Gêmeos em ação

Gêmeos em ação

Apaixonados por cinema, André e Marcos Castro levam o nome da cidade por diversos cantos do universo cinematográfico

Entrevista publicada na edição 1101 da revista Revide.

Quem ouve a história dos gêmeos ribeirãopretanos André e Marcos Castro até pensa que é ficção. Apesar de parecer um conto de fadas cheio de magia, o enredo é real e cheio de aventura. Os Gêmeos do Cinema, como são conhecidos, trazem uma grande experiência no mundo da sétima arte e levam o nome de Ribeirão Preto para o resto do mundo, por meio de suas produções e trabalhos. Abaixo, confira a entrevista com a dupla: 

Como surgiu o amor de vocês pela sétima arte?

uando tínhamos apenas três anos, assistimos uma propaganda na televisão sobre a exibição do Oscar. Aquele comercial chamou nossa atenção. Ficamos hipnotizados e, mesmo com pouca idade, com a permissão de nossos pais, estávamos em frente à TV para acompanhar a cerimônia. Ficamos acordados até a 1h da manhã. Assistimos à celebração inteira. No dia seguinte, fizemos várias perguntas para a nossa mãe, tentando entender o que era aquilo que nós vimos. Não entendemos nada. Foi até uma coisa meio mágica, como conto de fadas, mas foi assim que começou o nosso amor pela sétima arte.

Desde então, assistir televisão, um desenho, uma novela ou um filme se tornou um hobby, uma diversão, o nosso mundo. Depois disso, obviamente, chegou o momento de levar os gêmeos ao cinema. Então, aos seis anos, fomos pela primeira vez e assistimos uma versão dublada do filme “Os Goonies”. Quando nós entramos na sala, olhamos aquela tela gigantesca, em um filme totalmente de aventura, produzido por Steven Spielberg e dirigido por Richard Donner, foi um clique, que já tinha acontecido, mas foi aí que o anel saiu da mão direita e migrou para a esquerda: foi um casamento inacreditável. 

Como isso impactou a vida de vocês naquela época?

 fato de termos assistido à versão dublada fez com que a gente procurasse aprender o quanto antes, aos seis anos, a ler e escrever, pois não queríamos ver filmes dublados, mas sim os legendados em português com idioma original. Com nove anos, assistimos ao primeiro filme legendado: “Uma secretária de futuro”, que era estrelado por Harrison Ford, Melanie Griffith e Sigourney Weaver, e nós conseguimos ler todas as legendas, mas era uma comédia dramática, que falava de assuntos de empresas.

Não entendíamos o que eles estavam falando. Isso foi a motivação para começarmos a ler jornais e revistas, não só as histórias em quadrinhos. O cinema foi uma motivação, fez com que a gente tivesse muitas aventuras. Até que chegou o dia de assistirmos ao primeiro original “Sexta-feira 13”, de 1980, e foi com ele que decidimos que queríamos fazer isso de nossas vidas. Até então, o cinema era um amor, o casamento, e não um sonho de carreira. 

Então vocês sempre souberam que trabalhariam na indústria cinematográfica?

Nós sempre sonhamos com isso, mas chegar ao objetivo, realmente, foi uma outra história. Botamos isso na cabeça quando tínhamos dez anos. Agora, conforme a vida adulta foi chegando, vimos que o caminho era complicado, difícil, não impossível, pois nunca é uma palavra muito feia. Não estávamos sozinhos, porque o Marcos tinha o André e o André tinha o Marcos, além de ter o apoio da família também, nossa mãe Maria Helena, nosso pai Pedro e nossos três irmãos, Rita, João e Patrícia.

Essas pessoas foram motivadoras e importantes nessa jornada. Somos apaixonados pelos nossos irmãos. Todos eles se empenharam para que a gente estudasse, pesquisasse, fosse atrás, conhecesse, viajasse. Realmente, nossa família é o pivô, o balaústre para chegarmos aonde estamos hoje. Então, assim, nós sempre sabíamos, mas, talvez, como também sabíamos que tínhamos que ter outros empregos para chegar até lá, pois precisávamos de uma faculdade, diploma, emprego, conhecer por onde que começa e para onde vai, mas o sonho nunca saiu de nossas cabeças. Dos dez anos para cá, ele sempre esteve presente. 

Como surgiu a produtora Os Gêmeos do Cinema?

Quem nos deu esse apelido foi o crítico de cinema Rubens Ewald Filho. Ele nos apadrinhou depois que fizemos um documentário, em 2009, defendendo o Brian De Palma, que foi acusado de plagiador com o seu filme “Vestida para Matar”. À época, muitas críticas disseram que era uma cópia de “Psicose”, de Alfred Hitchcock. Fizemos uma defesa do Brian De Palma, e o Rubens, que era seu fã e gostava do filme, adorou participar desse documentário.

Desde então, começou um contato com ele, conversas e projetos. Nossas idas e vindas a São Paulo começaram a ficar mais frequentes. Ele falava abertamente que era nosso padrinho, que estava nos ajudando e, num dia, ele falou que era “Os Gêmeos do Cinema”. Com esse nome em mente, saímos do trabalho, abrimos a produtora e começamos a nos especializar, tanto em produção cultural como audiovisual.

Qual foi o primeiro longa que vocês produziram?

Nosso primeiro longa-metragem se chama “Os Enclausurados”. Ele ficará disponível na plataforma virtual Cultura em Casa. Só estamos aguardando a data de quando ele vai entrar, para começarmos a divulgação. A plataforma é gratuita.

O longa, que fala sobre uma pandemia, foi rodado antes dessa que estamos vivendo. Ficou até meio que irônico, pois falamos sobre uma coisa em 2017 e 2018, que em 2020 e 2021 nós vivemos. É um thriller de suspense que conta a história de alguns brasileiros que se encontram presos em lugares de difícil fuga, vivendo em uma situação extrema em termos de perigo e tensão. Eles não podem sair, pois está acontecendo uma pandemia de zumbis. Só que o interessante do filme é que a gente nunca vê os zumbis e a guerra que está lá fora. Escutamos explosões, polícia, sirene, tiros, os próprios zumbis, só que o foco é nas pessoas, no drama delas e na situação de extremo que elas se encontram e o que essas sensações fazem acontecer. 

Quantos filmes foram produzidos por vocês?

Nós já produzimos 12 curtas-metragens. Desses, três nós somos os produtores executivos e nove são produções da “Os Gêmeos no Cinema”. Longas-metragens, nós temos três: um produzido por nós, que é o documentário, e dois da produtora e, claro, por ser nosso, a gente acaba abraçando várias tarefas, e uma minissérie documental de seis episódios.  

Há novidades para os próximos meses? Acabamos de concluir o nosso nono curta-metragem. Foi uma experiência incrível, porque foi uma produção virtual e nós nunca tínhamos nos envolvido em um projeto desse tipo. Trata-se de uma comédia chamada “Fale baixo porque os letreiros têm ouvidos”. Nela, fizemos uma homenagem ao cinema mudo. Então, pegamos a tecnologia mais recente e juntamos a mais antiga e transformamos nessa comédia superdivertida. Além disso, estamos com mais três projetos em pré-produção: um longa-metragem, que será uma dramédia, vamos sair completamente dos thrillers e do suspense, também temos mais uma websérie, a segunda temporada foi sobre o 007, a Bond Music, mas agora com o foco no Chespirito e nas músicas que embalaram Chaves e Chapolin, e nós temos também, já saindo do forno, um roteiro de um curta-metragem de Syfy. 


Fotos: Mariana Rocha

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