USP Filarmônica apresenta compositores negros e repertório contemporâneo inédito

USP Filarmônica apresenta compositores negros e repertório contemporâneo inédito

Após o concerto, na próxima terça-feira, 28, às 20h, no Theatro Pedro II, o maestro Rubens Russomanno Ricciardi lança o seu novo livro, em noite de autógrafos, no Auditório Meira Júnior

Para o mês de novembro, o 185° concerto da USP Filarmônica traz ao palco do Theatro Pedro II um repertório especial com compositores negros e obras contemporâneas inéditas, compostas por compositores da USP de Ribeirão Preto. A apresentação será na próxima terça-feira, dia 28 de novembro, às 20h. Como sempre pela série Concertos USP, a entrada é gratuita.

 

A orquestra será regida pelo maestro Rubens Russomanno Ricciardi, tendo como solistas Chiara Santoro (soprano) e Denise de Freitas (mezzo-soprano). No repertório dos compositores negros brasileiros temos a abertura Sinfonia Fúnebre (1790) de José Maurício Nunes Garcia, o lundum Os beijos de frade (1856) de Henrique Alves de Mesquita e a canção romântica A noite do meu bem (1950) de Dolores Duran. Já do repertório contemporâneo, de compositores da USP de Ribeirão Preto, constam Lamento (1956) de Gilberto MendesTrauert, oh Venus und Cupido (2019) e Agora que sinto amor (versão 2023) de Rubens Russomanno Ricciardi, Já da morte o palor me cobre o rosto (2019) de Lucas Pigari, Cantiga a Portinari (2022) de Lucas Eduardo da Silva Galon, Chave de Ferrugem (versão 2023) de José Gustavo Julião de Camargo e Pus o meu sonho num navio de Silvia Maria Pires Cabrera Berg (versão 2023).

 

Esse concerto faz parte da série mensal de Concertos USP, uma realização do Departamento de Música da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto da USP (DM-FFCLRP-USP), com apoio da Reitoria da USP, e em conjunto com a Fundação Dom Pedro II da Prefeitura Municipal de Ribeirão Preto.

 

Como sempre nos concertos da USP Filarmônica, a orquestra de estudantes de graduação da USP recebe o público com entrada gratuita, sem necessidade de retirar ingressos. O Theatro Pedro II se situa no Quarteirão Paulista de Ribeirão Preto, na Rua Álvares Cabral, 370.

 

A USP Filarmônica se apresenta também com o mesmo programa na quarta-feira, dia 29 de novembro, às 20h, na Catedral de São Carlos, situada na Praça Dom Marcondes Homem de Mello, s/n – no Centro de São Carlos.

 

Lançamento do livro Contra o Identitarismo Neoliberal - um ensaio de Poíesis Crítica pela apologia das artes

           

Logo após o concerto no Theatro Pedro II em Ribeirão Preto, às 21h, no Auditório Meira Júnior, o maestro Rubens Russomano Ricciardi vai lançar o seu livro Contra o identitarismo neoliberal – um ensaio de poíesis crítica pela apologia das artes, pela Editora Contracorrente.

 

O livro é um ensaio de poíesis crítica pela apologia das artes. Trata-se, na filosofia das artes, de uma nova epistemologia voltada às questões da linguagem e da ideologia – ao mesmo tempo hermenêutica e dialética, existencial e crítica. Se, em Marx e Engels, há uma práxis crítica e, na Escola de Frankfurt, uma theoría crítica, com a poíesis crítica pretende-se preencher a lacuna do esquecimento da poíesis e solucionar a confusão entre práxis e poíesis. Definindo a elaboração da obra de linguagem enquanto processo crítico-inventivo, a poíesis não é teórica nem prática. Para a poíesis crítica importa o lógos poético, prosseguindo não apenas os trabalhos iniciados por Heidegger, mas também desde Heráclito e Aristóteles. Com a poíesis crítica se evidencia o abismo que há hoje entre as artes e a indústria da cultura. Os estudos abrangem também as diferenças entre linguagem e comunicação; entre obra de arte e kitsch.

 

Entre outras questões contemporâneas, propõe-se uma discussão acerca do eurocentrismo e da decolonialidade – ambas ideologias neoliberais da cultura que têm gerado uma aversão às artes e em especial à música. O que deveria ser compreendido por conta dos desdobramentos históricos de milênios – desde os tempos dos odeões e teatros greco-romanos – foi agora estigmatizado com o rótulo antipático da tal música clássica erudita europeia, deturpando a essência da arte do som no tempo. Entretanto, o clássico não se opõe ao popular, mas sim à condição experimental ou ainda não consagrada das artes – e estas não são prerrogativas europeias – bem como a mera erudição não é suficiente para a constituição da poíesis.

 

Tanto o culturalismo quanto a sua configuração mais sectária, o identitarismo, ambos hostis às artes, são definidos aqui por conta das suas implicações neoliberais. Com a censura identitária redutiva ao domínio cultural europeu, ignora-se a influência maior dos EUA – não obstante a invasão, em toda parte, da sua indústria da cultura. Se por um lado, os identitários neoliberais são agressivamente antagônicos às artes milenares, por outro, na sua idolatria pseudointelectual, só recortam da realidade os clichês da indústria da cultura ianque-estadunidense. Até mesmo as nossas periferias, invadidas culturalmente e assim reduzidas a pseudoperiferias, espelham as vozes dos grandes centros do capital.

 

O autor questiona ainda os preconceitos suscitados pela moral identitária, quando se esquece não só a poíesis, mas também a acumulação do capital e a luta de classes. Importa reconhecer o neoliberalismo e o seu fetiche, a indústria da cultura, enquanto estruturas ideológicas que determinam a consciência da sociedade. Indústria da cultura e identitarismo são o ópio do povo estendido, pois estabelecem a alienação e a coisificação onde a religião não conseguiu se entranhar. A religião (o braço direito), a indústria da cultura (o seu fetiche) e o identitarismo (o braço esquerdo) formam a Santíssima Trindade do neoliberalismo, sob as bênçãos do capital financeiro.

 

Por fim, estética, cultura, comunicação e identidade são conceitos compreendidos pela poíesis crítica enquanto neologismos tardios e extrínsecos à natureza da arte. Desse modo, no contexto das artes, amplia-se o rol dos monstros engendrados pelo sonho da razão iluminista.

 

 

 


Foto: André Estevão

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