Médicos explicam porque as pessoas não ficam “blindadas” contra a Covid-19 após imunização
Vacina não evita o contato do indivíduo com o vírus, mas "ensina" o sistema imunológico a se defender
O avanço da campanha de vacinação em Ribeirão Preto – e em todo Brasil –, diminuiu o números de casos confirmados e de óbitos relacionados a Covid-19. Segundo dados da plataforma Info Tracker, atualizada diariamente por pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade Estadual Paulista (UNESP), 91% da população brasileira que morreu, entre maio e junho, não tinha sido vacinada ou ainda não tinha alcançado a imunização total, que acontece após duas semanas da aplicação da segunda dose.
No entanto, nos últimos dias, a notícia de que pessoas completamente imunizadas foram infectadas – como o ator Tarcísio Meira, que faleceu aos 85 anos vítima da Covid-19, e o apresentador de televisão Silvio Santos, de 90 anos, que chegou a ser internado, mas já recebeu alta – levantou inúmeras dúvidas sobre a eficácia das vacinas.
Amaury Lelis Dal Fabbro, professor do Departamento de Medicina Social da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP, esclareceu alguns dos questionamentos mais frequentes. De acordo com o especialista, existem diversos fatores que não permitem que as vacinas apresentem 100% de proteção no organismo das pessoas.
Ele explica que os imunizantes variam com a doença. A vacina do Sarampo e a da Febre Amarela, por exemplo, têm grande capacidade de deixar os indivíduos imunes, porque esses vírus não sofrem tantas mutações e as vacinas foram desenvolvidas há mais tempo. Já a gripe Influenza apresenta muitas variações antigênicas e, por isso, necessita da renovação da vacina todos os anos. “Eu creio que o coronavírus vai se situar um pouco mais próximo desse padrão da gripe do que do vírus do Sarampo. Ou seja, talvez a gente tenha que, de tempos em tempos, produzir vacinas contra novas variantes, mas temos que estudar melhor o assunto”, comentou o professor.
Fabbro afirma que, ao tomarem as vacinas, as pessoas adquirem anticorpos. No entanto, às vezes, não em um nível suficiente. Por isso acabam se infectando mesmo após a imunização. “Parece que essas vacinas protegem mais contra as formas graves da doença do que propriamente contra a infecção, mas quando você vacina a população inteira, como aconteceu no caso de Serrana e de Botucatu, por exemplo, o que se observa é que o número de pessoas infectadas cai tremendamente e o número de hospitalizações praticamente vai a zero. Precisamos de altas coberturas vacinais para que a gente possa realmente proteger a população”, declarou.
A ação da vacina no sistema imunológico
Ao ser infectado por algum vírus, o sistema imune o reconhece como estranho e produz anticorpos contra ele. A vacina reproduz uma infecção. Portanto, na imunização, o sistema é o mesmo: o corpo age contra a proteína do imunizante, produzindo anticorpos. Segundo Luiz Fernando Freitas, médico infectologista do Hospital São Lucas de Ribeirão Preto, a vacina estimula o sistema imune sem agressão.
“Dependendo da composição da vacina, você apresenta ao sistema imunológico parte do vírus, o código genético do vírus, ou ele próprio inativado, de forma segura ao sistema imune. Você não tem só uma atividade de reconhecimento do que está dentro da vacina. Esse reconhecimento faz com que o sistema imune produza anticorpos quando o indivíduo entrar em contato com o vírus, neutralizando-o ou, eventualmente, destruindo-o”, complementou Luiz Fernando.
O especialista ressalta que ainda não há uma estimativa de quantas pessoas precisam ser vacinadas para que não haja a variação frequente do vírus. No entanto, afirmou que quanto mais pessoas imunizadas, menor será a circulação viral, já que com a produção de anticorpos que as vacinas proporcionam, o corpo apresenta certa proteção. “Mesmo vacinadas, as pessoas podem adquirir o vírus. O organismo não está totalmente livre de adquirir a infecção, mas fazem uma infecção que é ‘abortada’. Ela não progride. Então, o adoecimento da pessoa é mais curto e os sintomas, sendo mais leves também, diminuem a possibilidade de transmissão”, declarou o infectologista.
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Foto: Prefeitura de Ribeirão Preto