"Não estamos aqui para ser unânimes", afirma Andreas Kisser, guitarrista do Sepultura
Guitarrista Andreas Kisser conversou com a Revide sobre a fama, influências, novos projetos e o show em Ribeirão Preto

"Não estamos aqui para ser unânimes", afirma Andreas Kisser, guitarrista do Sepultura

Sepultura se apresenta no Sesc de Ribeirão Preto nessa quarta-feira, 10

O Sepultura se apresenta no Sesc de Ribeirão Preto nessa quarta-feira, 10. Com 35 anos de carreira, a banda está no ranking de artistas brasileiros mais ouvidos no exterior. Com 16 álbuns de estúdio lançados, o grupo não renega as raízes brasileiras e faz questão de trazer a musicalidade nacional para as composições.

Para falar um pouco sobre a fama internacional, influências, novos projetos e o show em Ribeirão Preto, a reportagem do Portal Revide conversou com o guitarrista Andreas Kisser.

Confira a entrevista: 

Revide: Vocês sentem a diferença em tocar em grandes festivais como o Rock In Rio e tocar para públicos menores, como é o caso do show em Ribeirão Preto?

Andreas: Na nossa carreira nós já tocamos em todos os tipos de lugares. Viajamos para países que nunca receberam um show nosso. Recentemente voltamos de uma turnê no Cazaquistão e na Mongólia. Também já tocamos em espaços pequenos nos Estados Unidos e aqui no Brasil também.

O importante é estar no palco. Temos que ir onde o público está. E quando você toca em lugares pequenos, o público está mais perto, diferente de grandes festivais, por exemplo, o que cria um clima mais intimista. Por isso sempre tentamos unir o melhor dos dois mundos.

Revide: Você costuma falar que o Heavy Metal é o gênero mais popular do mundo, esses exemplos do Cazaquistão e da Mongólia comprovam isso?

Andreas: Sem dúvida. Já fomos para 80 países, independentemente do local, religião, se é uma ditadura ou democracia. Já fomos para países de maioria muçulmana, para a Índia, entre outros. A música abre portas e essa troca de culturas que temos nesses países nos ajuda muito nas nossas composições.

Revide: E como será o set list para o show em Ribeirão Preto?

Andreas: Vamos fazer uma mistura de tudo. Traremos uma set list cronológica, desde o nosso primeiro álbum, o Bestial Devastation (1985), até o Machine Messiah (2017).

Revide: O Eloy Casagrande (bateirista) nasceu dois meses antes de vocês lançarem um dos álbuns mais famosos, o Arise (1991), além disso o Sepultura ainda mantém um público muito jovem, como você avalia essa tendência?

Andreas: O público jovem é uma tradição do Rock. O Rock não depende do hit na TV, na novela ou de tocar na rádio todo dia. E o público do Metal é ainda mais fiel. A coleção de discos passa do pai para o filho.

Esse tipo de fã não também aceita comprar produto pirata. E é isso que mantém a cena viva. O fã sabe que se comprar pirata o dinheiro vai para um intermediário que só quer se aproveitar da situação.

Além disso, o circuito de shows do Sesc é muito bom para esse público. Com ingressos baratos e shows começando cedo, eles têm um padrão quase europeu. Com isso, é muito comum vermos o vovô e o netinho na plateia vendo o nosso show.

Revide: E mesmo com essa nova geração no Metal, você ainda acredita que existe um estereótipo de que o gênero é violento?

Andreas:  Existe, mas o Heavy Metal é o estilo mais pacífico de todos. Você não vê ninguém na plateia brigando porque alguém deu em cima da mulher do outro, ou o cara querendo mostrar o último golpe de jiu-jitsu que aprendeu. Você vê muitas famílias e pessoas querendo aproveitar o show.

Revide: Logo depois do episódio da saída do Max Cavalera, vocês chegaram a cogitar a mudança do nome da banda. Como foi essa fase?

