Médico ribeirãopretano combate a covid-19 em comunidades do Rio de Janeiro

Médico ribeirãopretano combate a covid-19 em comunidades do Rio de Janeiro

Além do atendimento clínico, Rafael Cangemi Reis tem se empenhado em levar informação para população carente

Graduado em Medicina pela Universidade Federal Fluminense, com Residência concluída em 2015 pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro e com Mestrado em Atenção Primária à Saúde com ênfase em Saúde Coletiva pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, o ribeirãopretano Rafael Cangemi Reis tem desenvolvido um intenso trabalho junto às comunidades do Rio de Janeiro com o intuito de conter a disseminação no novo coronavírus.

“Sou especializado e professor em Medicina da Família e Comunidade, uma área que existe no Brasil desde 1976, mas que só agora tem ganhado mais reconhecimento. Há cinco anos, atuo em uma Unidade Básica de Saúde no bairro Catumbi, na região Central da cidade. Somos a porta de entrada do sistema público de saúde e recebemos todos os tipos de casos clínicos, abrangendo todos os ciclos de vida. São, em média, 100, 150 atendimentos por dia. Trabalhamos com uma população de 24 mil pessoas cadastradas, sendo que 90% delas moram em comunidades, muitas vivendo em condições precárias de saneamento básico”, explica o médico.

Em certos pontos, falta água e o esgoto corre a céu aberto. As casas são bem próximas, a maioria geminadas, sem janelas, divisão de cômodos, ventilação ou iluminação natural. Esse cenário, onde é difícil manter cuidados básicos com a higiene e a limpeza, reverbera profundamente na saúde da população. A preocupação se tornou ainda maior com o risco de uma contaminação em massa pelo novo coronavírus. “Se um indivíduo é infectado, a chance de ele passar a doença, não só para a família, mas para um grande número de pessoas no seu entorno, é enorme”, enfatiza o especialista.

Com o intuito de minimizar o avanço da pandemia, Reis investe na informação. “Logo no início, pouca gente deu importância para essa doença. Mantiveram suas rotinas, inclusive com a promoção de eventos comunitários. Convocamos os agentes comunitários e as lideranças para reuniões, onde apresentamos os fatos, esclarecemos dúvidas e passamos orientações dentro da realidade deles. Não adianta pedir para comprar álcool em gel porque eles estão sem trabalho e não têm dinheiro para isso. Não adianta pedir para isolar os idosos e pessoas com doenças crônicas em um quarto, porque todos dividem o mesmo cômodo. Mostramos outras alternativas para que eles consigam se proteger, como o uso da água sanitária e de máscaras, por exemplo”, comenta.

A receptividade dessa ação tem sido positiva. Os eventos foram cancelados e algumas comunidades adotaram um toque de recolher após as 22h. “Estamos inseridos em um contexto que, muitas vezes, só a saúde não é suficiente. Por isso, realizamos ações intersetoriais para melhorar as condições do indivíduo, da família e de seu território, buscando a longitudinalidade do cuidado. Essa conduta faz parte do nosso trabalho e tem sido reforçada por causa da Covid-19”, ressalta o médico.

Os atendimentos na unidade foram divididos em síndromes gripais e demais casos, para evitar o contato entre os pacientes. Do dia 16 de março até agora, foram 107 casos suspeitos notificados.“Estamos monitorando esses pacientes de perto, porque não temos como fazer os testes, já que estão, nesse momento, reservados aos profissionais de saúde e para os casos mais graves. Fico preocupado com essas pessoas, pois conhecemos cada uma delas há muito tempo. Nesse modelo de atendimento médico, existe um vínculo diferente. Além disso, a população tem evitado buscar assistência médica em caso de sintomas leves, o que é bom, pois não gera uma superlotação, mas também tem seu lado negativo. Os outros casos que recebíamos frequentemente, como sífilis, HIV e violência contra a mulher simplesmente desapareceram, mas sabemos que tudo isso continua acontecendo aqui. Nem sempre conseguimos contato com esses pacientes, o que nos deixa bastante apreensivos”, finaliza.


Foto: arquivo pessoal

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