Mulheres que inspiram: Cristiane Heredia

Mulheres que inspiram: Cristiane Heredia

Cristiane Heredia Sousa é graduada em Direito, Especialista em Direito e Processo do Trabalho, Mestre em Direito – Cidadania e Diretos Coletivos

Graduada em Direito, Especialista em Direito e Processo do Trabalho, Mestre em Direito – Cidadania e Diretos Coletivos, Cristiane Heredia Sousa pretendia exercer uma outra profissão na juventude. “Prestei o vestibular para Jornalismo. A ideia era trabalhar no segmento investigativo, como forma de colaborar por um mundo mais justo, ético e evolutivo. Mas, após alguns meses, percebi que poderia fazer mais se atuasse na área do Direito. Então, me transferi de curso e não me arrependo. Me tornei advogada, escritora e professora de Direito e me realizo muito nessas atividades. O Direito é uma carreira difícil, mas é linda e essencial por natureza! O Direito permeia a vida das pessoas em inúmeros aspectos e deve ser meio de pacificação social”, afirma.

No decorrer de sua trajetória até aqui, ela vem fazendo parte, ativamente, de um movimento de transformação no ambiente jurídico. “No meu curso de graduação, por exemplo, eram mais formandos e professores homens do que mulheres, assim como ocorria em cargos de gestão e gerência jurídica de empresas, em grandes escritórios de advocacia, juízes, promotores, autores de livros, entre outros. A mudança do paradigma dessa predominância vem, de fato, ocorrendo, ainda que não na velocidade desejada. Vários são os tribunais em que ainda há predominância masculina de desembargadores e ministros, tais como no STF, STJ, TST e TJSP”, pontua.

Cristiane compartilha outros dados para exemplificar a questão. “A Dra. Ellen Gracie foi a primeira mulher nomeada para o cargo de ministra no STF e isso ocorreu muito recentemente, considerando que a primeira mulher que obteve autorização para advogar no Brasil se formou em 1898. Apenas em 1997 foi abolido o uso obrigatório de saias ou vestidos para advogadas nos tribunais. Esse ano de 2022 foi a primeira vez em que uma mulher foi eleita para o cargo de presidente da OAB/SP, mas nunca uma mulher foi eleita para a presidência nacional da OAB”, argumenta. 

Para a advogada, o machismo estrutural, assim como estigmas e “funções típicas” atribuídas às mulheres, são sempre obstáculos a serem vencidos, através da melhora na qualidade cultural, educacional e de garantias de respeito e igualdade em uma sociedade. “Essas mudanças envolvem políticas públicas e movimentos da sociedade civil, e pela luta árdua das mulheres que nos antecederam, em um ciclo cônico de constante evolução. Ademais, vem crescendo de forma muito satisfatória a sororidade, ou seja, uma posição de irmandade, empatia, solidariedade, admiração e acolhimento entre as mulheres, fortalecendo o ideal de conquista de espaços e respeito para todas”, acrescenta.

Ao fazer essa breve retrospectiva, Cristiane se sente privilegiada. “Cresci em uma família de mulheres fortes, justas, amorosas, éticas e lutadoras, e de homens companheiros, na qual sempre imperou o amor, o incentivo ao estudo e a busca para realização de qualquer sonho. Meu filho Pedro, que compartilha desses valores, se tornou um incrível parceiro no ativismo de defesa dos direitos das mulheres. Estudei basicamente em escolas públicas, e tive a felicidade de ter sido sempre incentivada por magníficos professores a nunca parar de estudar, pois não há limites que possam ser impostos por outros aos nossos sonhos e realizações. Recebi muito apoio ao longo da vida, e sou muito grata por isso. Aquela menina foi a semente da mulher que publicou artigos científicos no Brasil, Portugal e na Espanha. A todas é possível tudo, bastando haver oportunidade”, declara. Seguindo essa paixão pelo estudo, o novo projeto da advogada é o doutorado, cuja proposta de pesquisa é sobre as “janelas” de espaço para realização pessoal de mulheres como elemento necessário de cidadania e dignidade.

Quem me inspira...

Aracy Moebius De Carvalho Guimarães Rosa, única brasileira homenageada no Jardim dos Justos entre as nações. Enquanto trabalhou no Consulado Brasileiro na Alemanha, em segredo, conseguiu liberar vistos para judeus fugirem da perseguição nazista. Quando indagada sobre o motivo de suas ações arriscadas, respondeu simplesmente: “Porque era justo”.


Foto: Lidia Muradás

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