Pacientes oncológicos adotam nova rotina durante pandemia do coronavírus
No InoRP Oncoclínicas rotina de atendimentos foi alterada por conta da pandemia

Pacientes oncológicos adotam nova rotina durante pandemia do coronavírus

Telemedicia e apoio psicológico são fundamentais, explicam especialistas

Durante a pandemia do novo coronavírus, o apoio psicológico a pacientes que estão em tratamento contra o câncer é fundamental. No grupo de risco para a Covid-19, os pacientes oncológicos precisaram adaptar a rotina para seguir com atendimentos e também reforçar medidas de prevenção por conta da baixa imunidade.

No InORP Oncoclínicas, em Ribeirão Preto, profissionais alteraram o dia a dia, tendo o apoio psicológico, cuidados e a telemedicina como aliados durante o isolamento social. Em entrevista ao Portal Revide, a médica oncologista Cristiane Mendes e o Psicólogo Fabio Bronzi contam como está a rotina dos pacientes oncológicos e os procedimentos adotados.

Como estão os pacientes oncológicos com a pandemia de coronavírus? Há relatos sobre algum sintoma psicológico específico?

Dra. Cristiane Mendes - Desde que houve a confirmação dos primeiros casos no Brasil, percebemos entre os nossos pacientes uma apreensão muito grande, justificada por eles estarem em grupo de risco para formas mais graves da doença. A imunidade do paciente oncológico geralmente é diminuída pelos tratamentos ou pela própria presença da doença. Existe um trabalho intenso entre os serviços de saúde e no nosso não foi diferente. Adaptamos a rotina para que os atendimentos sejam mantidos, mas com fluxo de pessoas reduzido para diminuir aglomeração; Os pacientes recebem o tratamento em quartos individuais e todo profissional que presta atendimento fica devidamente paramentado. Medidas de higiene, uso de máscara e limitação de um acompanhante por paciente também ajudam para diminuir risco de contaminação. Ainda disponibilizamos a modalidade de atendimento por telemedicina para aqueles pacientes em seguimento. Todo esse suporte deixa o paciente mais seguro em seguir com seu tratamento.  


Como conseguir manter o pensamento positivo diante de tantas informações que recebemos no dia a dia? Há alguma dica?

Dra. Cristiane Mendes - As estatísticas do coronavírus em todo mundo trazem junto uma avalanche de informações - seja da incidência crescente, mortalidade, taxa de ocupação hospitalar, dificuldade de acesso a insumos hospitalares, disparidade em assistência médica, restrição de circulação, entre outros. Percebemos entre nossos pacientes um medo de se contaminar, além da tristeza relacionada ao recolhimento social e ao distanciamento de familiares e amigos. A rotina está completamente diferente. Sabemos que é necessário nos manter informados, é preciso saber o que as organizações de saúde orientam. Mas não podemos ficar focados apenas nas informações desta crise mundial. Precisamos motivar nossos pacientes a buscar rotina saudável. Oferecemos acolhimento, escuta, avaliação psicológica. Estimulamos apoio espiritual. Trabalhamos com dados de casos curados da covid -19 também. E reforçamos que estamos preparados para passar esta crise juntos. 


Estamos em casa com a família e a rotina mudou, algumas pessoas estão trabalhando. Como conciliar e quais atividades?

Dra. Cristiane Mendes - Temos conversado com nossos pacientes e incentivamos a prática, por exemplo, de meditação, leitura, atividade física em casa, seguir uma dieta equilibrada, fazer receitas novas, acessar cursos on-line para novas habilidades, afinal tem  muito conteúdo disponível na  internet. Reforçamos ainda o quanto é bom conversar com familiares e amigos por chamadas de vídeo. Sabemos que cada um tem um perfil e preferências. Tentamos identificar atividades que tragam bem-estar e satisfação para eles. Criando rotina produtiva e saudável.


Qual a diferença de estresse crônico e agudo? Em momentos de crise, o que fazer?

