Avanço do coronavírus preocupa moradores de favelas em Ribeirão Preto

Avanço do coronavírus preocupa moradores de favelas em Ribeirão Preto

Doações de alimentos e compartilhamento de informações entre moradores são formas de combate nas comunidades carentes na cidade

"O isolamento dentro da comunidade é impossível. Existem casas precárias, barracos feitos de lona, madeira e telhado eternit. Às vezes, durante o dia, é impossível ficar dentro de casa por conta da temperatura", revelou Wallace Bedurin, líder na comunidade Nova Vila União, na Vila Albertina, e conselheiro municipal de habitação.

Ribeirão Preto possui cerca de 90 núcleos de habitacionais irregulares, ou seja, quase uma centena de favelas. A precariedade das casas, a dificuldade em conseguir renda fixa, além da falta de informação, são alguns dos fatores que tornam esses locais da cidade mais sensíveis ao avanço da pandemia do novo coronavírus.

Atualmente, cerca de 34 mil pessoas possuem uma renda menor que R$ 179 por mês, o equivalente a R$ 6 por dia. Se não fossem os programas sociais, hoje, 22 mil pessoas estariam abaixo da linha da pobreza extrema na cidade.

Dessa população, 4,8 mil são crianças de até seis anos. E cerca de 1 mil são pessoas acima dos 60 anos. Os dados são referentes ao ano de 2018, extraídos do portal de Consulta, Seleção e Extração de Informações do CadÚnico (Cecad).

 O secretário da associação de moradores da região do aeroporto, Marcos Valério Sérgio também notou a dificuldade de confinamento em uma das regiões mais carentes da Zona Norte de Ribeirão Preto.

“O trânsito na rua está exatamente igual a antes”, declarou. Além disso, Sérgio afirmou que trabalhadores autônomos, como pedreiros, seguem trabalhando normalmente.

Na Zona Oeste, a situação também é complicada. Segundo Marilene Godoy Martins da Silva, presidente da associação de moradores da Vila Monte Alegre, a região conhecida como "favela do SBT" é uma das que mais estão expostas ao avanço do vírus.

Com as aulas suspensa e a dificuldade em manter as crianças em casa, Marilene conta que os pequenos brincam livremente pelas ruas do bairro.

Além da preocupação com a população, Marilene também faz parte do grupo de risco. "Tenho 77 anos, não estou saindo de casa. Na medida que podemos estamos passando orientações pelo Whatsapp", disse.

Na Nova Vila União, Bedurim explica que recomenda aos moradores que evitem sair da comunidade. "O que estamos fazendo nesse momento é o isolamento de ficar dentro da comunidade. Evitar sair para trazer esse vírus para cá. Sabemos que não é o ideal", admitiu.

No momento, o líder comunitário busca doações para auxiliar os moradores durante a quarentena. Sem renda, Bedurim reúne donativos para montar kits básicos de mantimentos, que duram, em média, quatro dias.

Apesar da campanha dos moradores, ele desabafa que falta ajuda do poder público municipal nas comunidades carentes. "Se não tiver interesse do poder público da cidade, de onde ele virá?".  As últimas doações atenderam 57 famílias.

Interessados em doar alimentos para comunidade Nova União podem entrar em contato com Wallace Bedurim “Bill”, pelo telefone: (16) 99199 4636.

Medidas municipais

Por meio de nota, a Secretaria Municipal da Assistência Social informou que os Centros de Referência de Assistência Social (CRAS) têm como objetivo prevenir a ocorrência de situações de vulnerabilidade e riscos sociais por meio de desenvolvimento de potencialidades e  do fortalecimento de vínculos familiares e comunitários. 

O município possui sete CRAS localizados em áreas de alta vulnerabilidades para facilitar o acesso das famílias ao serviço. A pasta disse ainda que, mesmo no momento atual de pandemia, essas famílias estão sendo atendidas, orientadas e mediadas no equipamento da sua área de abrangência.

Além disso, em parceria com o Sindicato dos Servidores Municipais, a Prefeitura deu início a uma campanha de conscientização da população com a fixação de cartazes e distribuição de panfletos. Por fim, a Semas informou que providenciará  um carro de som para transmitir a população carente orientações sobre o vírus e prevenção.

Calamidade pública

Na segunda-feira, 23, a Prefeitura de Ribeirão Preto decretou estado estado de calamidade pública até o dia 26 de abril. Com isso, estabelecimentos do comércio e serviços não essenciais devem permanecer fechados. Parques municipais serão fechados e também será proibida a aglomeração em praças e espaço públicos. A recomendação é para que as pessoas não saiam de casa, segundo o Prefeito Duarte Nogueira (PSDB). "Isolamento social é a única forma de conter o avanço do novo coronavírus", disse.

A diferença para o decreto Estadual é que, em Ribeirão Preto, a medida vai durar até o dia 26 de abril. Portanto, os estabelecimentos da cidade devem adotar as normas por mais 19 dias em relação ao geral do Estado de São Paulo.

"A Administração Direta e Indireta, exceto as áreas de segurança pública e viária, saúde, assistência social, saneamento básico, zeladoria, comunicação, tecnologia da informação e processamento de dados, suspenderão, de 24 de março até 26 de abril de 2020, as atividades de natureza não essencial", disse. Os serviços essenciais deverão ser estabelecidos pelos Secretários Municipais e pelos responsáveis pela Administração Indireta, através de atos próprios, explicou Nogueira.

Ainda segundo o prefeito, bares e restaurantes só podem funcionar para entregas. Padarias, horti-fruti, armazéns e lojas de conveniência só podem funcionar sem consumo no local. 

Supermercados, feiras livres, distribuidoras de gás, postos de combustíveis, transportadoras, indústrias, empresas de call center, agências bancárias, oficinas, lojas de petshops, hospitais, clínicas de fisioterapia, clínicas de vacina, farmácias, hotéis e lavanderias devem continuar funcionando seguindo recomendações sanitárias. Nos supermercados, uma das exigências é manter uma distância de cinco metros entre as pessoas. 


Foto: Arquivo pessoal

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