Voltando às raízes

Voltando às raízes

Uso dos cabelos em sua forma natural tem ganhado força nos últimos anos e a transição capilar se tornou uma prática comum para quem busca assumir as próprias raízes

*Matéria publicada na edição 1089 da revista Revide.

Ao longo da história, a imposição de estereótipos e padrões de beleza estimulou uma busca pela “perfeição” entre as mulheres. O que, na maioria das vezes, fez com que abrissem mão de suas raízes para alcançar o modelo estabelecido. Ao se falar de cabelos, as escovas progressivas inteligentes, os relaxamentos, alisamentos definitivos, foram caminhos para obter o cabelo liso, considerado o “padrão”. No entanto, com o passar dos anos, a mudança no comportamento humano, somado ao isolamento social durante a pandemia da Covid-19, ajudou a romper com esses paradigmas e, hoje, a moda se passou ser o natural. 

O cabelereiro Eduardo Nazario explica que a transição capilar de textura – do liso para o cacheado – já se tornou uma tendência, e que os principais motivos pela busca desse processo são a saúde e a autovalorização. “A exposição constante aos produtos químicos pode gerar problemas diversos à saúde. Além disso, o olhar vai afinando com o passar do tempo, e as próprias pessoas vão entendendo que o bonito é ser você mesmo, parar com esse padrão de réplicas, de seguir o que alguém determinou”, afirma. Para ele, ao iniciar o processo de transição, as pessoas precisam ter paciência, determinação e não abrir mão da criatividade.

“Deixar o cabelo voltar ao natural, seja na textura ou na cor, não te isenta de criar designs. Eu atendi uma mulher que estava passando pela transição dos cachos e da coloração, e ela fez um corte mais curto eliminando aquelas pontas mais desgastadas pelos procedimentos químicos anteriores, ela optou pelo design”, explica. Ainda segundo o cabelereiro, para aquelas pessoas que não têm coragem de fazer um corte radical e gostariam de que o crescimento do cabelo fosse mais acelerado, a natureza é uma alternativa. “Nas primeiras horas da Lua Cheia, é o momento em que o cabelo, qualquer elemento vivo tem maior quantidade de água. Quando você faz um corte nesse momento, o cabelo pode crescer o dobro do que ele cresce normalmente em uma outra Lua”, detalhou. 

Cárila Covas, 20 anos, estudante.

A estudante Cárila Covas, de 20 anos, passou a usar produtos químicos no cabelo depois dos 15. Ela começou apenas com a tintura, mas, devido ao ressecamento do cabelo e o surgimento do frizz, Cárila alisou os cabelos. “Comecei a fazer química na intenção de abaixar os frizz. Depois, ficou constante o uso de produtos, porque como eu jogava vôlei, o frizz na frente era algo que eu não gostava muito, então, acabava fazendo o alisamento no cabelo todo e tendo um desgaste”, lembra.

Durante a pandemia, a estudante decidiu recuperar o cabelo natural, desde janeiro ela está no processo de transição. Cárila conta que sofreu com comentários como, “de cabelo liso você era mais arrumadinha”, o que mexeu muito com ela, mas que o apoio das pessoas próximas a ajudou. “Não que as pessoas não possam ter uma opinião, mas a partir do momento que isso interfere na vida do outro tem que ser pensado por quem está prestes a falar. Ninguém sabe como aquilo vai afetar e nem quem recebe sabe como vai ser, porque são dias e dias, e cabelo é único, é meu!”, declara. 

Fernanda Marx, 37 anos, cantora

Foi por volta dos 10 anos de idade que a cantora Fernanda Marx começou a alisar o cabelo. “Eu comecei a fazendo aqueles alisamentos mais antigos, em que usavam pente quente. E depois disso, por volta dos 15, eu optei pela usar química. Passei bastante tempo de cabelo liso, do ensino fundamental até a faculdade”. Em 2013, foi quando ela parou de alisar seu cabelo e voltou a usar os cachos. “A partir do momento que eu me conscientizei que eu iria ter o cabelo que eu quisesse para mim e não para o outro, eu parei com isso”, declara. A cantora conta ainda que já recebeu olhares e comentários por conta de seu cabelo.

“Ainda mais agora que eu estou fazendo o uso de tranças”. Mas ela não se deixou abalar. Fernanda ressalta que cada um deve fazer o que quiser com o próprio cabelo. “Não deve existir uma cobrança, ‘ah, se você é negra você tem que ter o cabelo enrolado’, porque se não caímos na mesma imposição do cabelo liso. Temos que respeitar, se a pessoa se sente confortável com o cabelo liso, alisa, se se sente confortável com o cabelo enrolado, deixe ele enrolado”. Hoje, Fernanda se reconhece com o cabelo cacheado, e não se vê mais de outro jeito. 

Fernanda e Cárila

Rebecca Figueiredo, 24 anos, empresária

A empresária Rebecca Figueiredo, de 24 anos, conta que sempre recebeu elogios pelo seu cabelo cacheado, mas que não conseguia aceitá-lo. “A maioria das minhas amigas tinha cabelo liso e eu sempre tive muita dificuldade em arrumar o meu por ser cacheado. Estava na fase dos 15 anos quando fiz minha primeira progressiva, naquela época só se via propaganda e cuidados para cabelo liso. Não era como hoje, que existem inúmeras blogueiras e a mídia, no geral, incentivando a cuidar e ter o cabelo natural. Confesso que eu me sentia bem de cabelo liso, comecei fazendo escova e sempre pedia para a minha mãe me levar no salão”, comenta a empresária.

Após nove anos, cansada de tantas idas ao cabelereiro, e com certa curiosidade em se ver com o cabelo natural, Rebecca iniciou a transição capilar. Hoje, ela já completa 10 meses desse processo de redescoberta. “O processo de autoaceitação é libertador! Durante todos esses anos eu me escondia atrás da química. Hoje, eu me olho no espelho e realmente me vejo”, se emociona.

Junto com a filha, a personal trainer Paula Figueiredo, de 47 anos, fez uso da progressiva durante cinco anos, e em 2017 passou pela transição cortando curto o cabelo. Agora, após quatro anos desse processo, Paula passa por sua segunda transição, mas agora rumo aos grisalhos. “Nessa segunda vez, com certeza está sendo mais fácil, porque eu sei que vai valer a pena no final”, afirma. E para ela, isso não quer dizer seguir a moda, “pintar os cabelos acompanhando as tendências”, pontua.


Mãe e Filha passam pela transição capilar simultaneamente

Tipos de cachos

O mundo das cacheadas apresenta diversas variações. Existem cabelos com o cacho 2A, que é levemente ondulado; 2B, ondulado curvilíneo; 2C, ondulado cacheado; 3A, cacheado em formato de “S”; 3B, cacheado em espiral; 3C, cacheado crespo; 4A, crespo com cachos em “S” bem fechados; 4B, crespo em formato de “Z”, sem um padrão de onda definido; e o 4C, que é aquele crespo que não segue um padrão, sem definição. Para cada tipo de cacho, existe uma forma de finalizar e necessidades específicas, mas no geral, existem truques que podem ser aplicados em todos. 

Dicas para passar pela transição: 

1. Corte o cabelo pelo menos a cada três meses;

2. Invista em faixas e penteados;

3. Inclua shampoos antirresíduos em suas lavagens;

4. Hidrate com frequência seu cabelo;

5. Não deixe se influenciar por comentários maldosos

O cabelereiro Eduardo Nazario ensina método para passar pela transição de forma mais rápida


Fotos: Reprodução

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