Cinco brasileiros que você precisa conhecer

Cinco brasileiros que você precisa conhecer

Conheça a história de cinco personagens que lutaram pela igualdade e pelo fim da discriminação racial no País

Nesta sexta-feira, dia 20, mais de mil cidades brasileiras comemorarão o feriado da Consciência Negra. A data, incluída no calendário nacional em 2003, refere-se à morte do líder negro Zumbi dos Palmares – o maior dos quilombos do período colonial. A história de resistência da comunidade de escravos foragidos dos grilhões, localizada na atual Alagoas, ainda serve de inspiração para muitos brasileiros que, seja pela discriminação racial ou social, lutam bravamente.

Em celebração à data que relembra a luta dos negros escravizados e marca o clamor por mudanças, o Portal Revide separou cinco personagens brasileiros que você precisa conhecer. O que eles têm em comum é uma trajetória de luta por igualdade no País.

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Dandara dos Palmares

Segundo a Fundação Cultural Palmares (FCP), Dandara foi uma das lideranças femininas negras que lutou contra o sistema escravocrata brasileiro do século XVII e auxiliou Zumbi em estratégias e planos de ataque e defesa do quilombo.

Não há registros do seu local de nascimento, alguns relatos constam que Dandara se estabeleceu no Quilombo dos Palmares ainda criança e teve três filhos com Zumbi. Além dos serviços domésticos, a ativista em prol do ideal da liberdade dos negros e negras do Brasil, ela plantava, trabalhava na produção da farinha de mandioca, caçava e lutava capoeira, além de empunhar armas e liderar as falanges femininas do exército negro palmarino.

A companheira de Zumbi se suicidou, como consta no sita da FCP, depois de ser capturada, no dia 6 de fevereiro de 1694, para não voltar na condição de escrava.

Luiz Gama

Luiz Gonzaga Pinto da Gama, ou somente Luiz Gama (1830-1882), foi um jornalista, escritor, orador e rábula – advogado sem formação acadêmica – que ficou conhecido por seus feitos abolicionistas ao conseguir a alforria, por vias judiciais, cerca de 500 escravos, em plena vigência das leis escravocratas.

Filho de Luísa Mahin, escrava africana alforriada em 1812, foi feito escravo aos 10 anos de idade e conquistou, judicialmente, aos 17 anos, sua própria liberdade e passou a atuar como advogado dos cativos da época.

Dentre os raros intelectuais negros no Brasil escravocrata do século XIX, foi o único autodidata e o único a ter passado pela experiência do cativeiro; pautou sua vida na defesa da liberdade e da república, ativo opositor da monarquia, morreu seis anos antes de ver seus sonhos concretizados com a assinatura da Lei Áurea, no dia 13 de maio de 1888.

Mais de cem anos após a sua morte, no último dia 3 de novembro, Luiz Gama recebeu da Ordem dos Advogados do Brasil o título de Advogado.

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Lígia Fonseca Ferreira reuniu os poemas, artigos e cartas do abolicionista no livro “Coma a palavra, Luiz Gama”, em 2011.

Joaquina Lapinha

O nome artístico da cantora lírica negra brasileira Joaquina Maria da Conceição Lapa, a Lapinha, aparece em documentos do século XVIII de programas teatrais, partituras e críticas musicais. Seu nascimento, assim como a sua morte, ainda são um mistério para historiadores. O pouco que se sabe é que, por conta da cor de sua pele, teve que vencer entraves sociais, inclusive se pintando de branco, para se apresentar às plateias cariocas e lusitanas.

Lapinha é conhecida como a primeira cantora lírica brasileira a se tornar celebridade. O sucesso de suas apresentações a levou a fazer uma longa e bem-sucedida temporada na Europa. Mesmo assim, até hoje não foram descobertos retratos que mostrem suas feições.

Em 6 de fevereiro de 1795, o Gazeta de Lisboa se referiu a “Joaquina Maria da Conceição Lapinha nas seguintes palavras: “A 24 do mês passado, houve no Teatro de São Carlos desta cidade [Lisboa] o maior concurso que ali se tem visto, para ouvir a célebre cantora americana Joaquina Maria da Conceição Lapinha, a qual, na harmoniosa execução do seu canto, excedeu a expectação de todos: foram gerais e muito repetidos os aplausos que expressavam a admiração que causou a firmeza e sonora flexibilidade da sua voz, reconhecida por uma das mais belas e mais próprias para teatro”.

