Coral da AEAARP completa 30 anos
Coral Som Geométrico, da Associação de Engenharia, Arquitetura e Agronomia de Ribeirão Preto (AEAARP), celebra três décadas de comunhão pela música
Primeiro e mais antigo coral corporativo em atividade em Ribeirão Preto, o Som Geométrico, da Associação de Engenharia, Arquitetura e Agronomia de Ribeirão Preto (AEAARP), completa 30 anos em 2024 com uma coleção de histórias para contar. As que a reportagem ouviu de alguns de seus 35 integrantes não só corroboram tudo o que a ciência já teorizou sobre o “cantar” como justificam o interesse mais recente da ciência em explicar o aumento das experiências de canto em grupo e seu potencial transformador.
O que já se sabia é que cantar produz endorfina (hormônio que estimula a sensação de bem-estar, autoconfiança, otimismo e conforto), tem ação analgésica, melhora a capacidade pulmonar e ativa o sistema cardiovascular, mas um dos estudos mais recentes determinou que os batimentos cardíacos tendem a sincronizar durante sessões de canto em conjunto e que seus benefícios terapêuticos independem da qualidade técnica das vozes. Essa receita de bem-estar deve explicar por que a frase que a reportagem mais ouviu de integrantes do Som Geométrico é que o grupo “virou uma família”.
Neste caso, uma família das mais heterogêneas, já que inclui integrantes com idades entre 30 e 84 anos, tempo de participação mínima de seis meses e máxima de 30 anos, diferentes profissões e até preferências musicais. Sob o efeito “mágico” do canto em grupo, todas as diferenças se acomodam, garante a regente Regina Foresti, engenheira civil e de segurança também graduada em violão e com licenciatura em Música, apontada como a maior responsável pela longevidade e união do coral.
É Regina quem conta como tudo começou, nos idos de 1994, quando, por sugestão sua, o saudoso Paulo Pinho, então diretor da AEAARP, colocou no papel o projeto social do coral. O objetivo era proporcionar uma atividade que contribuísse para os profissionais associados desestressarem e relaxarem de suas rotinas rígidas. Inicialmente aberto apenas a associados, o grupo iniciou ensaios com 12 coralistas, sob regência de Cristina Angelotti Modé, com Regina como cantora e sua assistente. Seis meses depois, Cristina teve que se desligar por motivos familiares e Regina assumiu a regência sozinha.
Foi por essa época que ingressou no grupo a artista plástica e professora aposentada Delly Penha, mais antiga integrante do grupo ainda em atividade, com 84 anos. “Quando entrei para o coral, ainda estavam admitindo só associados e pessoas aparentadas com profissionais de engenharia, agronomia e arquitetura. Depois começaram a aceitar todo mundo”, lembra a decana, que nunca se afastou sequer por períodos curtos do coral.
Para ela, a arte – não só a música, mas também suas pinturas – contribui para seguir lúcida e bem em sua melhor idade. “Por isso meus três filhos e meu marido apoiam muito”, diz ela, que se diz musical desde os 4 anos, quando seu pai, um empreiteiro de mão de obra espanhol apaixonado por música, formou um coral com os sete filhos.
FAMÍLIA DE VERDADE
No caso da jornalista com timbre de voz soprano Márcia Marco Peres Ribeiro, do engenheiro civil Marcelo Jaques Ribeiro (tenor) e do fisioterapeuta Arthur Ribeiro (barítono), o termo “família” não é figurativo. Mãe, pai e filho ingressaram juntos no Som Geométrico, sem ter planejado. Quando Marcelo recebeu em seu e-mail da AEAARP informes sobre os ensaios, há mais de dez anos, pensou imediatamente no filho, que já estudava bateria e violão e manifestava interesse em atividades de canto. “Preciso aprender a colocar minha voz”, afirmou ele à época.
“Ligamos para pedir informações e fomos os três em um ensaio para conhecer. Lá a Regina perguntou: ‘por que vocês, pais, não entram também?’. E pensamos: ‘por que não?’. Continuamos até hoje”, conta Márcia.
A família é assídua tanto aos ensaios semanais, que ocorrem às terças-feiras, quanto às muitas apresentações, fiéis ao apelo por comprometimento que Regina sempre prega, mesmo sem receberem nada. “Estamos sempre junto com o grupo e gostamos de participar. Tivemos momentos de alegria e muita emoção nesses mais de dez anos e também já nos entristecemos com a perda de integrantes. São todos queridos! Todos que chegam são bem-vindos e acolhidos muito bem”, diz Márcia.
Um momento de grande emoção citado pelos três foi a apresentação com a Orquestra Sinfônica de Ribeirão Preto, no Theatro Pedro II, durante evento em comemoração aos 70 anos da AEAARP, em 2018. “Cantamos trilhas sonoras famosas de filmes. O Marcelo, o Arthur e o Yago [Marinzek] fizeram solos lindos na música ‘Halleluja’, da trilha sonora original de ‘Shrek’”, lembra a mãe e esposa-coruja.
Delly e Regina destacam outro momento em comum que as emocionou: a apresentação em uma conferência do CREA (Conselho Regional de Engenharia e Agronomia), em Águas de Lindóia, para um público exclusivamente masculino. “Na hora de cantarmos ‘Aquarela do Brasil’, você não imagina a maravilha que foi. A energia que percorreu o ambiente foi impressionante! Fomos aplaudidos de pé”, lembra Delly.
E todos concordam que ter mantido os ensaios do coral durante o distanciamento social forçado pela pandemia, entre 2020 e 2022, foi de extrema importância para a sanidade dos integrantes. “A Angela, de Eventos [da Associação], trabalhou muito com a gente, para todos aprenderem a mexer com a plataforma Zoom [de reuniões por vídeo]. A AEAARP comprou uma licença para fazermos os ensaios online. Passávamos as músicas durante os ensaios virtuais e gravávamos áudios para o pessoal treinar em casa. Mesmo sendo muito difícil para muitos, nem assim as pessoas desistiram! Até a Delly, mais avessa a tecnologia, se forçou a aprender e conseguiu”, orgulha-se Regina.
“Quando a gente voltou presencial foi uma alegria!”, recorda Delly.
Ao comentar os 30 anos de atividades, Regina Foresti faz questão de destacar o apoio incondicional que a Associação sempre deu ao coral e a dedicação de alguns profissionais que hoje são também amigos, como a tecladista Adriana Moraes, há 26 anos com o grupo. Isso tudo, aliado à alegria dos integrantes em cantar juntos, formam a receita de longevidade e sucesso do Som Geométrico, que segue com fôlego para mais 30 anos de ensaios e apresentações. “Como diz Milton Nascimento, ‘todo artista tem de ir aonde o povo está’, então cantamos onde nos convidam e onde podemos levar a nossa música, contribuindo para encher de cultura a vida de várias pessoas”, conclui Regina.
Foto: AEAARP