Em Jaboticabal, Big Band sobrevive à era de ouro dos bailes

Em Jaboticabal, Big Band sobrevive à era de ouro dos bailes

Remanescente dos anos áureos das grandes bandas de salão, a Orquestra Sul América, fundada em 1940, em Jaboticabal, é uma das sobreviventes do gênero

No dia 20 de abril de 1940, Cadorno Augelli, sob a influencia das Big Band’s norte-americanas – e ajudado pelos músicos Domingos Ferrari e Oswaldo Bazoni –, fundou, em Jaboticabal, a Orquestra Sul América – uma banda de dança de salão, gênero muito apreciado naquele período.

Segundo Clóvis Capalbo, presidente da orquestra desde 1978, mesmo influenciados pelas bandas norte-americanas, na época, a Sul América inovou. Pois, segundo registros, as bandas contemporâneas da Sul América eram cópias das Big Band’s norte-americanas e por isso tinham poucos instrumentos. A inovação, portanto, ficou por conta da distribuição e número de instrumentistas da banda paulista. Na parte dos metais: quatro saxofones; três pistões e dois trombones. Piano e contra baixo completavam a formação da “Big Band Caipira” – nome que o historiador, pesquisador e jornalista, José Ildefonso Martins, deu a uma exposição itinerante realizada pelo Sesc em 2014.

Na exposição, o público teve acesso a um acervo fotográfico, sonoro e textos históricos de 12 bandas do interior paulista com atividade entre a década de 1920 e 1950. Contudo, a Sul América é uma das poucas remanescentes ainda em atividade.

“Já em 1945, a banda era considerada a melhor em atividade no Estado e com uma programação invejável, atuando nos grandes centros sociais e propagando a sua maneira de encantar os dançarinos, como também inaugurando muitos clubes sociais que surgiam pelo nosso interior”, conta Capalbo.

Ascenção

Entre 1945 e 1955 a banda excursionou por diversas localidades do país para realizar shows importantes que aumentaram ainda mais o prestígio com o público que se formava. Na capital paulista, a Sul América chegou a se apresentar na Boite Oásis, Paulistano, Pinheiros, Aeroporto, Lorde Hotel e Monte Líbano.

Em 1952, o Brasil recebeu a visita da Orquestra Típica, do violinista uruguaio Francisco Canaro e a Sul América foi escolhida para fazer a parte dançante nas cidades em que a Típica se apresentava. “A Sul América foi convidada pelo empresário da Típica para se apresentar no exterior, fato pioneiro para a nossa banda”, recorda Capalbo.

Na mesma época, a Sul América também abrilhantou os bailes do concurso de Miss Brasil em alguns Estados e se condicionava a ser transportada de avião pela Real Aerolineas, se constituindo como a primeira a cruzar os céus do país, espalhando a sua já consolidada fama.

Anos difíceis

Até o início dos anos 70, os clubes ainda mantinham um público adepto ao som das orquestras, mas passaram a organizar eventos com os ritmos modernos que surgiram na época.

Somando-se a isso, muitos clubes passaram a ser dirigidos pelos mais jovens. Fato que, segundo o presidente da Orquestra Sul América contribuiu para o desaparecimento de muitas bandas do gênero. “Eles não tinham conhecimento do que foram as orquestras e isso até presentemente tem sido um grave empecilho e acabou determinando o desaparecimento de várias orquestras”, lamenta.

Por outro lado, Clóvis Capalbo destaca que muitos clubes ainda cultuam esses eventos e preservam o público. Este renascimento, contribuiu para que a Orquestra Sul América continuasse a receber convites para espetáculos. Com o mercado voltado para este nicho ainda tem sido possível manter a agenda e a continuação do grupo.

“A orquestra tem sido mantida pelo idealismo de um grupo minoritário e o reconhecimento tem sido uma constante partindo de alguns clubes tradicionais. Embora a Sul América tenha sido fundada em Jaboticabal e aqui continua, só se lamenta que as autoridades responsáveis não dão o reconhecimento que ela merece e ostenta”, conclui.


Foto: Arquivo Pessoal

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