"Nem a Seleção nos engana mais”, diz Loyola Brandão
"Nem a Seleção nos engana mais”, diz Loyola Brandão

"Nem a Seleção nos engana mais”, diz Loyola Brandão

O escritor participou da Sessão Jabuti, nesta segunda-feira, 13, na Feira Nacional do Livro de Ribeirão Preto

Esbanjando bom humor e questionando as crises que a humanidade vive, o escritor Ignácio de Loyola Brandão, vencedor de cinco prêmios Jabutis, participou da Sessão Jabuti, desta segunda-feira, 13, na 16ª edição da Feira Nacional do Livro de Ribeirão Preto.

Loyola também contou para os presentes no auditório Meira Júnior as situações que podem inspirar as pessoas, e quão importante é a missão do escritor, que é “penetrar no desconhecido” de cada pessoa, chegando em lugares tão improváveis, mas que mesmo assim faça sentido para as pessoas.

“Todos nós somos carentes. Queremos que alguém passe a mão na nossa cabeça. E sempre me perguntava quando isso ia me acontecer, e por isso escrevo, para que as pessoas me vejam”, disse o escritor, que garante que anota em caderninhos tudo que vê no dia a dia, dando combustível para seus contos e crônicas.

“Inspiração é um olhar, não é um dom. É uma coisa que nós trabalhamos, e todos temos que desenvolver. Só que alguns melhores, outros piores”, apontou Loyola, que garante que em casa tem “5.792” caderninhos com anotações de coisas que viu ao longo dos 79 anos de vida, que ele insinua serem “98”, que são escondidos pelo “Botox”.

Para ele, os escritores, e outros artistas, são um filtro das loucuras que cada pessoa guarda dentro de si. “Quando você quer, você preenche tudo do que precisa”, afirma o escritor que brincou com o fato de estar sozinho no palco falando à plateia.

A água e a crise e Alexandre Frota

“Hoje as coisas estão mais simples. Ontem eu vim no Cortella, e tinha até gente que abria a água para ele. Um dia chego lá”, disse Loyola enquanto abria uma garrafa de água mineral. Mesmo assim, ele mostrou felicidade em participar de uma edição da Feira, porque ele conta que em diversos municípios do País as feiras literárias foram canceladas neste ano.

“Fico feliz em ver que já está na 16ª edição. Vocês têm que manter isso daqui. Porque as feiras estão sendo canceladas, e não tem outra coisa a se esperar quando o Ministro da Educação se encontra com o ‘pensador’ Alexandre Frota”, ironizou o escritor sobre o encontro do ministro Mendonça Filho com o ator Alexandre Frota no fim de maio. “Disseram que ele até deu sugestões”, completou.

Ele também se mostrou decepcionado com o papel da imprensa no Brasil com os acontecimentos políticos que permearam 2016. “Está uma balburdia. Cada veículo com seus interesses. O bom jornalismo acabou. Não tem mais apuração, investigação. O que chega ao público é o que vaza. A imprensa de hoje não informa ninguém”, apontou o escritor, que também é jornalista.

Mas para ele, a população está começando a reagir aos problemas do cotidiano, mesmo que sem uma direção definida, tanto que está escrevendo um romance, o primeiro em 10 anos, que ele não quis falar, para “ter o que escrever”, sobre as decepções diárias de ser brasileiro.

“Graças a Deus que não tem mais a seleção brasileira ganhando, aí não tem mais ninguém para nos enganar mais”, concluiu Loyola.


Foto: Luiz Cervi/ Feira do Livro

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