Médicos da USP Ribeirão lançam manifesto a favor da vacinação infantil
Dados científicos demostram que crianças e adultos são expostas igualmente vírus

Médicos da USP Ribeirão lançam manifesto a favor da vacinação infantil

Posicionamento oficial foi apresentado nesta quinta-feira, 10, no Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto

Para incentivar e orientar a população sobre a vacinação de crianças e adolescentes contra a Covid-19, médicos e especialistas do Departamento de Puericultura e Pediatria da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP elaboraram um manifesto reforçando a importância da imunização. O documento foi apresentado nesta quinta-feira, 10, em uma coletiva de imprensa no Hospital das Clínicas (HC).

De acordo com o posicionamento, evidências científicas demostram que crianças e adultos são expostas da mesma forma ao vírus. Porém, por apresentarem menos sintomas do que os adultos, as crianças são reconhecidas como transmissoras da doença.

Contudo, estudos recentes mostram que as crianças com Covid-19 ainda correm o risco de serem hospitalizadas e desenvolverem complicações como a Síndrome Inflamatória Multissistêmica Pediátrica (SIM-P). Outra complicação é o "Covid longo”, em que os sintomas podem duram meses. E, em casos mais sérios, até o óbito. 

“As crianças podem sim ser infectadas. A maioria tem quadros leves e até 70% são assintomáticas. Entre aquelas que manifestarão a infecção, nós temos um percentual maior de crianças com quadros leves, mas, em torno de no máximo 5%, adoecem mais gravemente. Vacinar a criança tem vários objetivos, não só a prevenção da doença, como a prevenção da transmissão que ela possa carrear na comunidade e, com isso, a nossa oportunidade de reduzir a disseminação do vírus e reduzir o aparecimento de novas variantes”, afirma a professora titular de pediatria da FMRP da USP, Marisa Mussi.

Variante

Desde a disseminação dos primeiros casos da variante Delta, houve aumento repentino de casos de Covid-19 em crianças. As hospitalizações, no período que corresponde ao final de junho a meados de agosto de 2021, aumentaram cinco vezes, informa o departamento.

“Dados oficiais obtidos dos Boletins Epidemiológicos do Ministério da Saúde vêm mostrando claramente que a doença que está acometendo crianças e adolescentes de três a 17 anos, com taxas de letalidade e de mortalidade superiores às documentadas por países europeus ou da América do Norte, incluindo, até o momento, milhares de hospitalizações, complicações e mortes pela Covid-19 neste grupo etário”, aborda o manifesto.

 "É importante nos basearmos em evidências. E os dados que temos  mostram claramente que é melhor vacinar e deixar as crianças mais protegidas, do que não vacinar e deixa-las expostas", afirma Sonir.

Vacinação 

Atualmente, duas vacinas contra o coronavírus foram aprovadas para uso no Brasil. Os médicos ressaltam que ambos os imunizantes foram cuidadosamente avaliados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) antes de sua aprovação e adoção no país.

Somado a isso, foi demonstrado que as vacinas utilizadas no Brasil são eficientes e seguras. A eficácia foi comprovada por meio de estudos clínicos com métodos científicos amplamente aceitos pela comunidade científica internacional. Desta forma, a ideia de que as vacinas contra Covid-19 são experimentais não procede.

O professor e chefe do Departamento de Puericultura e Pediatria da FMRP, Sonir Antonini, compreende que os pais e responsáveis fiquem receosos ao vacinar suas crianças, já que muitas informações vêm circulando nos últimos meses. “Essas dúvidas, esse medo, essa vontade de proteger é muito genuína, nós acolhemos essa dúvida. Entretanto, é importante sempre nos basearmos no que temos de dados e evidências e, os dados e as evidências com que nós médicos trabalhamos, mostram claramente que é melhor vacinar e deixar as crianças mais protegidas, do que não vacinar e deixa-las expostas”, esclarece.

Miocardite 

Considerando o número de vacinados no mundo, os efeitos colaterais dessas vacinas são considerados raros. A miocardite/pericardite especialmente após os primeiros dias da segunda dose, já foram raramente descritos para as vacinas de RNAm, tanto com a Pfizer/BioNTech como com a Moderna6. Entretanto, após uma extensa análise realizada pela Advisory Committee on Immunization Practices (ACIP), considerando-se o contexto epidemiológico norte-americano, concluiu-se que a rara ocorrência de miocardite era amplamente superada pelos benefícios da vacinação, tanto em adolescentes como em adultos jovens, afirma o departamento.

 “Esse risco de miocardite é relatado após a aplicação da vacina, mas, os casos relatados evoluíram de maneira branda, com reversão total dos sintomas. Não há caso relatado de morte relacionada a miocardite causada pela vacina em crianças”, explica a professora associada do Departamento de Puericultura e Pediatria e chefe da Unidade de Terapia Intensiva (UTI) pediátrica do HC, Dra. Ana Paula Carlotti

Além disso, segundo os médicos, nos ensaios clínicos, os efeitos colaterais da vacina foram classificados como não graves (febre, cefaleia, vômitos, fadiga e inapetência), autolimitados e semelhantes aos observados em adultos, ocorrendo, geralmente após a segunda dose. Até o presente momento, não houve documentação comprovada de óbito em criança ou adolescente causada por estas vacinas.


FotoS: Mariana Rocha

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