Orùnmilá é tradição no Carnaval de Ribeirão Preto

Orùnmilá é tradição no Carnaval de Ribeirão Preto

Cerca de 200 pessoas participaram, representando a cultura africana com músicas, danças e encenações artísticas

Sem apoio da Prefeitura de Ribeirão Preto, o grupo Afoxé Omó Orùnmilá desfilou neste sábado, 6, às 20h, na Avenida Maestro Hervé Cordovil, no Marincek. O evento foi marcado pela comemoração dos 21 anos dos filhos do Orúnmilá, que percorreram quatros quarteirões da avenida. Cerca de 200 pessoas estavam a caráter, participando da festa, e representando a cultura africana com músicas, danças e encenações artísticas.

Segundo uma das fundadoras do Centro Cultural Orùnmilá, Neide Ribeiro, há 21 anos o grupo abre o Carnaval de Ribeirão Preto, homenageando um orixá diferente. Mas, este ano não recebeu apoio municipal. “Este ano foi bastante complicado, pois não tivemos o apoio da Prefeitura e nem da Transerp (empresa que gerencia o trânsito e o transporte na cidade). Independente do carnaval acontecer, nós viemos para rua e vamos desfilar”, diz.

Neide frisa que a cultura africana é interessante e rica, porém mal reconhecida.

Manifestação

Resistindo ao poder público, os participantes do Afoxé desfilaram também com cartazes de indignação a Prefeita Municipal, Dárcy Vera e ao Secretário de Cultura, Alessandro Maraca. 
 

Diversidade

Participando desde 1998 do Afoxé, o professor Silas Nogueira conta que é lamentável a falta de apoio da Prefeitura Municipal. “Afoxé saiu mais uma vez no Carnaval para mostrar que mesmo sem o dinheiro público é possível cantar e louvar os Orixás na rua”, afirma.

Nogueira afirma que carnaval é uma manifestação do povo brasileiro e o Afoxé é um aspecto desta tradição.

“É um candomblé de rua, ou seja, a luta pelos direitos humanos, contra o racismo e pela diversidade dessas pessoas na sociedade”, conclui.

Atração

O evento que já é tradição em Ribeirão Preto, ganhou a atenção dos moradores do bairro Marincek e proximidades.

Cerca de 250 pessoas prestigiaram o evento. Assim, como a aposentada Celina Silva, que saiu do bairro vizinho, Ipiranga, para ver de perto a manifestação africana.

“Participo do Centro Orùnmilá e desde o começo venho prestigiar o carnaval deles. Gosto muito de poder assisti-los”, conta.


Afoxé


De acordo com Neide, Afo é encantamento através da palavra e axé significa realização. “É realmente uma manifestação africana”, explica.

O Afoxé é uma manifestação ancestral de origem africana, cujas raízes estão na cultura do povo Yorubá, um dos povos negros que foram trazidos para vários países da América durante o período da colonização. Segundo Paulo Pereira de Oliveira, sacerdote Yorubá e fundador do Centro Cultural Orùnmilá, os afoxés foram as primeiras manifestações de rua do povo negro no Brasil e, desta forma, deram origem aos desfiles carnavalescos posteriormente realizados pelas antigos “ranchos” e cordões e, atualmente, pelas Escolas de Samba.

Oliveira conta que Afoxé não é um ‘bloco de Carnaval’, mas sim um Afoxé, termo de origem Yorubá que significa, em livre tradução, ‘o verbo que faz’, a ‘palavra mágica que anda’, ou seja, é a comunicação, a denúncia, a ação em busca da alegria e da justiça.
 

Fotos: Gabriela Maulim

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