Dr. Fabio Bronzi - O Estresse é uma resposta a uma situação de crise. No geral, a situação de crise gera um desconforto que nos obriga a adaptar à mudança provocada. Nesses momentos é necessário buscarmos acessar nossos próprios recursos emocionais, afetivos e possíveis rede de suporte social (familiar, amigos, apoio religioso). São esses recursos que podem nos auxiliar nesse processo de enfrentamento do desconforto e de adaptação às mudanças impostas. Por mais difíceis que sejam, os momentos de crise, são importantes, pois possibilitam um desenvolvimento emocional e crescimento pessoal.

-Agudo: É a reação do organismo frente a um novo desafio. Pode ocorrer diante de notícias inesperadas como a chegada de um novo filho, o recebimento de uma notícia ruim, uma briga ou erro no trabalho ou um acidente. Geralmente são episódios isolados que não tem efeito persistente no organismo. No entanto se o  estresse sofrido por uma vítima de um crime, acidente grave ou situação potencialmente fatal, há um risco do desenvolvimento de um quadro psiquiátrico chamado de transtorno de estresse pós-traumático. 

-Crônico: os eventos ou circunstâncias que são percebidos como aversivos pelo indivíduo, gerando a denominada resposta de estresse ou condição de estresse, envolvendo respostas viscerais, neuroendócrinas e comportamentais. Este conjunto de respostas visa à manutenção do equilíbrio corporal, e por si, não são alterações patológicas. Entretanto, quando a estimulação aversiva se dá por período prolongado -semanas, meses ou anos ou quando excede a capacidade do organismo de manter este equilíbrio,  o estresse crônico pode acarretar sequelas patológicas. Exemplos: Mudanças em geral, até mesmo as positivas, desencadeiam estresse – porque exigem adaptação: nascimento de filho, mudanças profissionais (troca de emprego, promoção, demissão), aposentadoria, mudança de casa, divórcio, doença ou morte de pessoas queridas.


Como as técnicas de respiração podem ajudar no momento em que estamos vivendo e durante um tratamento oncológico?

Dr. Fabio Bronzi -  O diagnóstico de um câncer, seu tratamento, bem como a possibilidade de contaminação por uma doença nova como o Covid-19 são fatores que podem gerar dúvidas, ansiedade, sentimentos de raiva, revolta, angústia e tristeza. Diante disso, as técnicas de relaxamento podem ser utilizadas para complementar no enfrentamento dessas situações angustiantes. Digo, complementar porque não devem ser utilizadas isoladamente. Diante de situações ansiogênicas como a que estamos vivendo, é importante que o paciente mantenha seu acompanhamento médico e, se possível, que possa contar também com o acompanhamento psicológico.  Temos um padrão de respiração para diferentes situações que vivemos ao longo do dia. Diante uma crise de ansiedade por exemplo podemos apresentar sintomas como batedeira, respiração irregular e sensação de falta de ar, medo, tremores no corpo. Podemos aplicar técnicas de respiração – que consistem em trabalhar com a respiração e tranquilizar a mente durante o processo, passando ao cérebro a mensagem de que está tudo bem, até que possa se acalmar e voltar ao seu estado normal.

 

A preocupação com a Covid trouxe mais uma carga emocional para os pacientes oncológicos além da neoplasia em si. Como lidar com as duas questões?

Dr. Fabio Bronzi - De fato, o paciente oncológico se encontra em uma condição de maior vulnerabilidade diante da Covid e isso assusta.  Gera sentimentos de preocupação e medo. E nessa hora, é fundamental acessar recursos que ele dispõe. Buscar  se informar em fontes seguras e confiáveis, em especial, orientações do médico e da equipe de profissionais que o acompanham; não se ausentar do tratamento oncológico, manter as terapias de suporte e buscar estabelecer uma rotina com hábitos que sejam saudáveis (alimentação, descanso, hobbies como leitura, assistir a filmes), e, mesmo não dispondo dos cultos religiosos no momento, acessar os recursos disponíveis pela internet para manter os hábitos de oração, prece, leitura, enfim de comunhão espiritual e/ou religiosa.

O Dr. Fabio Bonzi e Dra. Cristiane Mendes, do Inorp, falam sobre atendimento e apoio psicológico durante a pandemia

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Foto: Divulgação

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