Dia da Mentira: boatos sobre a Covid-19 agravam pandemia

Dia da Mentira: boatos sobre a Covid-19 agravam pandemia

Portal Revide ouviu especialistas para desmentir boatos e informações falsas sobre a Covid-19

Neste 1º de abril, "Dia da Mentira", o Portal Revide desmentiu quatro boatos que tem sido compartilhados durante a pandemia da Covid-19. Essas notícias falsas, segundo especialistas, têm ajudado na disseminação do vírus e contribuem para o caos sanitário que o país atravessa.

Valdes Roberto Bollela, médico professor da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP ressalta que as notícias falsas causam transtornos na atuação dos profissionais de saúde, além de acarretarem em riscos para toda população. "Toda informação que cria confusão e leva as pessoas a terem comportamentos que as exponham ao risco de infecção, aumenta o nosso problema, como o caos que a gente vive hoje e a possibilidade de não termos vagas para atender todas as pessoas que precisam de tratamento", alerta.

O médico ressalta que uma das notícias falsas mais espalhadas foi a do dilema entre "salvar a economia ou salvar vidas". Segundo ela, uma escolha não excluía a outra. "Hoje estamos vendo o que acontece com a economia quando a infecção pelo vírus da Covid-19 se alastra sem controle. A economia está sofrendo ao mesmo tempo em que milhares de pessoas estão perdendo a vida", declarou Bollela.

As notícias falsas sobre a Covid-19 tem despertado atenção em todo o mundo. A Organização das Nações Unidas (ONU) e a Organização Mundial da Saúde (OMS) têm cobrado os governantes a adotarem medidas mais rígidas contra as fake news.

“Assim que o vírus se espalhou pelo mundo, mensagens imprecisas e até mesmo perigosas começaram a proliferar de forma descontrolada nas redes sociais, deixando as pessoas confusas, enganando-as e disseminando conselhos nocivos”, ressaltou o secretário-geral da ONU, António Guterres.
 

– "A Organização Mundial da Saúde é contrária ao lockdown" – FORA DE CONTEXTO

Esse boato ganhou repercussão após ser compartilhado por uma deputada brasileira. A publicação atribuía ao "diretor da OMS" uma fala contrária ao lockdown.  

O texto foi compartilhado, principalmente, de um site chamado "Frontliner". Na ocasião, veículos de imprensa como o EstadãoFolha de São Paulo e UOL apontaram que a informação estava "fora de contexto".

A frase foi dita por David Nabarro, que é enviado especial da organização, não o diretor da OMS. De fato, Nabarro ressaltou os sérios impactos econômicos dos lockdowns. Contudo, durante a mesma entrevista em que disse essa frase, ele afirmou que os lockdowns são justificados em momentos de crise com a finalidade de reorganizar os sistemas de saúde e proteger os funcionários da linha de frente.  

Veja o vídeo completo da entrevista neste link. E neste outro link está o trecho exato em que ele fala sobre lockdowns.

– "Só se morre de Covid-19 agora" – FALSO

Em tom irônico tem circulado um boato de que "só se morre de Covid-19 no Brasil". Segundo essa narrativa, o número de mortes no Brasil não teria sofrido alterações significativas com a chegada do novo coronavírus. E que outras mortes estariam sendo "negligenciadas". Porém, com uma busca rápida em dados oficiais, utilizados também pelo governo federal, é possível constatar que o número de mortes, no geral, aumentou em 2020 além do crescimento populacional.

Segundo o Portal da Transparência do Registro Civil da Associação dos Registradores de Pessoas Naturais do Brasil (Arpen), houve um aumento no número de mortes em 2020 e 2021 que não acompanhou o crescimento da população

Mortes no Brasil
Mortes em 2021: 403.466 
Média mensal: 134.488 (+10,9% em relação ao ano anterior)

Mortes em 2020: 1.454.324 
Média mensal: 121.193 (+14,9% em relação ao ano anterior)

Mortes em 2019: 1.265.595
Média mensal: 105.466 (+5,6% em relação ao ano anterior)