Após a temporada em Portugal, enfrentando dificuldades por ser mulher e negra, a cantora retornou ao Rio de Janeiro e continuou cantando óperas. Seu nome aparece em anúncios de espetáculos de música lírica até 1813.

Lélia Gonzalez

Filha de empregada doméstica indígena e de um ferroviário negro, Lélia Gonzalez é conhecida por seu ativismo em prol do direito dos negros, em especial das mulheres negras e pela articulação da luta por diretos igualitários.

Graduou-se em História e Filosofia e trabalhou como professora da rede pública de ensino durante a década de 1960. No Colégio de Aplicação Fernando Rodrigues da Silveira (UEG, atual UERJ) fez de suas aulas de Filosofia espaço de resistência e crítica político-social, marcando definitivamente o pensamento e a ação de seus alunos.

Mestre em comunicação social e doutora em antropologia política dedicou-se à pesquisas sobre relações de gênero e etnia. Também foi professora de Cultura Brasileira na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, onde chefiou o departamento de Sociologia e Política.

Contribuiu para a fundação de instituições como o Movimento Negro Unificado (MNU), o Instituto de Pesquisas das Culturas Negras (IPCN), o Coletivo de Mulheres Negras N'Zinga e o Olodum. Sua militância em defesa da mulher negra levou-a ao Conselho Nacional dos Direitos da Mulher (CNDM), no qual atuou de 1985 a 1989. Foi candidata a deputada federal pelo PT, elegendo-se primeira suplente. Nas eleições seguintes, em 1986, candidatou-se a deputada estadual pelo PDT, novamente elegendo-se suplente.

Faleceu em 1994, de infarto do miocárdio deixando seu legado na literatura brasileira com dois livros e uma série de artigos e ensaios, simultaneamente permeados pelos cenários da ditadura política e da emergência dos movimentos sociais.

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Alex Ratts e Flávia Rios reúne na biografia Lélia Gonzalez, a trajetória desta figura tão importante para a reformulação teórica e prática do movimento social negro e traz ainda um levantamento de sua obra.

Manoel da Mota Monteiro Lopes

O advogado pernambucano Monteiro Lopes foi o primeiro deputado federal negro, em 1909 – duas décadas depois da abolição do regime escravocrata.

Nascido em Recife no dia 25 de dezembro de 1867, foi eleito membro do Conselho Municipal do Rio de Janeiro em 1893 e destacou-se pela defesa de benefícios dos operários. No ano seguinte, foi impossibilitado de assumir, embora tenha conquistado seus direitos em expressiva votação, por boicote do sistema da época.

De 1905 a 1909, sob fortes críticas e acusações da imprensa, pleiteou uma cadeira na Câmara dos Deputados. Nas duas eleições saiu vitorioso, sendo que no segundo momento foi o terceiro candidato mais votado, mas correu boatos de que, assim como em 1905, não seria reconhecido e diplomado pela Comissão de Verificação de Poderes, simplesmente por ser negro.

Apoiado por operários, classe que o candidato defendia ferrenhamente, uma pressão popular da sociedade do Rio de Janeiro e de diversas cidades brasileiras fez a Comissão recuar do plano de boicote e em abril de 1909 foi finalmente reconhecido e diplomado deputado federal.

Em sua atuação na Câmara destacaram-se: as intervenções em favor do operariado; a sugestão da criação de um ministério do trabalho; a proposição da lei sobre os acidentes de trabalho e outros benefícios aos trabalhadores, como aposentadorias, pensões e aumento dos vencimentos. Além disso, chamou a atenção para a necessidade de legislar e fiscalizar as condições precárias em que trabalhavam os menores, sujeitos a mutilações e acidentes.

O primeiro deputado federal negro faleceu no dia 13 de dezembro de 1910, na cidade do Rio de Janeiro, sem completar o mandato, em consequência de uma grave uremia.

Foi casado com Ana Zulmira Monteiro Lopes, com quem teve um filho, Aristides Gomes Monteiro Lopes.

Literatura

Monteiro Lopes escreveu A dama de sangue (1890), publicado em fascículos na imprensa do Recife. A reportagem não encontrou maiores informações sobre exemplares.

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Bruno Silva
Foto: Acervo

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