Professora que atua em Ribeirão é referência nacional sobre crise na Venezuela
Carolina Silva Pedroso estuda há 12 anos o país vizinho

Professora que atua em Ribeirão é referência nacional sobre crise na Venezuela

Docente da Unaerp já participou de 17 matérias desde o início do ano

A professora Carolina Silva Pedroso, da Universidade de Ribeirão Preto (Unaerp), se tornou referência no noticiário nacional quando o assunto é a crise na Venezuela. Doutora em relações internacionais, Carolina estuda há 12 anos a situação do país comandado pelo questionável líder, Nicolás Maduro.

Formada em Relações Internacionais pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (Puc-SP), Carolina é mestra e doutora pelo programa de pós-graduação em Relações Internacionais San Tiago Dantas (Unesp, Unicamp e Puc-SP). Natural de São Paulo, faz parte do quadro docente do curso de Relações Internacionais da Unaerp desde 2018.

A capacidade de explicar temas polêmicos e complexos com uma linguagem fácil e acessível, fez com que Carolina já participasse de 17 matérias jornalísticas desde o início do ano. O aumento no número de entrevistas tem relação com o acirramento da crise política e humanitária na Venezuela.

Em meio a uma eleição polêmica, com acusações de fraude por observadores internacionais, Nicolás Maduro se reelegeu. Treze dias depois, o presidente da Assembleia Nacional, Juan Guaidó, se autoproclamou presidente interino da Venezuela, exigindo que novas eleições fossem convocadas. A presidência de Guaidó foi reconhecida por 50 países, dentre eles Brasil, Estados Unidos, França, Canadá e o Reino Unido.

Bagagem

Com a dissertação de mestrado intitulada “Os projetos regionais de Brasil e Venezuela para a América do Sul nos anos Lula da Silva”, e com a tese de doutorado “Entre o bolivarianismo e a adesão à hegemonia: as relações de Venezuela e Estados Unidos durante o chavismo”, a professora reuniu bagagem para realizar análises sobre os três principais atores políticos nesta crise: Venezuela, Brasil e Estados Unidos.

O objetivo inicial do doutorado da professora era entender porque durante o Chavismo a Venezuela se colocou politicamente como uma inimiga dos Estados Unidos, mas porque não houve mudança na relação comercial entre eles. “Ao contrário, eles se tornaram cada vez mais dependentes um do outro do ponto de vista do comércio petroleiro”, explica Carolina.

A professora esclarece que durante os quatro anos e meio de pesquisa, que contemplaram também uma viagem de 15 dias para a Venezuela, a disputa ideológica entre os dois países serviram para fortalecer ambos os lados políticos.

“Essa inimizade política servia de interesse tanto do chavismo, para criar um inimigo externo para justificar debilidades internas, quanto para a oposição. Vários líderes oposicionistas surgiram por intermédio de financiamento do partido Republicanos dos Estados Unidos, incluindo o próprio Juan Guaidó´”.

Ditador ou presidente?

Para Carolina, o termo “Ditadura” para descrever o governo Maduro pode cometer alguns erros do ponto de vista da ciência política, a professora prefere a alcunha de “autocrata”. Segundo ela, ditadura é quando se tem o fechamento do parlamento, quando o presidente reúne em si todos os poderes, entre outros fatores.

“Podemos chamar o Maduro de um autocrata.  Ele exerce o poder de maneira autoritária, embora possua certa legitimidade democrática. Ele foi eleito em 2013, quando houve uma legitimidade, e reeleito em 2018, quando surgiram várias dúvidas”, pondera.

Posicionamento do Brasil

Carolina explica que o posicionamento brasileiro em relação à Venezuela é conturbado. A especialista em relações internacionais relembra que durante a transição do governo de Fernando Henrique Cardoso para o de Luís Inácio Lula da Silva, o Brasil possuía o poder de diálogo e era visto como “confiável”, inclusive pela oposição venezuelana.

Já nos anos de 2010 a situação mudou um pouco. “A Dilma possuía uma característica muito técnica na política externa. Ela não atuava de maneira estratégica e deixava o Itamaraty ‘tocar o barco’. E o Itamaraty tem esse perfil de mediação. Então ainda que tenha perdido o protagonismo, o Brasil conseguia, de certa forma, apaziguar os ânimos na Venezuela”, explica.

Por fim, a professora salienta o momento de transição do posicionamento da política externa brasileira vista como “conciliadora” para “opositora” do governo de Maduro. “Durante o governo Temer, a nomeação tanto do Serra quanto do Aloysio Nunes, mostrava uma postura muito mais crítica quanto ao governo venezuelano. Já no governo Bolsonaro, apesar da cúpula política do governo ser ideologicamente contrária, temos os militares como principais articuladores e conciliadores da crise. São duas posições distintas do governo brasileiro”, conclui.


Imagem: Rede Globo / BandNews

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