Justiça nega pedido de dentista para ser reconhecido como filho adotivo de Chico Xavier
Advogado de Ribeirão Preto trabalhou no caso em favor da família do médium

Justiça nega pedido de dentista para ser reconhecido como filho adotivo de Chico Xavier

Escritório de advocacia de Ribeirão Preto apresentou provas de que Chico não tinha interesse em assumir a paternidade

Um advogado de Ribeirão Preto trabalhou no caso do dentista Eurípedes Humberto Higino dos Reis, que exigiu o reconhecimento legal como filho do médium Francisco Cândido Xavier, o Chico Xavier.

O advogado Eduardo Silveira Martins, do escritório de advocacia PH Marques de Oliveira, defendeu a família do médium, na figura de um sobrinho-neto de Chico Xavier. A Justiça de Minas Gerais, responsável pelo caso, deu causa ganha ao escritório ribeirãopretano.

O dentista solicitou a inclusão no registro de nascimento do nome de Chico Xavier como pai. Acrescentou que não possuía interesse patrimonial, já que os bens do médium foram doados ou transferidos a outros por meio de testamento.

Eurípedes solicitou os bens imateriais: como nome, imagens e pertences pessoais. Segundo ele, algumas pessoas utilizam o nome indevido do médium para a obtenção de lucro.

Eurípedes e Chico

Eurípedes, de 69 anos, é natural de Ituiutaba, em Minas Gerais, e conviveu com o pai biológico até os cinco anos, quando ele faleceu. Desde os sete anos passou a ter um convívio próximo a Chico e aos 15, se mudou para a casa do médium, na cidade mineira de Pedro Leopoldo. Após ficar adulto e se casar, o dentista foi morar com a esposa.

Apesar da proximidade e da grande estima que Chico tinha por Eurípedes, em momento algum, segundo provas levantadas pela defesa, ele externou o desejo de ser pai do rapaz.

Paulo Henrique Marques de Oliveira, advogado responsável pelo escritório da defesa, explica que o pedido de paternidade socioafetiva, após a morte, só é possível se a pessoa procurada como pai externou este desejo em vida.

A defesa utilizou depoimentos de parentes do médium que constataram que, apesar de gostar muito de Eurípedes, Chico nunca mencionou que era o pai. Mary Rose Carvalho, sobrinha de Chico, explicou no processo que o médium era uma pessoa muito organizada e que se quisesse adotar Eurípedes como filho, teria feito.

Já Caio Lúcio Ferreira Gonçalves, sobrinho-neto, relembra que Chico nunca pretendeu substituir os pais biológicos do dentista, apenas serviu como um grande amigo. Gonçalves também apresentou à Justiça um processo de ano de 2001 de Eurípedes por estelionato, após “causar transtorno com colaboradores” no período em que morava com o médium.

Silêncio eloquente

Na decisão, a juíza Andreísa Alvarenga Martinoli Alves citou uma carta enviada por Xavier ao jornalista Ney Bianchi, na qual o médium afirmou que Eurípedes não é filho adotivo dele, mas um amigo. Confira um trecho da carta:

“Exmo. Sr. Dr. Ney Bianchi

[...]

Sou constrangido pelas circunstâncias a prestar-lhe as seguintes informações:

1º - o Dr. Eurípedes Humberto Higino dos Reis é odontólogo, diplomado pela Faculdade Superior de Odontologia (...), distinguindo-se pelo trabalho que realizada.

2º - não é meu filho adotivo, e sim, um amigo que me presta assistência em regime de absoluta gratuidade e humanitarismo.

Segundo Andreísa, é preciso ter cautela ao avaliar o assunto. Há a necessidade de se diferenciar as situações corriqueiras, em que pessoas altruístas destinam ajuda, amizade e zelo, sem que com isso, estejam dispostas a assumir a condição de pai.

“O silêncio de uma intenção não externada específica e expressamente é de uma eloquência enorme, e deve ser devidamente sopesado em hipóteses tais.”, concluiu a juíza.


Foto: Arquivo pessoal

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