Nascidas no Japão, moradoras de Ribeirão Preto relembram chegada da família ao Brasil
Mitsuo Yamamura e Fumyo Sakamoto, de 93 anos, relembram histórias da família e de superação

Nascidas no Japão, moradoras de Ribeirão Preto relembram chegada da família ao Brasil

Cultura é passada de geração a geração, com participações da família, inclusive, no Festival Tanabata

Neste final de semana, o Festival Tanabata coloca em evidência a cultura japonesa em Ribeirão Preto, mas, no dia a dia, com menos holofotes, o oriente também dá o tom da cidade. Mitsuo Yamamura e Fumyo Sakamoto, ambas de 93 anos, não se conheciam até que os filhos das duas se casaram.  Se antes de fazerem parte da mesma família, as duas já tinham muita história para contar, imagine depois.   

Mitsuo Yamamura e Fumyo Sakamoto

Mitsuo Yamamura chegou ao Brasil com um ano de idade, em 1925. Aqui cresceu, casou-se e teve filhos. Fumyo Sakamoto também construiu a vida em terras brasileiras, depois de desembarcar aqui aos cinco anos.

Dificuldade e superação

Mitsuo veio ao Brasil com os pais e o irmão. A família, no entanto, possuía mais uma filha, que foi impedida de vir. “É uma história triste. Funcionava assim: o governo mandava as pessoas ao Brasil como se fossem escravos de trabalho. O meu bisavô veio para trabalhar em lavouras de café e só podia trazer três pessoas da família. Houve um desentendimento e apenas meus bisavós, minha tia e meu avô vieram. A irmã de minha avó foi obrigada a ficar no Japão. Eles eram da região de Hiroshima. O triste é que, depois da guerra de 1945, a família perdeu o contato. Não se sabe o que aconteceu com a menina depois de um tempo”, fala Tatiane Sakamoto, neta de Mitsuo.

Ela se mudou para Ribeirão Preto depois de se casar. “Eu vim com 10 meses para o Brasil. Meus pais vieram direto para São Paulo para apanharmos café. Eu não andava, então lembro que minha mãe forrava um pano embaixo do pé de café para eu brincar. Viemos por conta do governo. Éramos obrigados a trabalhar por até três anos, se quiséssemos voltar”, diz Mitsuo.

Ela ainda explica que, após dois anos, os pais puderam parar de apanhar café. “Eles foram liberados, mas não conseguiram voltar para o Japão, não tinham dinheiro. Eu nunca fui ao Japão, já tinha toda documentação, mas perto da viagem meu marido morreu. Acabou que eu nunca voltei”, fala.

Mitsu é a bebê de colo. A criança com o rosto riscado ficou no Japão e perdeu o contato com a família

Terra nova

Com a perspectiva diferente, Fumyo Sakamoto veio ao Brasil acompanhada da família. Entretanto, foi por vontade própria que fizeram a viagem. “Do Japão, eu fui para Minas Gerais, onde tínhamos primos fazendeiros. Meu pai era rico na Ásia, mas ele veio, pois queria ser igual ao primo que já estava aqui. Por sorte, escapamos da guerra”, conta.

Fumyo explica que, no Brasil, foi alfabetizada em duas línguas. “Falo português e japonês. Estudei na escola dos dois idiomas. Lembro que na minha casa ninguém falava o idioma o local, então era importante saber os dois para se comunicar”.

Fumyo teve a oportunidade de conhecer o país asiático. “Fui duas vezes. A última foi no início dessa década. Eu já estou acostumada aqui. Lá eu teria de começar novamente, fazer os amigos. Aqui tenho família e tudo. Lá no Japão nós temos parentes, mas não temos contato, é como se fossemos estranhos”.

Gerações

Tempurá de frutas é a novidade do Tanabata Nessa última sexta-feira, 6, a cultura da família de Mitsuo e Fumyo foi passada adiante: filha e nora das japonesas, Miriam Fumiko Yamamura participou do Festival Tanabata. Ela desenvolveu um alimento de origem japonesa, mas criado ao gosto do brasileiro.

A sobremesa está disponível no evento. “Vai ter tempurá de sorvete e a novidade é que são os de frutas. É a mesma massa do que é feito com legumes. Vai ter de banana e maçã e é a primeira vez deste no Brasil”, explicou a neta das japonesas, Tatiane.



 

 


Foto: Arquivo Pessoal e Pedro Gomes

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