Em 2016, cidades ficam sem festa no Carnaval

Em 2016, cidades ficam sem festa no Carnaval

Municípios mudam de foco e deixam de investir nas festas

A ascensão de Getúlio Vargas a presidente da República nos anos 1930 trouxe muito mais do que consequências políticas, que viriam a determinar o fim da política “Café com Leite”, a posição do Brasil na Segunda Guerra Mundial, ou na Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). Foi no Estado Novo do então presidente que o Carnaval foi institucionalizado. Hoje, 85 anos depois, no entanto, cidades brasileiras passarão as festas sem comemorações.

O Carnaval foi oficializado no Rio de Janeiro em 1935, e foi tomado por alguns dos principais jornais da época, como O Globo e o Jornal do Brasil. A festa tornava-se o principal acontecimento do ano – tradição que perdura até os dias de hoje.

Porém, forças maiores estão fazendo com que essa tomada do Carnaval pelo poder público comece a ser repensada pelas prefeituras de algumas cidades. Em Ribeirão Preto, a Administração Municipal informou na última sexta-feira, 15, que a edição deste ano da festa está cancelada, inclusive com a verba destinada a ela, de cerca de R$ 300 mil, encaminhada ao combate ao mosquito da dengue – mesmo esta área necessitando de aportes muito maiores, em torno de R$ 20 milhões, de acordo com o próprio secretário municipal da Saúde, Stênio Miranda.

A prefeita Dárcy Vera (PSD) relacionou várias cidades que tomaram decisão similar para justificar a aplicação desses recursos da folia em outros serviços mais urgentes, além da queda de arrecadação do município em 20%, segundo ela. "Recebemos muitas mensagens sugerindo que cortássemos a verba", afirmou a prefeita. Este é o terceiro ano seguido em que os desfiles de escolas de samba em Ribeirão Preto são cancelados.

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O jornalista e produtor cultural João Pitombeira não acha ruim a retirada do apoio do poder público de eventos culturais. “Se a situação realmente exige que haja uma escolha entre Carnaval e saúde, me parece que a escolhida foi a decisão mais óbvia”, afirma, e completa que não interpreta como demagogia a decisão da Prefeitura.

Ele acredita que quanto menos envolvimento de dinheiro público na organização de eventos culturais, a arte sairá ganhando por não ser contaminada por interesses políticos. “Não vejo com bons olhos o emprego de verbas públicas em cultura como é feito hoje no País. A cultura é fruto da relação do homem consigo mesmo e com a sociedade, e surge e sobrevive em consonância com o espírito do tempo”, filosofa Pitombeira, que completa: “Se me disserem que o país não investirá mais em cultura e toda essa verba for para a saúde, estou de acordo”, finaliza.

Outro município que cancelou as festas deste ano foi Batatais, onde é realizado o Carnaval mais tradicional da região. A decisão foi tomada ainda em outubro de 2015, quando a União das Escolas de Samba Batataense (UESB) e membros das escolas de samba recusaram uma proposta feita pela Administração Municipal para que as próprias agremiações organizassem a festa com recursos tirados de patrocinadores, além da venda de camarotes, ingressos, espaços comerciais, bebidas e estacionamento.

Decisão em outras regiões

Definições pelo cancelamento de eventos carnavalescos, ou a diminuição deles, não estão ocorrendo apenas na região de Ribeirão Preto. No início de janeiro, Porto Ferreira ganhou os holofotes por destinar a verba destinada a festa para compra de ambulâncias, já em Irati-PR, a prefeitura do município informa que o dinheiro do Carnaval será transferido para obras de contenção de alagamentos – lá os valores previstos chegam a R$ 100 mil.

Festas carnavalescas tradicionais, como em Ouro Preto-MG e São João Del Rei-MG terão um orçamento menor para este ano. Em Ouro Preto o Carnaval ainda depende da realização de uma licitação para uma empresa organizar a festa e conseguir patrocínio. Mesmo assim, os recursos devem cair pela metade. No ano passado, passaram de R$ 1 milhão.

A falta de dinheiro da cidade histórica é consequência da quebra da barragem de Mariana, já que a Vale/Samarco, responsável pelo acidente, corresponde por 80% da verba do município, segundo a secretaria de Turismo da cidade.

Já em São João Del Rei, a verba diminuiu em R$ 900 mil, passando de R$ 1,1 milhão para R$ 200 mil. De acordo com a prefeitura da cidade, os recursos vão ser utilizados para resolver um problema bem conhecido dos ribeirãopretanos, os buracos.

Entretanto...

Mas não será em todos os lugares que a festa vai perder o apoio da prefeitura. Na vizinha Sertãozinho, a Prefeitura está com edital aberto para o cadastro e contratação de artistas para apresentações durante a festa. Os valores não foram divulgados.

O objetivo do município é “promover inclusão social”, “estimular dinâmicas culturais” e “valorizar a diversidade cultural”.


Foto: Arquivo Revide

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