniciativa dos dois tem sensibilizado as pessoas que frequentam o parque e também inspirado outros casais.

“Tem muitos casais que estão pensando em desistir do casamento, mas quando conhecem a nossa história dizem que vão continuar lutando. Alguns dizem que vão começar a vender brigadeiros, trufas e outras coisas. Além disso, há várias pessoas que mandam mensagem desejando boas vendas e boa sorte”, conta Ana.

Toda quinta-feira, Ana Lúcia Sanches, 22 anos, e Francisco Cirino, 24, compram fardos de água, abrem espaço na geladeira, colocam as garrafinhas, enquanto as sacolinhas e garrafas pet viram gelo. As vendas acontecem no domingo, quando o casal parte para o parque com a caixa térmica cheia no porta-malas do carro.

“Tivemos de escolher só um dia pra vender água no parque, pois nossa geladeira começou a apresentar problemas quando fazíamos gelo todos os dias. Escolhemos o domingo por causa do maior movimento”, explica Ana.

Para anunciar as vendas e chamar a atenção das pessoas que passeiam pelo parque, cada membro do casal carrega uma plaquinha. Ana segura uma que diz: “Ajude-nos a casar!”, e Francisco, na outra, completa: “Compre uma água: Natural – R$ 2,00 e Com gás – R$ 3,00”.

A alternativa surgiu no ano passado, logo que o casal decidiu morar junto. O começo foi difícil. Francisco ficou desempregado e o estágio de sua noiva não era remunerado. Mesmo com a ajuda de familiares, o sonho do casamento sofria a primeira provação.  

Vendo a dificuldade que Francisco e Ana encontravam para conseguir emprego, um amigo próximo sugeriu uma distribuidora de sua confiança. Como forma de incentivo, ele também comprou as primeiras garrafas para dar o pontapé inicial do comércio informal.

Ana confessa que ficou com muito medo de as vendas serem um fracasso e, com isso, adquirir mais uma dívida. No sábado, entretanto, a primeira tentativa foi um sucesso.

“Na primeira vez, vendemos no sábado, das 7h00 às 20h30. Nesse dia, tínhamos conseguido R$ 80, o suficiente para cobrir nosso custo inicial com as garrafas. Depois disso, resolvemos voltar no outro domingo, às 8h00, agora mais animados, pois cada água vendida ia pra nossa caixinha do casamento”, conta.

A adesão do público do parque à campanha foi imediata. A dona de um buffet, sensibilizada com a história do casal, ajudou com um "bico". Além disso, há fornecedores que oferecem desconto para a organização da festa e contribuem também com presentes.

O casal vende hoje em torno de 84 garrafas por semana. O lucro varia entre R$ 100 e R$ R$ 170, sendo que 40% são separados para compra de água e o restante vai para caixinha do casamento.

Movidos por um sonho

Ana e Francisco se conheceram por meio de um aplicativo de relacionamento. Aos poucos, as conversas se tornavam cada vez mais frequentes. O romance entre os dois não demorou muito para acontecer. O primeiro encontro foi em 12 de junho de 2015. Ana não queria namorar, mas mudou de ideia ao conhecer Francisco pessoalmente. Quatro dias depois, ele propôs um relacionamento sério, ela aceitou. Se passaram quatro meses e veio então o pedido de casamento, que também foi aprovado por Ana.

Para ela, a pouca idade do casal não é um problema. “Muitas pessoas criticam falando que somos muito jovens sabe, mas igual o Francisco fala, quando encontramos a pessoa com a qual queremos passar o resto da vida junto, não tem o que adiar ou esperar uma idade avançada. E é esse sonho que lutamos. O de passar a vida juntos, e celebrar isso com quem amamos”, destaca.

Com data marcada para o dia 7 de outubro, o casamento está estimado em R$ 24 mil - uma festa para 130 pessoas. Até a última semana de fevereiro faltavam R$ 18 mil, porém, com o sucesso das vendas de água e de toda a mobilização em torno dela, faltam hoje cerca de R$ 10 mil.

O casal já deu a entrada no local do evento e no buffet. A decoração, que será feita por eles, reduz um gasto, mas ainda falta pagar materiais, DJ, bolo e doces, segurança e a cerimônia no civil.  "Por isso que só de compartilhar a história já ajuda muito, pois várias pessoas passam a conhecê-la e vão ao parque nos encontrar e comprar água", acrescenta Ana.

Para Ana, a construção de um casamento é uma meta de vida primordial, mesmo em tempos onde os vínculos afetivos são cada vez menos duradouros. “Desde pequena fui criada acreditando no amor, isso me fez acreditar e querer muito encontrar alguém na vida que pensasse da mesma forma que eu e tivesse as mesmas metas. Encontrei o Francisco, que se assemelha muito comigo e também tem esse sonho de casar e ter uma família”.

Entretanto, todo o esforço na jornada pela realização pessoal não descarta a preocupação do casal com a formação profissional. Ana termina nesse ano o curso de Arquitetura e Francisco o de Agronomia. Há poucas semanas, ele foi contratado para trabalhar de repositor de estoque em uma casa de carnes. A renda vai para pagar as despesas do casal.

Para os casais que passam por dificuldades financeiras, mas ainda nutrem o sonho de se casar, Ana deixa o seu recado. “Espero que nosso exemplo sirva de inspiração para todos aqueles que têm lagrimas nos olhos nesse momento, que pensam em desistir dos sonhos, ou que pensam que o sonho que possui é pequeno e inalcançável. Nunca desista. Vá à luta!", conclui. 


Fonte: Arquivo Pessoal

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