A vez das crianças na fila da vacina

A vez das crianças na fila da vacina

Após um ano de espera, a vacinação das crianças de 5 a 11 anos começou no Brasil; em Ribeirão Preto, as primeiras imunizadas foram as gêmeas Beatriz e Manuela

*Matéria publicada na edição 1096 da revista Revide.

Em 17 de janeiro de 2021, a enfermeira Mônica Calazans, aos 54 anos, foi a primeira pessoa a ser vacinada contra a Covid-19 no Brasil. Na ocasião, a profissional da área da saúde recebeu uma dose da Coronavac após a aprovação do uso emergencial pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). O momento histórico foi reproduzido ao vivo pela televisão.

Um ano e um dia depois, as irmãs gêmeas Beatriz e Manuela Botosso Etto, de 8 anos, foram as primeiras crianças da faixa etária de 5 a 11 anos imunizadas em Ribeirão Preto com a vacina pediátrica da Pfizer. Para representar o início da vacinação dos pequenos na cidade, foi realizado nesta terça-feira, 18, um ato simbólico na Unidade Básica de Saúde (UBS) Santa Cruz, na zona sul do município, no qual as meninas foram imunizadas diante da imprensa.

No evento, o secretário municipal da Saúde, José Carlos Moura, falou sobre a importância de vacinar a garotada. “Fizemos esse ato simbólico para que ele possa servir como encorajamento e incentivo para os pais trazerem suas crianças para fazer a vacinação. É seguro, é aprovado e é uma forma de protegermos as nossas crianças”, explicou.

Moura ainda detalhou que serão imunizadas as crianças dessa faixa etária com comorbidades ou alguma deficiência permanente até 10 de fevereiro. “Temos que seguir rigorosamente o calendário do Plano Nacional de Imunização, porque as vacinas vêm de acordo com ele. Então, não tem a possibilidade de adiantar a vacinação para as crianças dessa faixa etária sem comorbidades. Fizemos uma estimativa que Ribeirão Preto deva ter cerca de 60 mil crianças de 5 a 11 anos ao todo”, ressaltou.

O secretário municipal da Saúde, José Carlos Moura, convidou os pais a vacinarem seus filhos em Ribeirão Preto

O secretário aproveitou para dizer que a cobertura vacinal na cidade está muito satisfatória entre as pessoas já autorizadas a receber a imunização – adolescentes acima de 12 anos, adultos e idosos. “Hoje, a cobertura gira em torno de 90% da primeira dose, o percentual de segunda dose está em 80% e a dose de reforço está chegando a 37%”, contou.

Emocionada, a dona de casa Luana Botosso Salomão, mãe das meninas, contou que ver suas filhas imunizadas foi um alívio. “Eu estava mais ansiosa que as minhas filhas. Por conta das comorbidades, elas sabem dos riscos e queriam tomar logo a vacina. Agora, sinto alívio, alegria, satisfação. É um mix de sentimentos”, explicou. Ela contou que Beatriz tem asma e Manuela tem diabetes e as duas não viam a hora para serem imunizadas.

Após a vacinação, Beatriz falou que se sentia feliz. “Agora eu tenho menos risco de ficar internada se eu pegar Covid e for ao hospital”, disse a menina. Já Manuela complementou que está mais tranquila agora que recebeu a primeira dose do imunizante e que vai recomendar a vacinação para suas amigas. “Vou falar para elas que não dói e que é para se proteger”, finalizou.

A advogada Viviane Geres levou sua filha Lavínia Geres, de 9 anos, para ser vacinada na mesma unidade de saúde, logo após o ato simbólico com as gêmeas. “Como mãe, é uma sensação de tranquilidade ver minha filha vacinada. A ciência está aí para poder nos proteger dessas doenças que existem. Acredito que todos os pais devem trazer seus filhos para se vacinar, porque as crianças são o nosso bem maior e precisamos zelar pela saúde de todas elas”, afirmou. Tímida, Lavínia disse que estava ansiosa para tomar o imunizante. “Doeu um pouquinho, mas nem tanto”, garantiu a menina. 

Lavínia foi com sua mãe, Viviane Geres, tomar sua vacina contra a Covid-19 na UBS Santa Cruz, na zona sul de Ribeirão Preto

Segurança da vacinação 

A professora titular do Departamento de Pediatria da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP), da Universidade de São Paulo (USP), Marisa Marcia Mussi, reforçou que pais podem ficar tranquilos quanto à eficácia e qualidade do imunizante pediátrico. “A vacina da Pfizer foi testada em várias etapas em crianças de 5 a 11 anos. Com a concentração de um terço daquela usada em adultos, essas crianças produziram defesa contra o vírus tão bem quanto adolescentes e adultos de 16 a 25 anos. Também foi demonstrada que a vacina é 70 a 95% eficaz para prevenir a infecção pelo coronavírus até dois a três meses após a segunda dose da vacina. Ainda não se sabe durante quanto tempo a proteção permanece ou se necessitará de doses de reforço”, explicou.

