Estudo da USP mostra relação entre o novo coronavírus e síndrome rara em crianças
A Organização Mundial da Saúde (OMS) já vem alertando sobre a possibilidade de haver ligação entre a Covid-19 e a SIM-P

Estudo da USP mostra relação entre o novo coronavírus e síndrome rara em crianças

Descoberta de partículas do vírus em células musculares cardíacas é relacionada à síndrome inflamatória multissistêmica pediátrica, que atinge crianças e adolescentes

Após estudar o caso de uma menina de 11 anos de idade que contraiu a Covid-19 e morreu, pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) descobriram que o Sars-CoV-2, nome científico do novo coronavírus, chegou a atingir células cardíacas. O resultado do estudo foi publicado no periódico The Lancet Child & Adolescent Health, associando, pela primeira vez, a infecção pelo vírus ao quadro de uma síndrome rara, a inflamatória multissistêmica pediátrica (SIM-P), que pode acometer vários órgãos, tanto em crianças como em adolescentes.

Conforme relatam os cientistas, do Hospital das Clínicas (HC) da Faculdade de Medicina da USP, a criança não tinha nenhuma doença preexistente e, mesmo assim, desenvolveu um quadro grave de saúde após contrair a Covid-19. Apenas 28 horas depois de ter sido internada em um leito de Unidade de Terapia Intensiva (UTI), ela apresentou uma disfunção cardíaca e choque cardiogênico, precisando de ventilação mecânica pulmonar e medicações para estabilizar seu sistema cardiovascular. Em entrevista ao Jornal da USP, a médica Juliana Ferranti, que participou do estudo, classificou a situação como "muito rara dentro da pediatria".

A equipe médica que atendeu a paciente realizou exames de sangue, radiografia, tomografia de tórax, eletrocardiograma e ecocardiograma, que confirmaram a presença de um processo inflamatório e o comprometimento severo do coração. Após o falecimento da criança, foram feitas uma análise microscópica de tecidos de diversos órgãos do corpo e uma pesquisa de RNA viral em pulmões e coração. Essa segunda bateria de exames confirmou a relação entre Covid-19 e a SIM-P, revelando que a menina teve de fato um quadro leve de pneumonia, causada pelo vírus Sars-CoV-2, e a presença de microtrombose pulmonar. Concluiu-se também que a causa de morte foi a inflamação [miocardite] do coração, que chegou ao estágio de necrose e perda de fibras cardíacas.

Segundo a professora Marisa Dolhnikoff, uma das autoras do artigo, o que se observa por outras pesquisas é que a maioria das crianças com SIM-P consegue se recuperar da doença, se tiverem o devido tratamento. Ela acrescenta, porém, que o trabalho alerta para a possibilidade de que sequelas cardíacas remanesçam, ainda que recebam cuidados.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) já vem alertando sobre a possibilidade de haver ligação entre a Covid-19 e a SIM-P, tema que chegou a ser tratado em seminários, por especialistas da Espanha. No início deste mês, o Ministério da Saúde emitiu nota em que destaca o aviso da OMS e informa que tem monitorado casos da síndrome em crianças e adolescentes com idade entre 7 meses e 16 anos. Até julho, 71 casos foram registrados em quatro estados, sendo 29 no Ceará, 22 no Rio de Janeiro, 18 no Pará e 2 no Piauí, além de três óbitos no Rio de Janeiro.

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*Com informações do Jornal da USP e Agência Brasil


Foto: Peter Ilicciev/ Fiocruz

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