Velocidade de criação da vacina da Covid-19 é motivo de preocupação? Butantan responde
A vacinação com imunizantes contra a Covid-19 são muito seguras, garante o Instituto Butantan

Velocidade de criação da vacina da Covid-19 é motivo de preocupação? Butantan responde

Pesquisadora do instituto explica como foi criado o imunizante contra o novo coronavírus

No final de 2019, o SARS-CoV-2 se tornou a grande preocupação de todo o planeta. Em pouco tempo, a Covid-19, doença causada pelo vírus, deixava um rastro de doentes e de mortes por onde chegava. A ciência correu para criar uma vacina contra a doença, e os primeiros imunizantes ficaram prontos em meados de 2020. Até então, demorava mais de 10 anos para uma vacina ficar pronta, enquanto a que combate o novo coronavírus chegou aos braços das pessoas em meses. No entanto, isso deixou uma dúvida em muitas pessoas.

Um imunizante que foi desenvolvido e produzido em tão pouco tempo é seguro?

A pesquisadora científica e diretora do Laboratório de Desenvolvimento de Vacinas do Butantan, Viviane Maimoni Gonçalves, é categórica: elas são, sim, seguras, e não existe qualquer motivo para preocupação.

Um trabalho que vem de antes

O maior equívoco sobre o imunizante é achar que o trabalho para produzi-lo começou no início da pandemia — na verdade, foi bem antes. “Parece que a vacina saiu rápido, mas não foi bem assim. Se você contar o tempo em que a tecnologia para combater o vírus foi desenvolvida, são pelo menos 20 anos”, calcula Viviane. A tecnologia para combater a Síndrome Respiratória Aguda Grave (SARS) já estava em andamento em 2003, quando aconteceu o primeiro surto global envolvendo um coronavírus. “A Universidade de Oxford estudava o SARS-CoV. Eles fizeram fase 1 e 2 dos estudos clínicos em humanos, mas nenhum imunizante chegou a ficar pronto porque a pandemia acabou antes”, explica a pesquisadora científica.

O coronavírus reapareceu em 2012, com a Síndrome Respiratória do Oriente Médio (MERS). Da mesma forma que em 2003, companhias fizeram testes clínicos, mas a pandemia acabou antes de uma imunização coletiva ser necessária. A tecnologia, no entanto, foi novamente aprimorada.

Quando o SARS-CoV-2 surgiu, a tecnologia para enfrentar o coronavírus já existia. O que os cientistas precisaram fazer foi adaptar a vacina para combater o novo vírus – ele possui uma proteína chamada Spike (proteína S) diferente dos coronavírus anteriores. “Na verdade, tivemos sorte que a pandemia tenha sido causada por um coronavírus, e a resposta imune contra apenas uma proteína foi suficiente para proteger do vírus”, comenta Viviane.

A pesquisadora lembra que existem outros vírus mais perigosos em circulação, como o HIV, causador da Aids. Esse retrovírus é motivo de estudo desde que foi identificado, em meados dos anos 1980, e até hoje não foi possível desenvolver uma vacina para combatê-lo por conta de sua alta taxa de mutação (muito maior que a do SARS-CoV-2) e complexidade (ele se esconde dentro das células do sistema imune). “Foram anos de investimento, muito dinheiro gasto, mas ainda não temos um imunizante. É um grande desafio para a comunidade científica até hoje”, diz Viviane.

O vírus da gripe também é mais difícil de combater que o SARS-CoV-2 – tanto que existe um calendário anual para se vacinar contra a influenza. Todos os anos, a Organização Mundial da Saúde (OMS) faz um esforço global de vigilância epidemiológica para coletar os vírus em circulação e entender qual vai circular na próxima estação a fim de atualizar as cepas contidas na vacina. “As pessoas confundem resfriado com gripe. A gripe é uma doença que pode levar à morte, inclusive em idosos”, esclarece a pesquisadora científica.

Viviane ainda ressalta que existe um desenvolvimento frequente em pesquisa e tecnologia, e que o avanço científico das últimas décadas ajudou no processo de desenvolver as vacinas contra a Covid-19 rapidamente. Além disso, houve um grande investimento governamental de países como Reino Unido, China, Estados Unidos e Índia. “Sempre vai ser possível ter uma adaptação para um novo problema. Só esperamos que o próximo não apareça tão em breve", finaliza.

* Com informações do Instituto Butantan


Foto: Divulgação/Instituto Butantan

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