Andreas: Em 1997 nós continuamos como um trio porque ainda não nos sentíamos prontos para trazer ninguém novo. Porque não tínhamos perdido só o vocalista, perdemos a empresária, vários roadies e a confiança da gravadora.

E nesse período nós cogitamos de tudo. Pensamos em mudar de nome, de parar de tocar, várias coisas. O que é natural. O bom é que não tomamos nenhuma decisão de cabeça quente.

Andreas Kisser afirmou que o novo álbum da banda começa a ser produzido ainda este ano

Revide: Atualmente vocês são considerados influências para muitas bandas grandes no cenário mundial, como Slipknot e Korn. Como é para você ser lembrado por esses músicos?

Andreas: É sensacional ser uma influência para essas bandas. Assim como nós influenciamos eles, muitas bandas dessa geração também nos influenciaram, como o Deftones e o próprio Slipnknot. É uma troca.

O guitarrista do Judas Priest, o Kenneth Downing, disse que o Chaos A.D (1993) foi uma influência para ele. Isso logo depois de lançarem um dos discos mais pesados da banda até então, o Painkiller.

Revide: O Sepultura sempre trouxe muitas influências regionais brasileiras para as composições. Ainda pretendem explorar outros estilos nacionais?

Andreas: Sempre estamos abertos. Mantemos nossos ouvidos e olhos abertos. O Brasil é gigantesco e tem muita diversidade. E desde o álbum Roots (1996) essa marca ficou muito presente nas nossas músicas. Já tocamos com o Carlinhos Brown, trouxemos elementos do samba, maracatu, música sertaneja e indígena. Também fomos muito influenciados pelo mangue beat do Chico Science.

Revide: E sobre estar com os olhos e ouvidos sempre abertos ajudou muito vocês nas composições para o Machine Messiah, não é?

Andreas: Sim. Fomos observando o dia a dia e a influência que o computador, o telefone e os robôs tem sobre a nossa vida. Hoje temos aplicativos para nos locomover, para comer, para namorar e para aprender línguas.

As pessoas ficam cada vez mais acomodadas com isso. Do ponto de vista de uma banda, isso é um perigo. O album The Mediator Between The Head And Hands Must Be The Heart (2013)  fala exatamente isso. O mediador entre a cabeça e as mãos tem que ser o coração. Se você coloca uma informação na cabeça e age sem questionar, você vira um robô.

Revide: Você já declarou em entrevistas que o sonho da banda no início era tocar fora do país. Hoje, depois de visitarem 80 países, vocês ainda mantêm algum sonho?

Andreas: Hoje estamos vivendo muito no presente. Não somos mais escravos do passado e nem vivemos na ansiedade do futuro. Já temos agenda para 2020 e novos planos. Esse é o nosso presente agora e vamos encarando os desafios enquanto eles aparecem.

Revide:  E quais são os próximos planos da banda?

Andreas: Em agosto começaremos a gravação do nosso álbum, que será lançado em 2020. Ele será produzido na Suécia, com o mesmo produtor do Machine Messiah.

Revide: E todas essas misturas que vocês trouxeram causou estranheza em alguns fãs no início que apresentaram certa resistência. O que você pensa a respeito disso?

Andreas: Que bom que teve resistência (risos). O território desconhecido sempre vai causar estranheza. Stravinsky já foi vaiado, Mozart já sofreu com a crítica. A arte é isso mesmo, ou você faz algo novo, ou vai estar sempre copiando alguém ou a si mesmo.

A arte é um meio fantástico de se apresentar coisa novas. O que seria da arte se Picasso e Salvador Dali não apresentassem novas perspectivas sobre o corpo e as formas, por exemplo? Não estamos aqui para ser unânimes, pontos de vista diferentes faz as pessoas pensarem. Temos 35 anos de carreira, ficar fazendo sempre a mesma coisa não dá!


Foto: Divulgação

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