Rita von Hunty lota Pedro II para falar sobre ideologia
Foto: Sté Frateschi / Fundação do Livro e Leitura

Rita von Hunty lota Pedro II para falar sobre ideologia

A drag queen deu uma aula de 1h30 para quem estava dentro ou fora do Theatro

A fila de espera para retirar os ingressos da palestra da drag queen Rita von Hunty, começou às 15h30 e foi iniciada pela educadora Aline Mori, que conheceu a personagem pelas redes sociais, do YouTube e de amigos que compartilham por afinidade, sendo um assunto que a interessa bastante. "Eu acompanho o trabalho da Rita há mais ou menos um ano, com muito carinho. E eu espero que o bate-papo seja tudo o que sempre é, muito inovador e sempre olhando para os jovens que estão presentes, que isso traga uma amplitude de vida e de visão", disse Aline.

 

 

O canal "Tempero Drag", conta com mais de 1,15 milhão de inscritos e 285 vídeos. É através dele que Guilherme Terreri ensina sobre assuntos que precisam ser debatidos entre jovens e adultos. Ator, professor, YouTuber, comediante, palestrante e drag queen. É assim que Terreri é descrito nos sites de procura, mas todo mundo o conhece mesmo por Rita von Hunty, ou, simplesmente, Ritinha. Com um humor ácido, Rita falou por 1h30 sobre a importância de se entender o termo ideologia e como ele é usado pela direita e pela esquerda desde a época da Revolução Francesa, ou antes, até.

 

 

Rita é referência, também, para Henrique Seveglieri, que acompanha o trabalho da drag queen há quatro anos que, segundo ele, são verdadeiras aulas públicas que todos deveriam assistir. "É uma palestra que estou aguardando com bastante ansiedade pois é um assunto que está em alta", disse ele que frequenta a Feira desde pequeno e sempre aproveitou para fazer boas compras. 



 

Pensando em Feira do Livro e em produção de conhecimento, Rita acredita que se consiga  conciliar a revolução necessária no mundo atual sem que se perca o brilho e a importância da literatura, sem que se perca sua função primordial. "Eu acredito que qualquer revolução que aconteça ela vai produzir outras experiências estéticas. E a literatura também vai ser um desses campos afetados. Acredito, também, que ela nunca vai deixar de ser. Se a tapeçaria é uma arte que ainda não nos abandonou, se a pintura, o teatro, são artes que continuam remando contra uma apropriação neoliberal dos seus espaços, se essas áreas resistem, a literatura também vai resistir. Ela sempre vai encontrar um modo, um meio, mas também uma função de continuar, que é atender nosso interesse infinito de contar para alguém aquilo que a gente está pensando.", disse ela. 



 

Sobre revoluções, Rita diz ter mais esperança que apontamentos, mas que acredita vir do sul do globo. "Mais que do sul global, acredito que venha dos povos originários. Acredito que eles carregam consigo a experiência do fim do mundo desde 1500. Esse povo está experienciando o fim do mundo há cinco séculos, então eu acho que eles já aprenderam a sobreviver e eu acho que a gente, muito provavelmente não tenha meios e modos para sobreviver a uma crise climática de devastações fora de proporção. Esse povo vai carregar consigo semente de vida e de futuro para uma outra jornada".



 

Ritinha, como é chamada pelos admiradores, é de Ribeirão Preto, formada pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, pelo campus de  Ribeirão Preto (FFLCH) e sempre que pode, volta à cidade. Voltar a Ribeirão Preto depois de se tornar um fenômeno é poder reencontrar amigos, mas também novos admiradores. "Eu saí daqui em 2007 e já voltei pra cá várias vezes, mas eu lembro da primeira, que foi lotar um SESC, agora teve essa outra primeira vez que foi subir ao palco do Theatro Pedro II. E é um negócio! Teve algum momento do meu início da minha caminhada até o palco que eu achei que ia pegar o melhor de mim, que eu ia ficar embargada. No entanto, o que me embargou foi falar do processo colonial no Congo. Então, é uma delícia, foi uma delícia! Ver o teatro lotado, esse teatro, lotado para fazer essa discussão, pra mim é… Eu queria te dar uma palavra e a que me veio é: pra mim é o certo! E é essa a sensação, de que esse é o certo, era assim que tinha que ser.", finalizou Ritinha. 

 

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