Miss Penitenciária 2017: evento busca a ressocialização das detentas
A Miss Simpatia Karina Randi Massa se emocionou ao receber o prêmio

Miss Penitenciária 2017: evento busca a ressocialização das detentas

Concurso envolvendo presas com bom comportamento movimentou a Penitenciária Feminina de Ribeirão Preto

Já pensou em assistir a um concurso de beleza no qual nenhuma das modelos esteve em um palco, os prêmios são itens básicos como papel higiênico, sabonetes e desodorantes e no final é servido um banquete com coxinha e guaraná?  Esse foi o Miss Penitenciária 2017, que aconteceu nesta quinta-feira, 18, na Penitenciária Feminina de Ribeirão Preto.

O evento é uma força-tarefa que uniu a direção do presídio, a agência de modelos CRC, membros de igrejas e figuras influentes da cidade. O intuito principal do concurso é a ressocialização das detentas, tanto das que participaram dos desfiles quanto das que auxiliaram na organização. O pré-requisito mínimo para participar é o bom comportamento.

“Foi bom para a unidade e bom para o comportamento delas. A expectativa para o concurso fez com que todo o presídio ficasse mais leve. Além disso, melhorou muito a autoestima e a imagem delas enquanto mulheres”, comenta a diretora da penitenciária, Juliana Preti Santiago.

Preparativos

Apesar da superlotação da Penitenciária – o local que tem capacidade para 303 detentas abriga, segundo a contagem realizada no dia do concurso, 437 -, o evento correu dentro do cronograma e da expectativa.

O local escolhido foi um galpão, na ala mais externa do complexo, onde as internas realizam trabalhos manuais durante a semana, além de servir como igreja aos sábados. Por falar em igreja, cerca de 100 membros de uma igreja evangélica de Ribeirão auxiliaram na preparação das modelos e também na confecção do lanche servido aos convidados.

O pastor Pedro Paulo Santos era um dos mais agitados. Ajudava no palco, no lanche, conversa com os guardas e ainda tinha tempo para encorajar as modelos mais nervosas. "Acreditamos que para elas há uma nova vida. Uma nova chance", declara o pastor.

Nas cadeiras de plástico dispostas para a plateia não havia nenhum familiar ou amigo das detentas. Apenas autoridades de Ribeirão, de outros presídios do Estado e alguns convidados das agências. Todavia, a plateia aplaudia com entusiasmo cada participante que subia no palco.

O concurso

A competição escolheu a Miss Penitenciária 2017, duas princesas, que correspondem ao segundo e terceiro lugar, e uma Miss Simpatia, selecionada pelo voto das participantes. A mesa de jurados, que contava com figuras influentes da cidade, como a vereadora Glaucia Berenice (PSDB), o presidente da Câmara, Rodrigo Simões (PDT), a Miss Beleza Gay 2017, Maya Montenegro e o atacante do Botafogo, Edno, foi a responsável pela difícil escolha.

O desfile tinha duas etapas. Na primeira, as concorrentes passaram de maiô e na segunda em traje social. Aos jurados, cabia avaliá-las nos quesitos simpatia, desenvoltura e beleza. Enquanto os desfiles aconteciam, misturavam-se à plateia as agentes penitenciárias e demais funcionários do local.

Alguns desses funcionários torciam, gritavam os nomes das participantes e ainda davam dicas. Como foi o caso da diretora do núcleo de reintegração e saúde, Vanessa Tomaz, que a todo momento dava conselhos. “Sorria”, “Levanta o vestido”, “Vai mais devagar”. “Esse concurso melhorou o astral de toda a unidade", afirma.

Após algumas eliminações, restaram apenas nove candidatas ao prêmio máximo do evento. Contudo, antes de anunciar a grande vencedora da tarde, foi divulgado o nome da Miss Simpatia. A ganhadora foi Karina Randi Massa, que já contava com uma ampla torcida e dispensou o salto alto na hora de receber a faixa.

“Eu não esperava vencer. Olha que é muito difícil eu chorar com qualquer coisa, mas chorei na hora do prêmio”, comenta a detenta que, ao falar o nome, admitiu que quase falou o número do seu código na penitenciária. “É automático, eu já falo o nome e lembro do meu código”.

Karina trabalhava em uma lanchonete antes de ser presa por tráfico de drogas. Atualmente, realiza serviços comunitários limpando parques da cidade. A Miss Simpatia em breve estará de volta à sociedade: em fevereiro ela poderá ver pela primeira vez a neta que nasceu enquanto ela estava detida.

Continuando o evento, era chegada a hora da decisão. Apesar da timidez e do medo do palco, Mayara Cristina foi eleita a Miss Penitenciária 2017. A jovem de 24 anos,  já rouca por comemorar a vitória, comentou sobre a premiação. “Eu nunca participei de um evento desses. Na verdade, já tentei, mas sempre que ia subir no palco eu travava e desistia. Eu quero muito desfilar mais vezes depois que sair”, declara jovem que ainda tem 11 anos da sua pena a ser cumprida por tráfico de drogas.

Agora, o mais novo sonho de Mayara pode, quem sabe, se tornar realidade. Cesar Augusto, representante da agência de modelos que ajudou a organizar o evento, comentou que as participantes podem, sim, sair de lá como modelos, além disso, estuda fazer um book com a vencedora. Toda a sinergia auxilia na ressocialização e na reintegração das detentas à sociedade. 


Fotos: Paulo Apolinário

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