Cidade em alerta

Cidade em alerta

Com números de casos, internações e óbitos relacionados à Covid-19 caindo, o anúncio de oito pacientes diagnosticados com a variante delta, feito nesta semana, gera preocupação

Colaboração: Lídia Matos

No dia 23 de agosto, o Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (HCFMRP – USP), convocou uma coletiva de imprensa para confirmar a presença da variante delta da Covid-19 na cidade.

“Fazemos o sequenciamento genético de 96 amostras, em média, por semana, não só de Ribeirão Preto, mas de outros municípios do Estado. Na 32ª semana epidemiológica, referente à segunda semana de agosto, recebemos 30 amostras, coletadas aleatoriamente, vindas do Supera Parque. Dessas, oito apresentaram reação à delta. Ou seja, a cada quatro amostras analisadas, uma estava infectada com a variante. Esse é um número que merece atenção”, explicou o professor da FMRP e médico hematologista do Hospital das Clínicas, Rodrigo Calado, coordenador da pesquisa da Butanvac em Ribeirão Preto.

Ainda segundo o especialista, a chegada da delta à cidade já era esperada, visto que, no dia 17 de agosto, foi confirmado o primeiro caso na região, em uma profissional de saúde que reside em Serrana, mas trabalha em Ribeirão Preto. 

Segundo Rodrigo Calado, a chegada da delta à cidade já era esperada

Os oito pacientes foram identificados e rastreados pela Divisão de Vigilância em Saúde. São três homens e cinco mulheres, de 26 a 90 anos, moradores de diferentes regiões da cidade. Apenas um é profissional da saúde. Os outros trabalham na prestação de serviços e, também, no setor administrativo. Dois estavam imunizados com as duas doses da vacina. Os demais tinham tomado a primeira dose, alguns da CoronaVac, outros da AstraZeneca e da Pfizer. Todos tiveram manifestações leves da doença e não precisaram de internação.

“Agora estamos monitorando esses pacientes, suas famílias e locais de trabalho, para acompanhar o comportamento do vírus. Outro dado importante: nenhum dos pacientes viajou recentemente, mas todos se reuniam frequentemente com amigos e familiares. Assim, podemos afirmar que há uma transmissão comunitária”, pontua a diretora da divisão, Luzia Márcia Romanholi Passos. 

Sintomas

A variante delta se manifesta de uma forma diferente. Não há o comprometimento pulmonar, tão característico no vírus original. O paciente tende a apresentar febre, dor no corpo e na garganta e uma sensação de mal-estar geral.

Luzia Márcia explica que os pacientes estão sendo monitorados e que todos apresentarem sintomas leves

“Nos últimos dias, registramos uma queda abrupta no número de diagnósticos. Antes, eram 500 testes positivos por dia. Hoje, não chegamos a 100. Felizmente, a taxa de óbitos também vem diminuindo. Antes, tínhamos que fazer manobras para atender um paciente que precisava de uma vaga no Centro de Terapia Intensivo (CTI) por falta de leitos. Hoje, temos leitos disponíveis no CTI, mas as enfermarias estão cheias. Como os sintomas são predominantemente mais leves, é possível que as pessoas nem estejam buscando o atendimento médico, levando à uma subnotificação da doença na cidade. No entanto, com o aumento na quantidade de infectados, a probabilidade de algum deles desenvolver sintomas graves também aumenta. Por isso, temos que nos manter em alerta. A proteção depende das duas doses e, até agora, aproximadamente 26% da população está completamente imunizada. Lembrando que, mesmo imunizada, a pessoa pode ser infectada e transmitir o vírus. Portanto, o uso correto da máscara e o distanciamento social continuam imprescindíveis neste momento”, orienta o professor da FMRP e virologista Benedito Fonseca, também médico no Hospital das Clínicas.

