Ciganos: Tradição e cultura em Ribeirão Preto
Além dos trabalhos desenvolvidos pela associação, é realizado anualmente uma festa cigana no mês de maio.

Ciganos: Tradição e cultura em Ribeirão Preto

Eles se entregam ao comércio, à musica, à dança e a adivinhação de sorte; jovem de 21 anos relata a tradição de sua família cigana

Conhecidos por ser um povo singular, dotado de costumes próprios, os ciganos são considerados nômade ou seminômade e estão espalhados pelo mundo todo. Em Ribeirão Preto, muitos conservam a tradição e as características de gênero de vida.

Alguns especialistas acreditam que eles surgiram na Índia, mas nas antigas lendas direcionam a uma origem na Caldéia, região que hoje pertence ao Iraque. Além dos costumes próprios, os ciganos entregaram-se ao comércio, à música, à dança e a adivinhação da sorte.

Segundo a assistente de pesquisa da Universidade de São Paulo (USP) e primeira secretaria da Associação de Apoio e Divulgação da Cultura Cigana de Ribeirão Preto, Sandra Bernardo, caso os ciganos possuam raízes no Oriente Médio, é provável que tenham surgido há alguns milênios antes de Cristo. “Qualquer que seja o ponto de partida, sabe-se que eles se deslocaram do Oriente para o Ocidente até chegarem à Europa no fim do século XIV. Naquela época os ciganos foram perseguidos pela Inquisição, o tribunal da Igreja Católica que julgava crimes contra a fé,” diz.

Sandra comenta ainda que como conviviam tanto com mouros quanto com cristãos, os ciganos oscilavam do paganismo ao cristianismo, o que bastava para serem acusados de heresia.

“Hoje, calcula-se que existam de 2 a 5 milhões de ciganos no mundo, concentrados principalmente na Europa Central, em países como as Repúblicas Checa e Eslovaca, Hungria, Iugoslávia, Bulgária e Romênia. Já no Brasil, temos o grupo ROM e o grupo Calon”, relata.

O grupo ROM falam a língua romani, e são predominantes nos países balcânicos, mas, a partir do Século XIX migraram também para outros países europeus. Já os Calons falam a língua caló, tido como "ciganos ibéricos", e viviam em Portugal e na Espanha. Ambos já migraram para a América do Sul.

Monoteísmo

O povo de etnia cigana tem por base o monoteísmo, que é a crença em um único Deus. No entanto, em alguns países foram obrigados à conversão cristã para não serem mortos.

“Os ciganos, principalmente, no Brasil, optaram pelas mais diversas crenças. Você pode encontrar cigano católico, protestante, evangélico, kardecista, umbandista, hinduísta, budista, pois a escolha é livre”, afirma Sandra.

Mesmo com as diversas religiões, a pesquisadora explica que existe um culto entre alguns ciganos por Santa Sara Kali, que é a padroeira desse povo.  Sara não foi canonizada, mas por sua fidelidade que conservou a Deus, a santa é celebrada no dia 24 maio, mesmo dia que foi instituído o Dia Nacional do Cigano no Brasil.

Dificuldades

Os ciganos não gozam de boa fama, o que lhes tem valido perseguições. Em relação a isso, muitos deles não se expõem a sociedade por medo.  “Até hoje o povo de etnia cigana sofre por preconceito e perseguições que se arrastam há séculos. Nada mais óbvio que esconder sua real ancestralidade para evitar dissabores no dia a dia”, destaca.

Sandra conta que as maiores dificuldades são encontradas pelos ciganos calons, que ainda optam pela vida nômade e de acampamento.

“O analfabetismo entre calons é muito grande, já que por estarem em constante ‘mudança’ as crianças não conseguem concluir um ano letivo inteiro. Em questão de documentos pessoais também existe muita dificuldade em consegui-los, e sem documentação o acesso à saúde pública fica praticamente impossível”, explica a pesquisadora.

Os problemas também são encontrados na saúde das mulheres calons, pois elas não dão seguimento durante o pré-natal, assim como a falta de acompanhamento dos recém-nascidos e vacinação das crianças de acampamentos.

O cigano Ivo Cristo Neto, de 21 anos, relata também que antigamente os ciganos tinham muitas dificuldades, principalmente, em relação aos acampamentos. “Atualmente, os ciganos têm poucas dificuldades, pois vivem em casas fixas. Mas, sempre tem alguém que não gosta da nossa tradição e nos difame”, afirma.

O jovem acrescenta ainda que o preconceito é grande das pessoas, mas hoje a situação está controlada.

Ribeirão Preto

Na cidade do Chopp, também existem ciganos e suas famílias são numerosas, como a família de Ivo Cristo, que reside há mais de 40 anos no bairro Ribeirânia. “Minha família veio do Uruguai, e fomos os primeiros moradores do bairro em Ribeirão Preto”, conta.

Barracas de ciganos em festa de casamento no Rio Grande do Sul Ivo diz ainda que a sua família tem o costume de participar de festas tradicionais da cultura cigana, em todo o país. “Em casamentos da tradição, geralmente, são três dias de festas, e os ciganos se concentram em barracas, para não perder o costume”, relata.

Segundo a assistente de pesquisa da USP, os ciganos de Ribeirão moram nos bairros: Jardim São Luiz, City Ribeirão, Ribeirânia e Lagoinha, porém a maioria tem vidas normais, como qualquer outra pessoa.

“Os ciganos residentes em Ribeirão Preto são os romás, não temos calons residentes na cidade. São famílias numerosas, como trabalhadores, alunos universitários, profissionais liberais, médicos, advogados, professores universitários, comerciantes, enfim pessoas normais”, destaca.

Acampamento em Ribeirão

A pesquisadora conta que os ciganos nômades acampam duas vezes ao ano em Ribeirão Preto. A época acontece nos meses de março, junho e julho. O grupo sai de Minas Gerais, faz parada em Ribeirão e avança em direção a Campinas para retornar ao seu destino.

 Já o tempo de permanência varia de acordo com tempo em que eles necessitam para realizar consultas no Hospital das Clínicas (HC), visitas a parentes e questões comerciais.

Associação de Apoio aos Ciganos

A Associação de Apoio e divulgação da Cultura Cigana de Ribeirão Preto foi criada em 2011, com o objetivo de resgatar e divulgar as práticas culturais da tradição cigana.

Sandra relata que a associação já conseguiu uma conquista, em que foi instituído em 24 de maio, o dia do reconhecimento do povo cigano, no calendário oficial de eventos de Ribeirão Preto.

Apresentação da dança cigana na esplanada do Theatro Pedro II "Organizamos também as festas temáticas e workshops de dança. Além, de estarmos atentos aos problemas em que os ciganos encontram principalmente em casos de preconceito”, afirma.

Além dos trabalhos desenvolvidos pela associação, é realizado anualmente uma festa cigana no mês de maio, com comidas típicas, decoração, danças e músicas da cultura cigana.
 


Foto: Divulgação e Reprodução Facebook

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