Para médico que viralizou ao cantar Marília Mendonça no HC, sorrisos das crianças curam
O especialista diz que a música é uma alternativa diferente para ajudar os pacientes

Para médico que viralizou ao cantar Marília Mendonça no HC, sorrisos das crianças curam

O pediatra Paulo Martins diz que na tarde de 13 de março reforçou que a Medicina vai muito mais além que um cuidado com o corpo e suas estruturas

O médico que viralizou ao cantar músicas para pacientes no Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto, no dia 13 de março deste ano, conta que mais de seis meses depois, a sensação que fica é de que quem foi curado naquela tarde foi ele, ao ver os sorrisos das crianças. O tratamento ficou conhecido quando um vídeo em que o pediatra Paulo Martins aparece cantando a canção “Eu sei de cor”, da cantora Marília Mendonça, chegou às redes sociais com milhares de acessos. A própria cantora compartilhou a publicação em suas redes sociais.

O jovem médico reforçou que naquela tarde de março pensou em levar algo a mais para trazer esperança àquelas crianças. “Reforcei o aprendizado de que a Medicina vai muito mais além que um cuidado com o corpo e suas estruturas. Todo profissional da saúde tem a capacidade de influenciar de maneira especial todo e qualquer paciente, assim como tem a possibilidade de deixa-se levar por exemplos diários de superação e determinação. Cada momento é único e merece o seu devido valor”. 

Como tudo aconteceu

Paulo Martins é pediatra nos Hospital das Clínicas de Ribeirão PretoSegundo Martins, a enfermaria de oncologia estava lotada naquela semana, em sua maioria composta por adolescentes entre 12 e 16 anos. Diferente das crianças mais novas, os mais velhos acabam por ter uma maior percepção da gravidade de suas enfermidades, levando-os a alimentar pensamentos negativos em relação ao possível desfecho de sua doença. “Por tal razão, muitos passam a ser alimentados diariamente com sentimentos de frustração e impotência”, diz.

O pediatra fala que a inciativa de cantar no hospital ocorreu após ver uma das crianças perdida em pensamentos, olhando vagamente para a janela. “Perguntei se ela gostava de música e se ela iria gostar que eu trouxesse algum instrumento para tocarmos juntos, e ela prontamente me respondeu que sim. Falei que iria trazer no dia seguinte e que ela separasse três musicas para cantarmos em conjunto. Optei por levar o Ukelele ao hospital por ser pequeno e mais fácil de ser transportado. À tarde, no outro dia, quando tudo estava mais tranquilo, decidi pegar o instrumento e fazer um momento de descontração nos quartos. Fui de leito em leito pedindo para que escolhessem uma música para tocarmos. Teve de tudo. Do reggae ao rock, do axé ao sertanejo. No último quarto estava uma criança bastante enferma, restrita ao leito, sem conseguir andar. Tocamos e cantamos três músicas. Despedimos-nos com um abraço apertado e um obrigado que jamais esquecerei”, lembra.

Naquele dia, de acordo com o médico, algo havia lhe chamado a atenção. “Em minha passagem por todos os quartos, sempre notei uma movimentação especial do lado de fora. Vi que havia uma criança que me acompanhou em todo momento e ao sair deste último não teve jeito. Bem em frente à porta estava a Sophia. Sorridente, feliz, esperando a vez dela de cantar. O pai me interpelou: ‘está acompanhando o senhor desde o começo, acho que chegou a hora dela’. Fiquei um pouco com receio, pois não me recordava no momento de nenhuma musica infantil, mas a família me tranquilizou, ‘pode tocar Marília Mendonça que ela adora!’. Nos primeiros acordes, já pude observar que algo mágico se desenhava. Como uma bailarina, ensaiou passos doces e suaves por entre o suporte do soro e suas conexões. Ria, acenava, encantava. Naquele momento não havia dor, não havia medo, não havia receio. Havia apenas vida em toda a sua essência. Foram minutos que ficaram eternizados em todos os presentes, um exemplo divino de como as crianças são capazes de encarar suas adversidades com tanta leveza e beleza”, afirma.

Momentos depois

Momentos após a publicação do vídeo realizada por pacientes de Martins, o jovem embarcou rumo a sua terra, Campina Grande (Paraíba), onde iria passar 15 dias de férias. “Dois dias após, as ligações não pararam de chegar. Várias e várias pessoas querendo saber sobre aquele momento que estava a conquista uma multidão de telespectadores. Em nenhum momento passou pela minha cabeça a possibilidade de um gesto tão simples ganhar tamanha notoriedade. Mas em contrapartida, diante de tantas adversidades que as pessoas passam em sua rotina, a justificativa do sucesso do vídeo tornou-se plausível. Passei a receber inúmeras mensagens. Eram relatos que falavam de traumas pessoais, familiares, pessoas com depressão que evitaram uma loucura após assistirem ao vídeo. Todos encararam aquela filmagem como uma transmissão de amor, paz, alegria. Eram minutos que levavam as pessoas a reflexões profundas sobre quais problemas cada um enfrenta e a forma como devemos encara-los. Para muitos, um renascimento”, explica. 

Opinião pessoal

“Havia aprendido a tocar violão com 13 anos. Foi um escape ao longo de tantos anos. Nos acordes eu viajava e ao cantar tirava de mim todo e qualquer problema. Desde a época da minha graduação na Universidade Federal de Campina Grande, enxergava a música como uma alternativa viável e simples para terapêutica dos pacientes, seguindo sempre em paralelo ao tratamento com medicamentoso. Costumava sempre levar meu violão às enfermarias, levando um pouco de alívio e conforto por meio de cantorias e repentes. Era notória a sensação de conforto e alívio que muitos manifestavam ao cantar aquela música especial pedida”, enaltece Martins. 

Por fim, o médico esclarece que o status de doença leva toda e qualquer pessoa a uma sequência negativa de pensamentos e insinuações a respeito do que o futuro lhe guarda. “Fornecer uma alternativa lúdica é uma alternativa para que haja uma evolução favorável de toda e qualquer enfermidade. No meu caso, a música sempre foi o meu instrumento auxiliador, ela ajuda a relaxar e promove uma sensação de bem-estar. Pesquisa realizada pela Cleveland Clinic Foundation, nos Estados Unidos, comprovou que ouvir música pode ter efeitos benéficos no tratamento de dores crônicas, como as causadas pelo câncer. Além disso, ter um bom relacionamento interpessoal com seus paciente e profissionais torna tudo mais leve e agradável. Carinho e respeito nunca foram e nunca serão excesso. Um bom dia, um boa tarde, um abraço sincero. Ter empatia. Jamais devemos esquecer que cuidar vai muito mais além do que medicamentos e exames”, diz. 

Confira o vídeo viral em que Paulo Martins canta sertanejo à pequena Sophia:           


Foto: Divulgação

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