Além disso, a médica ressaltou que a vacina é segura. De acordo com ela, nos Estados Unidos, cinco milhões de crianças de 5 a 11 anos receberam a primeira dose e dois milhões receberam duas doses do imunizante da Pfizer. “Observou-se que ela é bem tolerada pelas crianças. Pode haver reações após a vacina, mas em 97% não são graves. As reações foram mais observadas no dia seguinte à vacinação e desapareceram após um a dois dias, e podem ser as seguintes: dor, inchaço ou vermelhidão no local da injeção, febre, dor de cabeça, fadiga, inapetências transitórias e que respondem a medicamentos antitérmicos ou analgésicos”, afirmou.

A professora titular do Departamento de Pediatria da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, Marisa Marcia Mussi, ressaltou a segurança do imunizante para crianças

A professora da USP também detalhou que, após a aplicação de sete milhões de doses nas crianças estadunidenses, apenas oito delas desenvolveram miocardite, uma inflamação nas células do músculo do coração. “Ou seja, aproximadamente uma criança a cada milhão de doses, sendo que todas evoluíram satisfatoriamente desse problema. Mas é importante ressaltar que o risco de uma criança ter miocardite causada pelo vírus da Covid-19 é muito maior que o risco dessa condição ocorrer após a vacina”, orientou.

Ainda segundo Marisa, é importante imunizar as crianças dessa faixa etária contra o coronavírus, pois há três vantagens a serem consideradas: proteção individual em adoecer após infecção, redução da contaminação da coletividade e redução da oportunidade de surgimento de variantes virais.

“Mesmo que a criança tenha menor risco de adoecer após contrair a infecção pelo vírus da Covid-19 do que adultos ou idosos, elas podem adoecer, necessitar de internações e inclusive de unidades de terapia intensiva e irem a óbito. No Brasil, até início de dezembro de 2021, 34 mil crianças e adolescentes menores de 19 anos foram hospitalizados, tendo havido 2.500 mortes entre aquelas que apresentaram Covid grave, o que é maior do que ocorreu com outras doenças preveníveis por vacina antes da disponibilidade dos imunizantes”, disse. A letalidade e mortalidade em crianças com doença grave por Covid-19 foi maior no Brasil do que em outros países, informou ela.

Segundo a professora da USP, ao imunizar crianças, pode-se reduzir o número de infectados e, assim, reduzir as oportunidades de infecção de mais pessoas e das consequências graves para pessoas mais susceptíveis. Seria um benefício para a saúde pública, contribuindo para o controle da pandemia, evitando-se casos secundários. Ela também disse que, quanto maior o número de pessoas infectadas, maior probabilidade que mutações virais surjam, inclusive escapando às vacinas disponíveis. 

Linha do tempo 

8 de dezembro de 2020
A britânica Margaret Keenan, de 90 anos, foi a primeira pessoa no mundo a ser vacinada contra a Covid-19 fora dos ensaios clínicos. Ela foi imunizada com a vacina da Pfizer.

17 de janeiro de 2021
A primeira pessoa vacinada no Brasil contra o coronavírus foi a enfermeira Mônica Calazans, que recebeu o imunizante Coronavac.

19 de janeiro de 2021
Em Ribeirão Preto, a primeira vacinada foi a técnica de Enfermagem Maria Lucia dos Santos, no Hospital das Clínicas da cidade.

29 de abril de 2021
Chega o primeiro lote de vacinas da Pfizer/BioNTech ao Brasil, através do Aeroporto Internacional de Viracopos, em Campinas (SP).

22 de junho de 2021
O primeiro lote da vacina da Janssen, fabricada pela farmacêutica Johnson & Johnson, chegou ao país pelo Aeroporto de Guarulhos, em São Paulo.

18 de agosto de 2021
Adolescentes de 16 e 17 anos começam a ser vacinados no estado de São Paulo.

15 de setembro de 2021
Começa a aplicação da terceira dose ou dose de reforço da vacina contra a Covid-19 no Brasil

13 de janeiro de 2022
Brasil recebe as primeiras doses pediátricas da vacina contra Covid-19 da Pfizer. Carga chegou no Aeroporto Internacional de Viracopos, em Campinas (SP).

14 de janeiro de 2022
O menino Davi Seremramiwe Xavante, de 8 anos, foi a primeira criança vacinada do Brasil, no Hospital das Clínicas de São Paulo.

18 de janeiro de 2022
As irmãs gêmeas Beatriz e Manuela Botosso Etto, de 8 anos, foram as primeiras crianças da faixa etária de 5 a 11 anos imunizadas em Ribeirão Preto.


Fotos: Luan Porto

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