Transmissibilidade

Identificada pela primeira vez em outubro de 2020, na Índia, a delta é uma mutação do coronavírus que passou por alterações genéticas, assim como ocorre com a maioria das doenças transmitidas por variados tipos de vírus existentes em todo o mundo. Segundo os dados publicados pelo governo britânico, a variante é de 40% a 60% mais contagiosa do que a variante Alfa, encontrada na Inglaterra, e cerca de duas vezes mais transmissível do que a cepa original identificada em Wuhan, na China.

“A proteção depende das duas doses e, até agora, aproximadamente 26% da população está completamente imunizada”, enfatiza Benedito Fonseca

“Essa mutação que permite ela ser mais contagiosa se dá na proteína S, ou Spike, a parte com a qual se liga às células humanas”, explica Domingos Alves. Doutor em Física pela USP, possui dois pós-doutorados, um pela Universidade Federal de São Carlos (Ufscar) e outro pela Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto, nos quais realizou estudos sobre sistemas de informação ligados à saúde. Atualmente, o pesquisador mantém um site no qual publica estudos e previsões sobre o crescimento do coronavírus no Brasil. A pesquisa é feita em parceria com de cientistas da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e Universidade de Brasília (UnB).  

Em todo o Brasil, já foram registrados mais de 700 casos da variante, identificada em 14 Estados e no Distrito Federal. De acordo com o boletim epidemiológico publicado em julho deste ano, na Rede de Alerta das Variantes do SARS-CoV-2, coordenada pelo Instituto Butantan, das 19 variantes espalhadas pelo Estado de São Paulo, a gama predomina em 88,94% dos casos, seguida da P.1.2 (4,05%), Alfa (B.1.1.7, britânica) com 2,33%, em quarto lugar. As variantes delta e beta apresentam uma incidência de 1,04% e 0,02%. “Na maioria das vezes, essas variantes estão ligadas a brechas no controle de fronteiras e nas medidas de isolamento, com os relaxamentos que aconteceram. A distribuição desigual de vacinas em todo o mundo faz com que a variante alcance pessoas que não estão imunizadas”, comenta o professor. 

Domingos desenvolve um estudo sobre o crescimento do coronavírus no Brasil

Restrições

Apesar da flexibilização do Plano São Paulo, a Prefeitura de Ribeirão Preto decidiu, antes mesmo dos casos delta terem sido diagnosticados, manter as restrições em proteção à Covid-19. Os estabelecimentos comerciais como lojas, shoppings, centros de beleza e restaurantes continuam com atendimento permitido de segunda-feira a domingo, no horário das 6h até a 0h, e capacidade máxima de 80% de ocupação. O mesmo vale para as atividades culturais, esportivas e religiosas. Estão em vigor, também, as regras para atendimentos em bares, restaurantes e similares, sendo permitido somente para clientes exclusivamente sentados. Em relação aos eventos, está mantida a lotação máxima de 300 pessoas e é vedada a utilização de pista de dança. A medida, à princípio, tem validade até 30 de agosto.

Após a confirmação da circulação da variante na cidade, a administração emitiu um alerta sobre a importância do cumprimento rigoroso das orientações abaixo:

• Obedecer às regras de distanciamento social;
• Evitar aglomerações;
• Usar máscaras que cubram nariz e boca;
• Lavar as mãos frequentemente com água e sabão por pelo menos 20 segundos. Se não houver água e sabão, usar um desinfetante para as mãos à base de álcool;
• Evitar tocar nos olhos, nariz e boca com as mãos não lavadas;
• Evitar contato próximo com pessoas doentes;
• Cumprir a recomendação de quarentena, ou seja, permanecer em casa pelo período de isolamento de 10 dias no caso de ser caso suspeito ou confirmado de Covid 19 e 14 dias para aqueles que tiveram contato com o suspeito ou confirmado de Covid 19;
• Cobrir boca e nariz ao tossir ou espirrar com um lenço de papel e jogar no lixo; 
• Limpar e desinfectar objetos e superfícies tocados com frequência; 
• Manter o ambiente limpo e arejado.


Fotos: Luan Porto

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