Nascimentos no Brasil 
Nascimentos em 2020: 2.602.907 (-6,1% em relação ao ano anterior)
Nascimentos em 2019: 2.774.310 (+0,4% em relação ao ano anterior)
Nascimentos em 2018: 2.760.603 (+7,8% em relação ao ano anterior)

– "Tratamento com cloroquina reduz a mortalidade" – SEM COMPROVAÇÃO

Um artigo publicado no dia 2 de março de 2021 na revista científica The  British Medical Journal,  pela Organização Mundial da Saúde, mostrou que o uso da hidroxicloroquina não possuí eficácia no tratamento contra a Covid-19. O artigo completo está disponível neste link. O artigo da OMS toma como base as evidências encontradas por outros seis estudos envolvendo cerca de 6 mil participantes.

"A hidroxicloroquina teve um efeito pequeno ou nenhum efeito sobre a mortalidade e admissão hospitalar", consta no artigo. Como o estudo não detectou eficácia do medicamento, o risco de efeitos adversos torna a droga inapropriada para o tratamento da Covid-19.

 Além disso, os cientistas se mostraram preocupados com “o desvio de estoques de hidroxicloroquina de pacientes com outras condições para os quais este medicamento é indicado”, como artrite reumatoide e o lúpus eritematoso sistêmico.

"O painel [de especialistas] considera que o medicamento não é mais uma prioridade de pesquisa e que recursos deveriam ser direcionados para avaliar outras drogas mais promissoras para prevenir a covid-19", aconselhou a OMS.

O professor Valdes Roberto Bollela, acrescenta que cerca de 80% dos casos de infecção por Covid-19 apresentam sintomas leves ou nenhum sintoma. "Essas pessoas, se não fizerem nenhum tipo de tratamento, apenas a quarentena, repouso e algumas medidas como antitérmicos e analgésicos, vão evoluir de forma benigna e não vão ter nenhuma complicação", explicou.

Porém, entre 15 a 20% dos infectados podem ter sintomas moderados ou graves. "Se não receberem oxigênio, se não forem tratadas com medicamentos no momento adequado, podem evoluir com complicações ou até à morte".

Bollela explica que os medicamentos utilizados são corticoides, medicamentos para evitar trombose e o oxigênio, mas apenas no grupo dos pacientes graves. Em nenhum desses casos a cloroquina ou a hidroxicloroquina é utilizada.

"Nos casos em que a pessoa não foi infectada, e pretende se proteger da infecção, não existe qualquer evidência de que o uso de medicamentos como cloroquina, hidroxicloroquina, ivermectina inverme, nitazoxanide pode prevenir ou ser útil  no tratamento precoce nos casos de Covid-19", esclareceu o professor. 
 
A melhor forma de enfrentar o Coronavírus, ressalta Bollela, é com a vacinação e o distanciamento social.

– "Os hospitais ganham dinheiro para cada paciente que morre" – FALSO 

Esse é outro boato utilizado para desmerecer ou questionar o número de óbitos pela Covid-19. Ele reúne várias características de uma fake news: é vago e costuma ser replicado em várias localidades. Esse boato já circulou e foi desmentido por veículos de São Paulo, Bahia e Rio Grande do Sul. As quantias mudam de acordo com a versão e a localidade, mas é dito que o "governo" repassaria entre R$ 12 e R$ 18 mil para cada óbito. Afinal, por que algum governante "recompensaria" os hospitais pelos óbitos? Uma vez que, a função dos hospitais é preservar a vida.

O Ministério da Saúde informou que não repassa verba para cada registro de óbitos dos hospitais. O que a pasta faz é repassar recursos para custeio da saúde, aquisição de insumos e equipamentos e para os recursos humanos do Sistema Único de Saúde.

Procedimentos desse tipo não são realizados pela Prefeitura de Ribeirão Preto, que também repassa verba de custeio. No Portal da Transparência no site da Prefeitura existe uma opção na qual estão disponíveis os dados sobre a Covid-19 no município, como licitações e despesas. Em nenhuma das opções existe qualquer menção a repasses por registro de óbitos. 
 


Imagem: Revide

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